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5 empresas que ajudam resolver problemas do Sudeste

Conheça cinco empresas emergentes cujos negócios estão ajudando a resolver os principais problemas da região

Mayra Louzada, da Plura Consultoria de Recursos Humanos: mais de 100 funcionários com operações nos quatro estados da Região Sudeste  (Daniela Toviansky / EXAME PME)

Mayra Louzada, da Plura Consultoria de Recursos Humanos: mais de 100 funcionários com operações nos quatro estados da Região Sudeste (Daniela Toviansky / EXAME PME)

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Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2014 às 18h45.

São Paulo - Nos quatro estados que formam a Região Sudeste, é possível encontrar boa parte do que há de melhor no país — e também do que há de pior. Nos arredores das principais metrópoles da região, por exemplo, estão instalados parques industriais bem equipados e desenvolvidos — mas também se concentra metade das favelas brasileiras.

Os estudantes do Sudeste alcançam as melhores notas em avaliações nacionais — por outro lado, quase um quarto da população jovem ainda está fora da escola. Na saúde, a região possui os mais altos índices de médicos e leitos por habitante — mas é a que registra a maior taxa de mortalidade por doen­ças transmissíveis no Brasil.

“O Sudeste é o retrato de um país que se desenvolveu, mas ainda tem muitas carências”, diz Gabriel Nickolas Cazotto, pesquisador sênior da consultoria Deloitte que, a pedido de Exame PME, analisou 166 indicadores feitos por 29 instituições para apontar os principais desafios das cinco regiões brasileiras.

A reportagem que traz o Sudeste na capa da revista Exame PME é a primeira de uma série de cinco especiais que fazem parte do movimento Sou Empreendedor — Meu Sonho Move o Brasil de 2014. O movimento, uma iniciativa de Exame PME criada para mostrar a importância do empreendedorismo para levar o país adiante, está em seu segundo ano.

Além das reportagens na revista, estão sendo organizadas atividades de networking e encontros para discutir como os negócios emergentes podem se desenvolver ao ajudar a resolver os principais entraves regionais.

A matéria mostra cinco donos de pequenas e médias empresas que estão procurando — e encontrando — respostas para questões fundamentais nas áreas de educação, habitação, inclusão social, saúde e sustentabilidade urbana na região que concentra metade das riquezas produzidas no Brasil. Conheça suas histórias.

Ajuda para achar o emprego certo

Para o paulistano Eduardo Ramos Andrade, de 30 anos, o fim de um dia de trabalho traz uma sensação de vitória. Andrade tem uma deficiência intelectual moderada, que compromete sua capacidade de leitura e de cálculo. Quando frequentava a escola regular, ele se sentia mal por não conseguir acompanhar o resto da turma.

As coisas melhoraram poucos anos atrás, depois que Andrade fez alguns cursos na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Lá, ele aprendeu a se comunicar melhor e a seguir regras de convivência no ambiente de trabalho.

Agora, Andrade está trabalhando como repositor de produtos nas seções de esportes e de móveis para banheiro de um supermercado da rede Extra na zona leste de São Paulo. Está lá desde o ano passado. Com o salário, Andrade paga algumas contas da casa onde vive com a mãe, no bairro Itaim Paulista, e ajuda a sustentar seu filho, João Vitor, de 3 anos. “Aqui meu trabalho é importante”, diz.

Histórias assim são a razão de ser da paulistana Plura, agência de empregos que encaminha pessoas com deficiência ao mercado de trabalho — e uma realização de vida para a administradora Mayra Louzada, de 30 anos, sócia da empresa. “Tenho o maior orgulho da Plura”, diz Mayra.

Os clientes são empresas com mais de 100 funcionários — como o Grupo Pão de Açúcar e a Net —, que precisam reservar até 5% das vagas para pessoas com deficiência. “As vagas são obrigatórias por lei, mas não é fácil preenchê-las”, diz Mayra.

Além de serviços de recrutamento e seleção, a Plura presta consultoria para empresas que precisam adaptar seus espaços físicos às regras de acessibilidade, faz mapeamento de cargos que podem ser ocupados por pessoas com deficiência e elabora projetos para que elas se sintam estimuladas e não sejam atraídas para trabalhar na concorrência.

A Plura ainda oferece cursos para melhorar o desempenho dos funcionários, como português para surdos, libras e noções de contabilidade. “Algo em torno de 20% de nosso faturamento vem desses treinamentos”, diz Mayra. Em 2014, a empresa deve alcançar de 2 milhões de reais em receitas — 5% mais do que em 2013. A maior parte das vagas preenchidas com ajuda da Plura está no Sudeste — região onde apenas um quarto das pessoas com deficiência acima de 18 anos está trabalhando regularmente.

