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O que Dafiti, Peixe Urbano e Hotel Urbano podem te ensinar

Fernando de la Riva, diretor-executivo da Concrete Solutions, faz uma avaliação dos ensinamentos para empreendedores

Dafiti (Germano Lüders / EXAME)

Dafiti (Germano Lüders / EXAME)

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Da Redação

Publicado em 6 de junho de 2014 às 14h32.

O que Dafiti, Peixe Urbano e Hotel Urbano podem te ensinar

Respondido por Fernando de La Riva, especialista em negócios digitais

Analisando a trajetória de sucesso das três empresas podemos avaliar três aspectos: o primeiro é que essas empresas são, junto com algumas outras startups escaláveis, a representação do que foi o recente ciclo de venture capital no Brasil.

O segundo é que existe um efeito sistêmico em que o tipo de investimento e o resultado conseguido influenciaram outras startups. Por fim, os pontos em comum.

Este grupo representa as três empresas que foram fundadas depois de 2010 e passaram de (informações não oficiais) R$ 350 milhões de faturamento anual. Apesar de não termos informações do Peixe Urbano, também podemos dizer que foram as empresas (startups de tecnologia) com maior nível de financiamento no período. Além disso, as três, de uma forma ou de outra, têm suas raízes em comércio eletrônico e estratégias focadas em execução de modelos de negócios validados no exterior, chamados de arbitragem regional de ideias.

Podemos citar o Groupon como inspirador internacional da estratégia de investimento e empreendimento do Peixe Urbano e do Hotel Urbano (mudada depois), que é focada em rapidez na ocupação de um determinado nicho. No caso da Dafiti, a inspiração vem da Zappos, com a estratégia focada em velocidade e execução.

Se olharmos mais de perto, o Peixe Urbano e o Hotel Urbano sofreram do esgotamento natural do modelo de compras coletivas, causado pelo excesso de participantes e seus efeitos colaterais, e tiveram que tomar decisões de diversificação e “pivoting”, ou seja, mudança de estratégia preservando uma parte da visão. No caso do Peixe Urbano foram feitas aquisições no setor de entrega de comida (já desinvestida) e portais. O Hotel Urbano, por sua vez, fez uma mudança mais radical de modelo de negócio, se tornando uma agência online.

A Dafiti é a única que continua com a sua estratégia original, aprofundando a visão de que o crítico neste momento é o crescimento acelerado e, para tanto, se apoia no nível de financiamento mais alto das três, da ordem de R$ 660 milhões até o momento, o que parece estar dentro do padrão para se estabelecer de forma hegemônica no varejo multimarca.

Níveis de financiamento parecidos ocorreram no mesmo período em jogadores já estabelecidos, como a Netshoes, e níveis maiores ainda aconteceram se levarmos em conta os subsequentes aumentos de capital feitos pela Lasa na B2W (o último foi mais de R$ 2 bilhões).

Apesar de terem em comum times de execução muito bons, modelos de negócio “copy-cat” em varejo eletrônico e muito financiamento, a contribuição que cada uma teve no ciclo de venture capital brasileiro de 2010–2013 foi diferente. O Peixe Urbano foi pioneiro e provou que era possível um crescimento acelerado de faturamento e que startups brasileiras de tecnologia poderiam receber investimento externo de grande monta.

Se eles tivessem conseguido fazer uma saída, a história teria sido diferente. Por outro lado, apesar do crescimento ter diminuído, eles continuam um dos líderes no ambiente de cupons brasileiro, enquanto os fundadores executam uma estratégia de racionalização e reposicionamento.

O Hotel Urbano fez o melhor pivot: a mudança de compras coletivas para uma agência online deu incrivelmente certo. Como diria Steve Blank, o problema de ser pioneiro é que você pode levar flechadas nas costas. Eles têm um ciclo de aprendizado do setor a seu favor, inclusive o entendimento de que o ciclo de saída aqui é completamente diferente. Neste ponto, a estratégia de financiamento feita mais tarde deve levar isso em conta.

A Dafiti ganha no quesito execução. A estratégia é a mesma, simples de entender mas que está sendo executada com potência e velocidade dignas da cultura alemã dos fundadores e investidores. O modelo de negócio precisa de um nível de investimento muito alto, mas ninguém pode negar que eles fizeram em três anos (e com mais dinheiro) o que a concorrência fez em mais de dez.

O grande vencedor desse ciclo de venture capital brasileiro só vai ser definido quando houver a primeira saída e o dinheiro for devolvido com retorno para os investidores, mas estas três companhias sempre serão lembradas por terem pavimentado o que aos poucos se tornará a cultura de investimento de risco em tecnologia brasileira.

Fernando de La Riva é especialista em negócios digitais e sócio da Concrete Solutions.

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