Ideia: é fundamental acompanhar as tendências, olhando para diversas áreas para descobrir o que está em alta (Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 3 de setembro de 2015 às 11h23.
São Paulo - Rebeca de Moraes é uma pesquisadora de oportunidades de negócio e tendências da agência inglesa TrendWatching no escritório de São Paulo, onde coordena os estudos sobre a América Latina e participa da elaboração das pesquisas globais da empresa. Formada pela Faculdade Cásper Líbero, ela atuou na imprensa por dez anos e especializou-se na cobertura de negócios, consumo e mercado de luxo. Rebeca também é cofundadora do SP Honesta, site que divulga lugares bons e que cobram preço justo na cidade.
Rebeca destaca que a nova tendência de consumo não é moda nem tecnologia, mas sim um novo jeito, comportamento, atitude ou expectativa que os consumidores encontraram para manifestar uma necessidade ou desejo.
Um grande exemplo é o Airbnb: quais expectativas ele atende? A autenticidade, acessibilidade (plataforma simples onde você determina o quando quer e pode pagar) e a possibilidade de conhecer pessoas. Depois dessa iniciativa, houve uma mudança nas expectativas dos clientes e, por isso, os hotéis precisaram mudar e pensar mais sobre originalidade. Isso é inovação. Outro exemplo é o Uber, que passou a oferecer um serviço diferente dos táxis comuns e por isso tem gerado toda essa dicussão.
Após o consumidor ter uma experiência com determinada marca ou produto, ele leva certa expectativa na hora de experimentar outra marca. Se a sua marca ou produto não inovar na medida em que seu cliente espera, você vai ficar defasado. É fundamental acompanhar as tendências, olhando para diversas áreas para descobrir o que está em alta.
As mulheres são responsáveis pela renda de 1 trilhão de reais e 80% das decisões de compra, mas 65% delas não se identificam com a publicidade e pela forma como são retratadas nas campanhas.
Um exemplo disso é a figura da mulher em propagandas de cervejas que, em sua maioria, aparecem com roupas curtas, segurando bandejas e sempre expondo seu lado sensual. As mulheres não bebem? Então por que as propagandas são voltadas para os homens?, argumenta Rebeca.
Grande parte da publicidade é feita a partir da ótica masculina, e esse é um grande problema que ainda enfrentamos. Por que considerar estereótipos se os eliminando vamos atingir e atrair muito mais clientes? Rebeca afirma que os empreendedores podem mudar essa situação, pois quem lidera uma empresa tem um ambiente muito mais propício à inovação. Veja abaixo exemplos de iniciativas que foram criadas utilizando a tendência (F)empowerment.
Ana Luisa Monteiro, de 26 anos, passou por uma situação embaraçosa com um entregador de botijões de gás. Enquanto ele fazia a entrega começou a questionar se ela estava sozinha em casa e se algum homem morava ali. Ana Luisa só ficou tranquila quando o entregador foi embora de sua residência. Após o ocorrido, Ana refletiu sobre a falta de serviços feitos por mulheres, já que os que os trabalhos de reparo doméstico, por exemplo, são feitos majoritariamente por homens e, em muitos casos, receber um funcionário estranho em casa traz desconforto à mulher, principalmente quando ela está sozinha.
Pensando em tudo isso, Ana Luisa decidiu mudar essa realidade e criou um serviço feito de mulher pra mulher, o Mana, uma forma de inserir as mulheres no mercado de trabalho em áreas que são pouco representadas, como em tarefas residenciais na parte elétrica e hidráulica. Desde então, ela já trocou resistência de chuveiro, arrumou descarga e fez reparos elétricos utilizando todo o aprendizado que pegou com o primo e o avô.
E se, ao sair para jantar, você descobrisse que os homens precisam pagar 30% a mais pelo mesmo prato que uma mulher? Foi isso que o restaurante Ramona propôs com o Menu Injusto. Uma câmera escondida gravou a reação dos clientes onde homens e mulheres reclamavam que a diferenciação entre os gêneros era um absurdo ou uma injustiça. Em resposta eles recebiam um bilhete com a seguinte mensagem No Brasil, as mulheres recebem em média 30% a menos para desempenhar a mesmas funções. Isso sim é injustiça.
Cerveja feminista: cansadas das propagandas machistas de cervejas, um grupo de publicitárias resolveu lançar a Cerveja Feminista Red Ale.
Esse foi o jeito que elas acharam para colocar o feminismo na mesa. A gente não quer só vender cerveja, a cerveja é um modo de levar nosso produto à discussão afirma Maria Guimarães, uma das criadoras. Veja o vídeo da iniciativa!
Budweiser: a marca usou a lutadora de UFC Ronda Roussey como garota propaganda, ressaltando toda a sua força e determinação.
https://youtube.com/watch?v=cMjVHaVD-3k
Portando, é importante pensar em alguns temas: incluir diversidade abraça consumidores que hoje não são representados. Como empoderar usando mais que o discurso da beleza? Como sua marca pode ajudar as mulheres a conquistarem seus objetivos?
Outra tendência é o Betterment, em que se aplica um olhar mais humano para o consumo. Em vez de olhar para os clientes pensado em qual tecnologia usar, ele olha para as necessidades que fazem o cliente buscar essa tecnologia.