O mundo encantado da matemática

Mais de 100 crianças do 5o ano da Escola Estadual Professor Reynaldo Porchat, localizada no bairro paulistano do Alto da Lapa, estão envolvidas em peripécias de outro mundo. A bordo de um balão, elas precisam ultrapassar o farol de Faros e dominar Tesla e Alegra, duas ilhas que compõem o arquipélago de Insulam.

Esse mundo fantástico é o ambiente do Ludz,­ jogo que auxilia professores da rede pública a ensinar matemática a alunos do ensino fundamental. Para avançar nas fases do jogo, o aluno resolve problemas de geometria, de probabilidade e de lógica. Conforme acerta, o jogador junta neurons, que usa para comprar roupinhas para seu avatar. No início de maio, Caroline Kathleen Rodrigues da Rocha, de 10 anos, liderava o ranking da turma. “Presto muita atenção às explicações”, diz Caroline.

O Ludz foi desenvolvido pela Tamboro, empresa carioca fundada em 2011 pela engenheira Samara Werner, de 47 anos, quando ela trabalhava no Instituto Oi Futuro, braço da empresa de telefonia Oi para projetos de cultura, ensino e sustentabilidade. Ela se reunia com seis colegas (três deles hoje seus sócios) para criar programas voltados para educação. “Usar tecnologia na aula deu certo em vários países”, diz Samara. “Tivemos, então, a ideia de criar a Tamboro para fazer jogos virtuais educativos.”

O Ludz permite que os professores sigam o desempenho de um determinado aluno enquanto ele faz um exercício. Dá para saber também quantos acharam a resposta para um problema que requer saber frações ou calcular o volume de um sólido. Informações dessa natureza ajudam a planejar aulas. “Os indicadores são uma boa pista para decidir a que capítulos da matéria devemos dedicar mais tempo e quais alunos precisam de ajuda”, diz Silvia Llamazalez Ou, professora de matemática de Caroline.

Quem examinar as estatísticas do ensino brasileiro vai encontrar uma contradição no Sudeste. O gasto por aluno do ensino fundamental e a proporção de adultos com ensino superior completo são mais altos do que em todas as outras regiões. Mas, proporcionalmente, o Sudeste tem menos professores com diploma universitário dando aula no nível básico do que no Centro-Oeste e no Sul. Entre 2007 e 2012, essa proporção cresceu apenas 5 pontos percentuais — o menor avanço entre todas as regiões.

Esse é um dos motivos que dificultam a melhoria da qualidade das aulas numa fase em que os alunos precisam tanto delas para enfrentar o vestibular. Por isso, aumentar o rendimento em sala de aula é tão importante — e é aí que entram ferramentas como a da Tamboro.

“O aluno se engaja na busca de respostas, e a todo instante surgem novas dúvidas”, diz Marcia Padilha, uma das autoras do livro Inovação Tecnoeducativa: Um Olhar para Projetos Brasileiros. “Ao longo do tempo, essa lista de dúvidas acaba funcionando como um roteiro para o professor que quer melhorar sua didática.”

Desde que começou a testar sua tecnologia, na metade de 2012, a Tamboro tem atraído a atenção de fundos de investimento. Nos últimos dois anos, a empresa conseguiu aportes do carioca Leblon Equities e do paulista Vox Capital, especializado em negócios que geram impacto social.

“A plataforma da Tamboro pode interessar tanto a escolas públicas quanto a particulares”, diz Daniel Izzo, sócio do Vox Capital. “O jogo pode ganhar muita escala e mudar a forma como se aprende matemática.” Atualmente, a Tamboro está fechando contratos com dez secretarias de Educação. “Devemos fechar o ano com receitas de 4 milhões de reais”, diz Samara.

Mais rapidez no diagnóstico

Votuporanga, no noroeste paulista, está em estado de alerta. De janeiro a abril, quase 2 000 moradores — 1 a cada 50 — contraíram dengue. Foi um aumento de 35% em comparação com o ano passado inteiro. Somente num quarteirão do bairro Jardim Morini, na zona norte da cidade, 11 pessoas ficaram doentes. Uma mulher de 46 anos não resistiu e morreu.

Com o sobressalto, a busca de serviços de saúde aumentou muito. “Os pedidos de exames para diagnosticar dengue triplicaram desde fevereiro”, diz o farmacêutico Rafael Micelli, de 31 anos, diretor do Laboratório Denizar, um dos mais tradicionais da cidade.

