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O alfaiate de 90 anos que teve seu negócio salvo pelas redes sociais

Crise do novo coronavírus afeta diretamente o faturamento de micro e pequenos empreendedores. Solução pode estar na digitalização do negócio

Odiney Pedroso completou 90 anos de idade neste sábado (1) (Arquivo pessoal/Renato Dias/Reprodução)

Odiney Pedroso completou 90 anos de idade neste sábado (1) (Arquivo pessoal/Renato Dias/Reprodução)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de agosto de 2020 às 10h28.

Última atualização em 1 de agosto de 2020 às 10h29.

O alfaiate Odiney Pedroso, que completa 90 anos neste sábado, trabalha há mais de 70 anos fazendo camisas personalizadas em uma pequena loja na Vila Romana, zona oeste de São Paulo. E não esperava passar por nada parecido com a crise provocada pela pandemia da covid-19. Em quatro meses, vendeu apenas seis camisas. Tentou um empréstimo bancário de R$ 1,8 mil para pagar as dívidas, mas, por causa da idade, não conseguiu.

"Esses quatro meses não foram fáceis. Eu tenho uma boa clientela mas as pessoas não vinham, e meu serviço caiu bastante", conta Pedroso.

A salvação do negócio veio de um ato inesperado: um vídeo gravado por Renato Dias, dono de um posto de gasolina próximo à alfaiataria e neto de um amigo de Pedroso. O vídeo, em que o alfaiate se emociona ao contar que nunca passou por tamanha dificuldade, foi compartilhado em rede social e, em três dias, já tinha mais de 49 mil visualizações.

Desde então, o alfaiate recebeu mais de 50 pedidos, e o neto teve de passar a ajudá-lo no atendimento. "O telefone do seu Pedroso não para de tocar", conta Dias. "Eu não esperava isso na minha vida, fico até sem jeito", agradece o alfaiate.

A história rendeu ainda uma vaquinha virtual, organizada por outro internauta que se comoveu com a história do alfaiate. O objetivo inicial era arrecadar os R$ 1,8 mil para quitar as dívidas. No final, porém, chegou a quase R$ 28 mil, com a ajuda de pelo menos 430 pessoas.

Não foi o primeiro caso de um pequeno negócio administrado há décadas por uma única pessoa salvo pelas redes sociais. A história de Nelson Simeão, de 83 anos, proprietário há mais de 50 anos do viveiro de plantas Jardins Modelo, na zona sul de São Paulo, é parecida. Até março, costumava atender cerca de 15 clientes por dia, mas praticamente não recebeu nada durante os 70 dias em que teve de fechar as portas por conta da quarentena.

Quando pôde reabrir as portas, Simeão colocou uma placa em que pedia ajuda para sair da falência. Ao ver isso na loja, uma especialista em marketing postou uma foto em suas redes sociais, e resolveu ajudar a família a criar um perfil no Instagram para vendas. Pediu para um fotógrafo conhecido tirar fotos das plantas e do espaço, e criou uma conta para o viveiro.

As postagens também repercutiram pela rede, e o perfil recém-criado já conta com 77 mil seguidores. O atendimento presencial também aumentou: segundo Simeão, há dias em que chega a ter mais de 50 clientes, e a média desde o mês passado tem sido de 30 por dia. Foi preciso até demarcar o chão do lado de fora para organizar a fila, em respeito ao distanciamento social."Tive de pedir para meus quatro netos e minha nora virem me ajudar. Isso é uma prova de que o povo é solidário, e ajudou bastante."

Adaptação tecnológica. Para especialistas, um dos principais problemas que os pequenos empreendedores têm atravessado na pandemia é exatamente a falta de adaptação ao ambiente tecnológico. No caso da alfaiataria de Pedroso, nem pagamento com cartão é aceito, apenas dinheiro.

Para Layla Vallias, cofundadora da consultoria de marketing Hype50+, apesar de esse público já usar a internet para lazer e comunicação, ainda não a usa como ferramenta de trabalho. O desafio é capacitar essas pessoas para que possam aprender a utilizar as plataformas digitais profissionalmente.

"É preciso pensar em capacitação digital com esse enfoque no trabalho. Existe muito conteúdo na internet, mas há pouco focado nisso", afirma.

Atualmente, 39% das micro e pequenas empresas brasileiras ainda não retornaram ao funcionamento, já que o negócio funciona apenas presencialmente. É o que aponta pesquisa realizada pelo Sebrae e pela FGV entre maio e junho. Ao mesmo tempo, 13% dos empresários afirmaram que estão atendendo, mas que não têm estrutura para utilizar tecnologias digitais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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