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Como Wizard, o bilionário das franquias, escolhe franqueados

O bilionário Carlos Wizard se orgulha de ter ajudado a formar centenas de milionários no Brasil através do sistema de franquias. Confira a entrevista dele a EXAME.com.

O empresário Carlos Wizard na loja Mundo Verde do shopping Iguatemi de Campinas (Mariana Desidério/Exame.com)

O empresário Carlos Wizard na loja Mundo Verde do shopping Iguatemi de Campinas (Mariana Desidério/Exame.com)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 6 de outubro de 2015 às 09h26.

São Paulo – Há 40 anos, o hoje bilionário Carlos Wizard Martins foi para os Estados Unidos com apenas 100 dólares no bolso. Quatro décadas depois, ele se orgulha em contar que estará em Harvard, uma das mais prestigiadas universidades americanas, para dar uma palestra sobre sua trajetória de sucesso.

Fundador da rede de escolas de inglês que leva o seu nome (vendida para a Pearson em 2013), e hoje dono da Mundo Verde, Wizard se orgulha de ter transformado centenas de pessoas em milionários através do sistema de franquias. “Minha maior alegria é ver o sucesso compartilhado. Me identifico com as pessoas e me realizo ao desenvolver o potencial empreendedor de cada um”, afirma.

Para quem quer ser um franqueado de uma de suas marcas, o bilionário afirma: é preciso se identificar com o produto, saber vender, e estar presente no dia a dia do negócio. Além da Mundo Verde, o empresário também é dono da Ronaldo Academy, uma rede de escolas de futebol, em parceria com o jogador Ronaldo Fenômeno.

O negócio surgiu no início deste ano, em plena recessão econômica. Mas isso não é problema para o empresário. “Quando comecei a Wizard, a inflação no Brasil chegava a 80% ao mês”, lembra.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista exclusiva que Carlos Wizard concedeu a EXAME.com.

EXAME.com - O senhor atua no setor de franquias há décadas. O que aprendeu sobre o modelo nesses anos todos?

Carlos Wizard - O que mais aprendi no setor de franchising é saber lidar com pessoas. Porque as franquias pressupõem, em primeiro lugar, uma predisposição da empresa franqueadora de saber como lidar com pessoas e resolver os problemas do cliente franqueado. Então, se existe uma competência que eu acredito que desenvolvi ao longo dos anos, foi a capacidade de ver o negócio do ponto de vista do meu cliente franqueado. E aí ajudá-lo a ter o maior grau de sucesso possível dentro da sua atividade. Eu tenho a grata satisfação de ter formado centenas de novos milionários nesse país. E como fiz isso? Transferindo práticas de negócios bem-sucedidas aos meus parceiros franqueados. 

EXAME.com - O que o senhor procura num franqueado?

Procuro três características essenciais. Primeiro: ele precisa identificar-se plenamente com a atividade proposta. Ou seja, se vai ensinar inglês, ele tem que ter paixão pela área de ensino. Se vai abrir uma academia de futebol, ele tem que gostar de esportes. Essa identificação é o primeiro passo. Segundo: ele precisa ter o espírito empreendedor. Não basta ele apenas gostar como consumidor do produto. Quando falo em espírito empreendedor significa que ele tem que ter a inclinação, a habilidade, de vender. Porque, não importa a área, a partir do momento em que você abre o negócio, você passa a ser um vendedor. E terceiro: ele precisa estar presente na operação. Não adianta abrir uma linda loja de produtos saudáveis e ficar ausente. A presença do franqueado na operação é fundamental para o sucesso.

EXAME.com - Hoje vemos muitas franquias para quem quer trabalhar de casa, com investimento inicial baixíssimo, são as chamadas microfranquias. Como vê esse movimento?

Eu sou super favorável ao setor de franchising que explora o que é chamado de home business. Isso porque a Wizard, que se tornou a maior rede de escolas de inglês do planeta, ela nasceu com uma operação home business. Naquela ocasião, na década de 1980, o meu projeto não era abrir escolas, mas sim encontrar professores particulares que utilizassem a minha marca, o meu material didático, dando aulas em casa. Então, todo projeto home business pode se manter na sua essência como um projeto pequeno, ou pode ter o potencial de crescer muito mais, como foi caso da Wizard.

EXAME.com - Quantas pessoas o senhor transformou em milionárias?

Pelo menos 300.

EXAME.com - Acredita que qualquer um pode ficar milionário?

Essa é uma pergunta recorrente. Sim, eu acredito. Baseado em três condições. Primeiro: a pessoa precisa ter o desejo de ficar milionária. Ninguém vai ficar milionário pela sorte de um paraquedas de dinheiro cair na própria casa. O desejo é o primeiro passo. Segundo: a pessoa precisa ser capaz e transformar aquele desejo num projeto comercial capaz de atender a uma necessidade do mercado em larga escala. Não adianta ele montar um negócio para atender a demanda da rua dele, do bairro, da cidade. Tem que ser um projeto de ampla escala. Terceiro: ele precisa seguir as regras, os princípios que transformam a vida financeira do indivíduo numa vida de prosperidade. Então, se a pessoa seguir essas três condições, certamente ficará milionária.

EXAME.com - E com uma franquia? Qualquer um fica milionário?

Já através da franquia você tem que ter certo cuidado. Porque cada setor tem um potencial. É necessário ele analisar o potencial daquele produto que ele representa. A franquia ajuda? Certamente. Tanto é que os 300 milionários que eu criei nesse país foi através do setor de franquias. Mas não é a franquia por si só que vai garantir essa condição.

EXAME.com - O senhor disse que espera que os franqueados se identifiquem com a atividade da rede. E o senhor, com o que se identifica?