Para dar conta do súbito aumento de demanda, os funcionários do Denizar têm usado kits da OrangeLife, empresa carioca que faz testes para diagnóstico rápido de doenças infecciosas, transmissíveis e metabólicas.

O teste de dengue da OrangeLife demora não mais que 10 minutos para ficar pronto — basta pingar algumas gotas de sangue do paciente numa lâmina e esperar que a reação revele se o vírus que causa a doença está ou não no organismo.

Tem sido uma boa alternativa aos exames tradicionais, em que uma amostra de sangue é analisada por uma máquina que identifica se o nível de plaquetas está normal ou não. “É um processo mais complexo”, diz Micelli. “Com os kits é possível atender muito mais gente.”

O fundador da OrangeLife é o médico Marco Collovati, um italiano de 45 anos que chegou ao Bra­sil­ na metade da década de 90 e trabalhou por dois anos como voluntário na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Nessa época, Collovati ficou horrorizado com o número de vítimas que doen­ças já controladas na Itália ainda faziam no Brasil. “Vi muita gente morrer por causa de doenças como dengue, hanseníase e leishmaniose”, diz Collovati.

Collovati conheceu a tecnologia dos testes rápidos no começo dos anos 2000, quando representou no Brasil uma empresa americana que vendia os kits. Mais tarde, em 2010, decidiu reunir um grupo de especialistas em biotecnologia para fabricar esse tipo de exame no país.

Assim nasceu a OrangeLife. No ano passado, a empresa faturou 14,4 milhões de reais — quatro vezes mais do que em 2012 —vendendo 25 tipos de teste. Seus clientes são distribuidores de produtos médicos que atendem hospitais públicos, clínicas particulares e laboratórios de todo o Brasil.

Cerca de 70% das receitas da OrangeLife vêm do Sudeste. A região tem a maior taxa de mortalidade por doenças transmissíveis. A dengue é uma delas, e uma das mais difíceis de combater num lugar com alta concentração de cidades populosas. Muita gente fica surpresa de saber que é no Sudeste, a região mais rica do país, onde se morre mais por uma doença que até décadas atrás era vista como sinônimo de lugar pobre.

Mas as cidades mais ricas são também as que atraem mais gente com maior poder de consumo. Hoje em dia consumir virou sinônimo de produzir muito lixo. Se o lixo ficar jogado por aí — que é o que acontece quando não há planejamento adequado para lidar com o entulho —, o mosquito que transmite a doença se reproduz com facilidade.

“A única solução para o problema da dengue seria uma vacina contra o vírus, mas isso ainda está em testes”, diz o médico Gonzalo Vecina Neto, superintendente do Hospital Sírio-Libanês e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP. “Enquanto a vacina não chega, qualquer ação que ajude a combater e a diagnosticar a dengue mais rapidamente é importante para controlar a doença.”

Recentemente, a OrangeLife lançou um aparelho que envia os resultados dos testes para uma central de monitoramento que pode identificar a presença de um surto antes de virar epidemia. No caso de Votuporanga, por exemplo, a central teria identificado que o número de pessoas testadas aumentou de repente.

“Isso poderia ser um indicador de que ali havia um possível foco”, diz Collovati, que está negociando com algumas cidades de Minas Gerais. “Espero que meu produto ajude a elaborar políticas de saúde pública”, diz Collovati.

Menos gastos com a conta de luz Sollider

A mineira Marilene Aparecida Moreira, de 42 anos, está louca para que o fim do ano chegue logo. É quando ela deve pintar a casa, que fica em Florestal, cidade perto de Belo Horizonte. A casa onde Marilene mora com o marido, Valdino Ribeiro de Souza, de 57 anos, não é ruim — tem sala, cozinha, banheiro e dois quartos.

Mas o aspecto não está bom. As paredes, por exemplo, estão só com reboco. “A casa está escura, precisando de uma pintura por dentro”, diz Marilene. Ribeiro e Marilene são simples. Ele é jardineiro. Ela cuida de idosos. Juntos, ganham 1 500 reais por mês. “Moramos há oito anos aqui e só agora conseguimos juntar dinheiro para a pintura”, diz Marilene.

O casal representa uma estatística ruim para o Sudeste. Segundo a Fundação João Pinheiro, vinculada à Secretaria de Planejamento de Minais Gerais, 1 milhão de casas na região são ocupadas por famílias que ganham até três salários mínimos mensais e gastam mais de 30% da renda para morar decentemente.

