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Irmão da maconha: o plano de um bilionário para o canabidiol no Brasil

Para trazer o canabidiol, o chinês Pink Wangsuo conversou com empresas e entidades governamentais brasileiras. Seu maior obstáculo é a regulação

Plantação de cannabis nos Estados Unidos: produto considerado essencial em tempos de quarentena (Dave Chan/The New York Times)

Plantação de cannabis nos Estados Unidos: produto considerado essencial em tempos de quarentena (Dave Chan/The New York Times)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 14 de fevereiro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2019 às 19h28.

Imagine um produto que promete todos os benefícios da maconha, como o relaxamento e o tratamento de doenças crônicas, mas sem seus estigmas, dos olhos avermelhados e “viagens” até o bloqueio da memória de curto prazo. Esse é o canabidiol, mais conhecido pela sigla CBD. A substância originada da cannabis, planta que também permite produzir a maconha, já representa um mercado de ao menos 600 milhões de dólares nos Estados Unidos e está em todo tipo de produto.

A depender das vontades do bilionário chinês Pink Wangsuo, conhecido como Mr. Pink, não vai demorar para o canabidiol chegar ao Brasil. O empresário, hoje residente em Los Angeles (Estados Unidos), já trabalha para enfrentar seu maior obstáculo: a regulação brasileira sobre o uso da substância.

Mr. Pink esteve no Brasil no mês passado para conversas com empresas e organizações governamentais sobre investimos em infraestrutura no país, como açúcar, agricultura, bebidas e carnes.

Porém, o bilionário chinês aproveitou alguns encontros, como o feito com a multinacional de agricultura francesa Louis Dreyfus e com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, para falar sobre um de seus investimentos mais incomuns: o Mr. Pink CBD, que fabrica óleos de canabidiol.

O canabidiol de Mr. Pink

Alcunhar uma frente de negócio de Mr. Pink como “incomum” é um grande feito. O bilionário é dono de empreendimentos em ramos variados. O mais conhecido é a marca de bebidas com ervas ginseng Mr. Pink, que desde 2012 recebeu 50 milhões de dólares em investimentos e apoio de celebridades como a atriz Lindsay Lohan e o cantor Justin Bieber.

Pink Wangsuo, mais conhecido como Mr. Pink

Pink Wangsuo, mais conhecido como Mr. Pink (Mr. Pink/Divulgação)

Outros negócios, mais obscuros, são a criptomoeda BCash (há um boato de que Mr. Pink é um dos maiores detentores de criptomoedas do mundo, o qual ele não comenta) e uma antiga participação majoritária no time italiano de futebol Milan (fatia da qual já se desfez e também não comenta sobre).

Operando há seis meses e com investimento de 3 milhões de dólares até o momento, o Mr. Pink CBD é hoje um site com dez produtos à venda: cinco óleos de canabidiol nos sabores e aromas tradicional, baunilha, banana com morango, hortelã e laranja e cinco canetas vaporizadoras com os mesmos ingredientes. Mil unidades já foram vendidas, segundo Joel Contartese, empreendedor serial em mídias sociais e CEO da companhia.

Os preços vão de 12,90 dólares (uma caneta vaporizadora) até 129 dólares (óleo com 1.000 miligramas), ou de 48,47 reais até 484,70 reais na cotação atual. A recomendação de Mr. Pink é aplicar uma gota por dia, debaixo da língua. Ele afirma usar o produto todos os dias, assim como beber várias latas de sua bebida com ginseng.

O óleo de CBD da marca Mr. Pink

O óleo de CBD da marca Mr. Pink (Mr. Pink CBD/Instagram/Reprodução)

Para Mr. Pink, o Brasil pode se tornar um mercado bilionário de CBD e sua empresa pretende investir "milhões" por aqui, o que pode incluir a aquisição de terras para plantar, extrair e produzir o canabidiol no futuro o que baixaria custos de produção não só para a venda no mercado brasileiro, mas em futuras exportações a mercados como Estados Unidos e China.

A integração da cadeia logística e a criação de empregos diretos e indiretos é o principal argumento de Mr. Pink para convencer governo e empresas a apoiarem o CBD no país. Os cultivos de cânhamo, plantas do gênero cannabis com baixa dose de THC, também originam produtos além do canabidiol, como um substituto para o algodão que pode originar tecidos. 

“O Brasil é o maior país da América do Sul e as oportunidades só crescem, com boas terras, água potável, clima e uma grande população trabalhadora. O canabidiol ainda não tocou esse mercado e nem a América Latina como um todo”, afirma o bilionário chinês. “Se pudermos entrar, acredito que seremos maiores do que os cigarros eletrônicos. Não estamos aqui para nos divertir, e sim para avançarmos o mais cedo possível, já que o Brasil costuma incorporar modas americanas com alguns anos de atraso.”

Pink Wangsuo (Mr. Pink) em encontro com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo

Pink Wangsuo (Mr. Pink) em encontro com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo (Mr. Pink/Divulgação)

Nos Estados Unidos, o mercado de canabidiol faturou cerca de 600 milhões de dólares no ano passado e pode chegar a 22 bilhões de dólares em 2022 apenas com a produção em cânhamo, diz a consultoria especializada The Brightfield Group.

O que é o CBD e por que ele ainda não emplacou no Brasil

O jornal americano New York Times alcunhou o CBD de “a nova bitcoin”: é um tema quente, está em todo lugar e poucas pessoas sabem do que realmente se trata. O CBD é uma substância existente nas plantas do gênero cannabis, que concentra principalmente o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), agente psicoativo da maconha. Por conter baixas doses de THC, o canabidiol não dá a sensação de "estar alto" associada ao uso da maconha. Os óleos de CBD são feitos pela extração do canabidiol das plantas do gênero cannabis e sua diluição em óleo de coco, por exemplo. Em terras americanas, o produto já está em cremes de beleza, comidas para humanos e pets e até em grãos de café.

Diferente de outras marcas, Contartese afirma que o Mr. Pink não promete curas milagrosas, como tratamentos para câncer, e sim benefícios como redução de ansiedade, dor e estresse; melhoria do sono, de náuseas e de efeitos psicóticos; e estímulo à circulação, à atividade cerebral e à produção de antioxidantes. Basicamente, uma suposta solução aos males do século 21  e que ainda precisa de mais estudos científicos para o martelo ser batido, ressalta o jornal.

Nos Estados Unidos, afirma a Mr. Pink, seus óleos de CDB são legais até em estados que proíbem a maconha, desde que sejam derivados dos cânhamos e contenham menos de 0,3% de THC. Segundo o Conjur, o canabidiol é liberado em 20 estados americanos, registrado como substância terapêutica, e em países como Canadá, Itália, Espanha, Reino Unido e Israel.

O grande desafio do investidor não é dinheiro, mas regulação. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou seu uso para fins medicinais em 2015. O medicamento já tratou pacientes com epilepsia, por exemplo. É preciso ter prescrição médica para seu uso e preencher autorizações de importação.

Sem essa concessão, andar com um produto da Mr. Pink não é algo permitido por lei. Se o bilionário adotar a tática de chegar com tudo que as chinesas já fizeram nas finanças, logística e telecomunicações ao investir 24,7 bilhões de dólares por aqui em 2017, logo veremos seus óleos de canabidiol nas prateleiras de farmácias brasileiras.

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