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O plano da Magnetis, de robôs investidores, para chegar a 10 mil clientes

Fintech que aposta em investimentos geridos por algoritmos se uniu a GPS Investimentos, focada em alta renda, para melhorar e expandir produtos

Luciano Tavares, fundador da Magnetis (Magnetis/Divulgação)

Luciano Tavares, fundador da Magnetis (Magnetis/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 7 de maio de 2019 às 06h00.

Última atualização em 14 de maio de 2019 às 14h40.

As fintechs brasileiras especializadas em investimentos estão se armando para uma competição cada vez mais acirrada -- inclusive naqueles que possuem como trunfo a força de seus algoritmos. O último capítulo da batalha está na parceria da fintech Magnetis com o GPS Investimentos, grupo de gestão independente de patrimônios de alta renda com 31 bilhões de reais sob gestão.

Criada em 2015, a Magnetis monta carteiras administradas por robôs de investimento e possui hoje 5.000 clientes e 250 milhões de reais em ativos gerenciados. A fintech usará o histórico de dados de investimento da gestora tradicional para melhorar seu algoritmo e atrair mais investidores, enquanto o GPS Investimentos espera expandir sua base de clientes para faixas mais populares de aportes iniciais e mensais.

A expansão dos algoritmos de investimento

A Magnetis aposta em um mercado cheio de oportunidades. No ano passado, 2,8 trilhões de reais estiveram em custódia de instituições financeiras dos segmentos de varejo tradicional, varejo de alta renda e private. Segundo Luciano Tavares, fundador da Magnetis, 94% desses recursos estão concentrados nos bancos tradicionais e sem independência de comissões, o que gera “falta de alinhamento de interesses, escolhendo produtos não tão interessantes e prejudicando a rentabilidade final do investidor”.

O primeiro passo para usar a Magnetis é responder algumas perguntas que ajudam a traçar o perfil de risco e o objetivo financeiro do cliente – pagar um carro, acumular patrimônio ou guardar dinheiro para a aposentadoria, por exemplo. Essa é uma exigência comum a todas as plataformas de investimento.

Munidos de tais informações, os robôs da startup começam a operar e o algoritmo sugere os investimentos mais adequados. O usuário terá uma carteira adaptada a cinco níveis de risco (quanto maior o número, maior o risco).

Cliente acessa sua carteira na Magnetis (Magnetis/Divulgação)

O algoritmo desenvolvido pela fintech se encarrega de escolher e comprar cotas de fundos geridos pela Magnetis, que por sua vez usa o dinheiro de todos os compradores para acessar investimentos sofisticados, em uma compra “no atacado”. São três fundos diferentes: Magnetis Diversificação em Renda Fixa, Magnetis Diversificação em Multimercados e Magnetis Diversificação em Ações. Alguns fundos disponíveis e conhecidos são os multimercados AZ Quest, Exploritas e Adam D60.

Os clientes pagam uma única taxa anual de administração, baseada no valor total investido. Não há recebimento de comissões para indicação de produtos financeiros específicos. A taxa anual média da Magnetis é de 0,59% ao ano, incluindo o valor pago para a plataforma para fazer os investimentos, a corretora Easynvest. A Magnetis atua como gestora, usando seu robô para escolher onde investir e rebalancear a carteira.

Não estão inclusos os impostos. Cada uma das aplicações possui tributação específica: todos os fundos de renda fixa possuem incidência de imposto de renda sobre a rentabilidade, sendo que a renda fixa possui impostos proporcionais ao tempo aplicado; o multimercado possui a tributação estilo come-cotas; e o fundo ações possui a taxa sobre ganhos de capital, de 15% fixos.

Há dois anos, a Magnetis também apostou em dar consultorias financeiras a funcionários. A fintech atende três mil empregados de nove empresas, como as startups Arquivei e Edools. Há uma análise individual dos funcionários e uma plataforma com consultores para trabalhar objetivos como pagar dívidas ou juntar uma pequena quantia todo mês. Os empregados podem ou não serem usuários da Magnetis no futuro.

A fintech projeta chegar a 10 mil investidores e um bilhão de reais sob gestão até o fim deste ano. Nos últimos anos, a Magnetis cresceu anualmente a uma taxa de 150 a 200%.

Parceria entre o tradicional e a fintech

Criado em 1999, o GPS Investimentos teve seu controle adquirido há três anos pelo grupo suíço de gestão de fortunas Julius Baer, que atua em 25 países e possui 375 bilhões de dólares sob gestão.

Os clientes atendidos até o momento pelo GPS são de alta renda e a associação com a Magnetis significa a expansão para uma categoria mais popular de investimento. Na fintech, o aporte inicial mínimo é de mil reais e a média investida fica entre 50 e 60 mil reais. “Podemos democratizar o que fazemos, atendendo clientes menores e de fora de São Paulo. Pensando nas futuras gerações de investidores nossos, a parceria se mostrou interessante”, afirma Jan Karsten, presidente do GPS Investimentos.

Eles detém os produtos mais sofisticados em gestão de patrimônio e queremos levar essa experiência aos nossos clientes”, completa Tavares. Tanto o GPS quanto a Magnetis se consideram independentes, o que facilitou a parceria entre as instituições financeiras.

A parceria pode incluir a compra pelo GPS de uma fatia societária minoritária na Magnetis no futuro. Nenhuma das empresas comenta a porcentagem de participação ou a avaliação da fintech em jogo caso haja essa aquisição.

A Magnetis captou um aporte semente de três milhões de reais em 2015, feito pelos fundos Monashees e Redpoint e.ventures e completado pela aceleradora 500 Startups e por investidores-anjo. Em abril do ano passado, recebeu um investimento série A de 17 milhões de reais, liderado pelos fundos Monashees e Vostok Emerging Finance e completado pelo fundo Redpoint e.ventures e por investidores-anjo. Para este ano, a fintech negocia uma rodada série B.

Concorrência e desafios para os robôs

Startups que usam robo advisors, como a Magnetis, fazem parte de uma tendência de automação crescente no setor de serviços.

Nos Estados Unidos, fintechs que desenvolvem algoritmos que escolhem os melhores investimentos começaram há mais de uma década e haviam arrecadado quase dois bilhões de dólares em investimentos até 2017, ano em que começaram seu amadurecimento.

Uma das pioneiras é a americana Betterment, criada em 2008 e com 275 milhões de dólares em aportes. No último ano, chegou a 15 bilhões de dólares gerenciados para mais de 400 mil investidores.

Alguns concorrentes brasileiros que a Magnetis enfrenta hoje são Monetus, Vérios e Warren, para citar apenas os mais conhecidos. Tavares acredita que o diferencial da Magnetis está na diversificação das carteiras, por meio dos “fundos de fundos”, e em um atendimento humano associado ao investimento em tecnologia para o operacional (similar ao que ocorre na fintech Nubank).

Todas essas startups financeiras enfrentam o desafio de desconhecimento sobre como algoritmos de investimento funcionam. Segundo pesquisa da gestora Legg Mason, mais da metade (52%) dos investidores brasileiros pretende aplicar via robôs nos próximos cinco anos. O interesse dos brasileiros em delegar carteiras a algoritmos ficou bem acima da média global, de 37%. No entanto, só 23% estão bem familiarizados com o conceito – e um terço não faz ideia de como operam os robôs. Ganhará quem atrair e continuar conquistando o número cada vez maior de investidores brasileiros.

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