A família de Marilene diminuiu uma parte da despesa depois de 2012. Desde então, a conta de luz, que era de 160 reais mensais em média, baixou para a metade. A economia veio depois que Marilene mandou instalar no telhado um aquecedor solar para o chuveiro — o maior vilão da conta alta. “Deu para guardar quase 2 000 reais”, diz Marilene. “Já é suficiente para comprar tinta.”

O aparelho foi feito pela Sollider, de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. “Ele foi pensado para as famílias que formam a maior parte da população”, afirma o empreendedor João Paulo de Carvalho, de 30 anos, que fundou a Sollider com o irmão e dois sócios.

As receitas da Sollider foram de 1,8 milhão de reais em 2013 — 15% acima de 2012. Carvalho investiu nesse mercado depois de trabalhar oito anos num fabricante de aquecedores destinados a famílias de classe alta. “A ideia que as pessoas que mais precisavam economizar com luz eram justamente aquelas que não podiam comprar um aquecedor solar me incomodava”, diz ele. “Criamos um modelo simples e acessível.” 

Caronas por celular nas grandes cidades

O advogado Heitor Roberto Maia, de 24 anos, não tem carro. “Não vou pôr mais um automóvel na rua”, afirma. Ele mora a 10 quilômetros do escritório, no bairro do Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro. Maia tinha cinco opções para ir de um lugar ao outro — a pé, de metrô, de ônibus, de bicicleta e de táxi.

A primeira: “A pé nem pensar. É muito longe”. A segunda: “Ônibus é um inferno no calor. E tenho de usar roupa social”. A terceira: “A estação de metrô mais próxima fica a mais de 3 quilômetros do escritório”. A quarta: “Posso usar bicicleta só na volta, quando está mais fresco”. A quinta: “O táxi resolve, mas fica caro”. Pois é.

Há pouco mais de dois meses, Maia descobriu mais um jeito — pegar carona com desconhecidos por meio do aplicativo Zaznu, que ele baixou em seu celular. Maia clica no botão e tem acesso a um mapinha com os carros mais próximos de quem quer dar carona. “Quase sempre tem alguém”, diz. “Uso pelo menos três vezes por semana.”

A Zaznu, que desenvolveu o aplicativo, foi criada pelo empreendedor Yonathan Faber, de 28 anos. Ele se inspirou em ferramentas como o Lyft, que dá bigodes enormes de pelúcia cor-de-rosa para os motoristas de São Francisco pendurarem na frente do carro e indicar que estão a fim de dar carona. “Morei dois anos lá e era adepto do sistema”, diz Faber. “O tráfego de carros nos horários de pico caiu 3,5% .”

Para participar, o motorista envia cópias dos documentos pessoais e do carro e faz uma entrevista. O caronista preenche uma ficha e cadastra um cartão de crédito. Ao final da viagem, o caroneiro entra no aplicativo para avaliar o motorista e decidir se ele merece ganhar alguma coisa. Em caso positivo, a ferramenta sugere um valor, de acordo com o tempo e a distância da viagem — para 1 hora, costuma ser de 45 a 60 reais. O dinheiro é debitado do cartão de crédito que foi cadastrado. A Zaznu fica com 20%.

Três das caronas para Maia — o advogado que se recusa a ter o próprio carro — foram oferecidas pelo estudante Pedro Paulo Milanez, de 31 anos, dono de um Ford Ka preto. Milanez mora na zona norte. “Vou para a zona sul e no caminho sempre alguém precisa de carona.” Vai aqui, vai ali, Milanez chega a arrecadar 400 reais por semana.

Mais de 80% dos 50 000 usuários do Zaznu estão em metrópoles do Sudeste, onde há um mundo de automóveis e de gente — e uma coisa não encontra a outra. Dados do IBGE e do Departamento Nacional de Trânsito dizem que, das dez cidades com a maior proporção de carros por habitante, nove estão no Sudeste. Boa parte leva só o dono.

Na cidade de São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego estima que a ocupação média seja de 1,4 pessoa. O tráfego é um pesadelo, sobretudo para um quinto dos moradores da região, que chega a levar 2 horas de casa ao trabalho. “Muita gente poderia deixar o carro em casa e ir com alguém que vá para o mesmo lado se uma pessoa souber da existência da outra”, diz Faber.

“O Zaznu faz isso acontecer.” Faber diz que o faturamento da empresa deve ser de 10 milhões de reais neste ano. A Zaznu tem seus desafios. O sistema pode ser questionado na Justiça com o argumento de que motoristas comuns não podem cobrar para levar passageiros porque não têm licença. “Não é pagamento. É uma doação”, diz Faber. “Se o passageiro não quiser contribuir, o motorista não pode fazer nada.”

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