Eu me identifico com as pessoas. Eu sei que cada pessoa, no íntimo, no fundo, ela tem um desejo, e ela quer desenvolver esse desejo. Ela quer ter sucesso na vida. Muitas pessoas querem ter sucesso na vida, mas não sabem qual o modelo de sucesso elas devem seguir. Então eu acredito que eu descobri e desenvolvi alguns modelos de sucesso, e eu compartilho com as pessoas esses modelos de sucesso. O que me deixa triste às vezes é que algumas pessoas, mesmo diante de modelos de sucesso, não seguem o tal modelo. E aí elas não obtêm o resultado imaginado, não vencem, e daí elas sofrem. Minha maior alegria hoje é ver o sucesso compartilhado, quando eu sou capaz de compartilhar práticas e conceitos de negócios bem-sucedidos. Me identifico com as pessoas e me realizo ao desenvolver o potencial empreendedor de cada um.

EXAME.com - O que diria para um jovem empreendedor que está começando e encontra o cenário de crise atual?

A Wizard nasceu na década de 1980, o presidente do país naquela época era José Sarney, a nossa inflação estava na casa de 60%, 70%, 80% ao mês. As moedas trocavam-se de seis em seis meses. Nós tínhamos novas moedas, novos planos e novos ministros. O brasileiro naquela época não podia dormir com dinheiro no bolso porque no dia seguinte ele não conseguiria comprar os mesmos produtos com aquele dinheiro. Então, para qualquer empresa que nascesse naquela época, você poderia dizer: ‘Esse cara é louco, como vai começar um negócio nesse momento da economia?’.

Então, acho que o Brasil é muito maior do que a crise que estamos enfrentando hoje. Essa crise certamente terá fim, e os empreendedores que começarem um negócio agora ou que ainda vão começar, eles têm um mercado gigantesco, de mais de 200 milhões de consumidores em nosso mercado interno. É importante a pessoa acreditar nela em primeiro lugar, e acreditar no projeto de vida. A economia vai se ajustar.

EXAME.com - O que leva uma pessoa a empreender?

Eu descobri que cada pessoa tem um valor invisível estampado no seu peito. Para algumas pessoas esse valor é bem baixo, de 1 mil, 2 mil, 3 mil reais. Para outras, que são mais otimistas e ousadas, o valor é de 10 mil, 20 mil, 30 mil reais. E existem algumas pessoas que não se contentam, elas querem valores de 100 mil, 200 mil, 300 mil reais. Acontece que as empresas não pagam esses valores. Sendo assim, essas pessoas só têm uma alternativa, que é o empreendedorismo.

EXAME.com - No seu caso, o que te levou a empreender?

Certa vez eu estava na fila do banco para receber meu salário e tive a ousadia de perguntar para a moça que estava me atendendo: ‘Você sabe dizer qual é o salario mais alto da empresa?’. E ela me revelou o salário mais alto daquela empresa. Então eu fiquei um pouco frustrado. Porque pensei: estou no início da carreira, acabei de sair da faculdade, vou trabalhar 20, 30 anos para me aposentar e depois ganhar esse salário? Acho que não é isso que eu quero. Eu quero algo a mais para mim. Então naquele momento eu decidi que o meu sucesso financeiro não seria através de uma empresa como executivo, mas sim através de uma carreira solo como empreendedor.

EXAME.com - E como vê essa trajetória hoje?

Este ano é um ano super especial para mim. Há 40 anos eu cheguei pela primeira vez na cidade de Nova York. Naquela ocasião eu tinha apenas 100 dólares no bolso e peguei um trabalho para limpar o chão e lavar pratos num restaurante. Quarenta anos depois eu sou incluído na lista dos bilionários da Forbes. E este ano eu sou convidado para ir até Harvard e também até a universidade de Wharton, que é a maior universidade de negócios dos Estados Unidos, para dar uma palestra aos alunos e explicar como foi que eu cheguei nos EUA com 100 dólares e depois de quatro décadas passei a fazer parte da lista da Forbes.

EXAME.com - No primeiro semestre o senhor anunciou um negócio com o jogador Ronaldo, a Ronaldo Academy. Qual a sua expectativa em relação a esse negócio?

A Ronaldo Academy é uma rede de escolas de futebol. Nós tivemos esse mês várias inaugurações no Brasil e há 15 dias eu fui até Pequim e assinei um contrato com investidores da China para a abertura de 30 escolas Ronaldo Academy na China. Nós temos também uma unidade que está em fase de abertura em Orlando. Então, é um projeto que nasceu num ano difícil para o Brasil, mas nós conseguimos driblar a crise através do futebol.

EXAME.com - E no Mundo Verde, qual o foco agora?

Nós assumimos o Mundo Verde há exatamente um ano. Na ocasião, a rede contava com 250 lojas. Um ano depois nós já passamos da casa de 350 lojas. Nosso objetivo maior é chegar em 2018 com 600 unidades abertas e um faturamento de 1 bilhão de reais.

EXAME.com - O que Wizard, Mundo Verde e Ronaldo Academy têm em comum?

Embora aparentemente eles sejam negócios de setores bem distintos, no fundo eles têm elementos em comum, que são essenciais para seu êxito. O principal deles é que são negócios focados nas pessoas. Se eu tenho a percepção de que o aluno que quer aprender inglês tem uma expectativa, e eu sou capaz de atendê-la, eu vou ter sucesso e meu parceiro franqueado também. O mesmo acontece com o consumidor de produtos naturais, e o mesmo com o pai que matricula o filho numa escola de futebol. No fundo, o êxito do negócio é atender a uma necessidade do mercado, seja ela na educação, no esporte ou na alimentação. 

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