A Vivo lançou um aplicativo que permite que os pais configurem seus celulares e tablets para só desbloquearem para os filhos caso eles respondam perguntas educacionais corretamente.
Com a proposta de promover um trânsito mais seguro, a Fiat e a Use Taxi criaram uma campanha com a instalação de dispositivos Wi-Fi em alguns carros da frota. Eles vinham com um sensor que detectava quando os cintos de segurança no banco de trás fossem afivelados. Identificado o uso dos cintos a rede gratuita era acionada para os passageiros se manterem conectados durante toda a viagem.
Sobre essa tendência, é importante pensar: ela é dois em um, porque ajuda a atingir metas e dá facilidade de compra. Como você pode melhorar a vida de clientes oferecendo recompensas? Com quais marcas ou produtos seus clientes gostariam que você fizesse uma parceria?
Outra tendência é o sympathetic pricing – descontos criativos. É preciso se preparar para uma onda de descontos criativos que aliviam problemas ou oferecem ajuda em tempos difíceis
Nos EUA, uma lavanderia oferecia lavagem de graça para um desempregado que tivesse uma entrevista de emprego. Se você está desempregado e precisa de uma roupa limpa para uma entrevista, a gente lava DE GRAÇA.
A editora Lote 42 criou uma promoção durante a Copa em que oferecia 10% de desconto por cada gol que o Brasil levasse. O que eles não esperavam era o 7×1 da Alemanha. Sim, eles cumpriram o prometido e deram 70% de desconto nas compras de seus livros. Toda essa campanha gerou uma divulgação gigantesca para a marca, que ganhou destaque até na mídia internacional. Devido ao sucesso, eles chegaram a repetir a promoção de 70% para determinados livros.
É importante saber como usar as informações dos seus clientes para criar descontos criativos. Uma dica é ficar ligado nas redes sociais e nos assuntos do momento.
Outra tendência é transparency triumph – as pessoas estão desapontadas por empresas opacas e pouco confiáveis e instituições corruptas. Consumidores na América do Sul e Central estão naturalmente desconfiados quando vão interagir com uma marca, mesmo aquelas que já conhecem há muito tempo. Em 2013, 73% dos consumidores brasileiros queriam que as marcas fossem transparentes sobre a origem e fabricação dos produtos. Em 2014, esse número foi de 84%. Veja alguns exemplos que usaram essa tendência:
Hellmann’s: criou a campanha Vamos Plantar, na qual, durante dez dias, uma das fazendas fornecedoras dos tomates do ketchup da marca ficou aberta para uma visita virtual. A plataforma online disponibilizava diferentes atividades como irrigar as mudas, conferir detalhes das plantas e colocar seu próprio nome em uma delas, por exemplo.
https://youtube.com/watch?v=1IxIECvVLSw
Apartamento 61: a loja de objetos vintage acredita que é possível contribuir para um sistema econômico mais justo por meio de pequenos atos cotidianos com consciência social. Para evitar preços abusivos eles trabalham com mark-ups predefinidos e deixam claro qual é o lucro obtido em cada peça que vendem.
Eleições transparentes: a intenção do projeto é mostrar quais são os candidatos e partidos que solicitaram remoção de conteúdo em portais, redes sociais e ferramentas de busca.
É preciso pensar: como você está comunicando o processo de produção e a história da sua marca? O que está dizendo aos clientes sobre você? Como sua empresa pode ajudar a revelar transparência sobre outros serviços e produtos? Mostrar falhas pode ser bom: ser honesto sobre erros do passado pode melhorar a sua imagem.
Outra tendência é o city connection – mais urbanização significa muito trabalho, pouco tempo livre e menos interação. O número de brasileiros que vivem sozinhos cresceu 35% entre 2004 e 2013. Hoje, as pessoas estão conectadas 24 horas por dia com seus smartphones e estão aprendendo a gerenciar o tempo entre online e off-line. As pessoas não querem se desconectar: é um caminho sem volta. Por isso, precisamos de ações que funcionem.
A marca de biscoitos Zezé, do Rio Grande do Sul, criou uma campanha com o intuito de fazer novas amizades entre desconhecidos nos ônibus da cidade de Pelotas. Um adesivo colado nas janelas do veículo diz: Assento preferencial para novas amizades: ocupando este lugar estarás disposto a uma boa conversa. Junto com o adesivo, post-its com algumas ideias sobre o que conversar, caso falte assunto, como comida favorita, futebol, novela, entre outras. A ideia é tirar o lugar do smartphone e promover o diálogo ao vivo.
Mesa livre: a intervenção tem como objetivo incentivar as pessoas a dividirem a mesa do bar ou restaurante com a vantagem de liberar mais espaço para os clientes e, ainda, promover o surgimento de novas amizades.
A marca Durex fez uma campanha no Twitter em que juntava pessoas que compartilhassem o emoticon de coração partido, com a intenção de fazer um novo match.
https://youtube.com/watch?v=d8OA5BRBHgY
É importante pensar que tipo de conexão os clientes querem aperfeiçoar e que tipo de conexão tem a ver com a sua empresa. Como a sua empresa pode ajudar as pessoas a se conectarem melhor?