Stéphanie Fleury, fundadora da fintech DinDin, recém-adquirida pelo Bradesco: aposta na educação financeira (Bernardo Marotta/Divulgação)
Marcelo Sakate
Publicado em 23 de novembro de 2020 às 06h10.
Última atualização em 23 de novembro de 2020 às 11h27.
Levar serviços financeiros digitais para a base da pirâmide, com a expertise de quem está há quatro anos lidando com as dores d0 público de entrada. Assim pode ser definida a estratégia do Bradesco com a incorporação da fintech DinDin, um negócio que traz para dentro do segundo maior banco privado do país a admissão de que há muito a ser feito para que serviços e produtos se tornem verdadeiramente acessíveis no país.
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"Ainda estamos patinando na educação financeira. Isso vai do pequeno empresário que não entende que a taxa da maquininha ou o valor da TED influencia o valor final que ele cobra pelo produto ou serviço até crianças e adolescentes que não recebem qualquer educação sobre finanças em uma fase em que poderiam começar a assimilar tais hábitos", afirmou Stéphanie Fleury, sócia-fundadora e presidente da DinDin, à EXAME Invest.
A DinDin será incorporada pelo Bitz, nome da nova carteira digital e da conta de pagamentos do Bradesco. Um dos propósitos da fintech é oferecer serviços financeiros básicos, mais acessíveis, ao público da classe C e D. "Não existe espaço para cobrar desse público, ao menos na entrada", diz a empreendedora, citando que o primeiro produto do Bitz veio com cashback, uma ferramenta importante para esse cliente.
O negócio, anunciado há dois meses, ainda depende da aprovação do Banco Central. Mas já causa impacto na fintech, em linha com um dos motivos que levaram Fleury e os sócios a aceitar a proposta de aquisição integral pelo Bradesco, por valor não revelado.
"Como CEO da DinDin, eu tinha que correr atrás de clientes e provar que tinha condições de entregar o que as pessoas queriam. E então elas passam te procurar, algumas a partir do comunicado do negócio. O banco tem uma força descomunal em áreas fundamentais como a capacidade de distribuição", diz Fleury, que se destaca como uma empreendedora à frente de uma fintech em um segmento com predomínio masculino em cargos de liderança.
O DinDin foi fundado em 2016 por Fleury e três amigos, Juliana Furtado, Renato Avila e Brunna Beccaro. A ideia original era oferecer uma plataforma de envio de dinheiro entre amigos, mas o modelo mudou para uma carteira e, depois, uma conta digital para pessoas físicas e jurídicas, com diferentes funcionalidades, a maioria gratuita.
Um dos principais produtos é uma mesada digital voltada para crianças e adolescentes, em linha com a preocupação expressada pela empreendedora.
A sócia da fintech não abre números do aumento de downloads da fintech, reforçando que o objetivo da parceria vai além dos números.
Estudiosa e especialista em educação financeira, Fleury avalia que o aumento do acesso da população a serviços financeiros digitais é um fenômeno que ganhou tração e só vai aumentar com o uso crescente da tecnologia aplicada a serviços financeiros.
"O Pix vai levar a uma revolução para o varejo e vão surgir muitas fintechs com novos modelos de negócios. E com o open banking, ainda mais", diz.
A carteira digital vai incorporar o Pix, bem como o open banking, na medida em que ele entrar em operação. "Hoje o garçom passa na mesa e fala 'quer paga com QR Code? Está na mesa'. São novos hábitos que a pandemia acelerou", afirma.
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Os planos, divulgados à época do anúncio da aquisição, são ambiciosos. "Planejamos em três anos conquistar de 20% a 25% do mercado (de carteiras digitais). Nós não viemos para ser o quarto ou quinto colocado. Queremos ser o primeiro ou segundo em três anos e depois encabeçar o mercado", conta Fleury, que vai assumir como head comercial da Bitz, cuidando de distribuição e parcerias, quando o negócio tiver obtido as devidas aprovações.