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"Not Amazon": iniciativa promove compras locais em alternativa à gigante americana

Um grupo de 160 empresas canadenses acabou se transformando em um site com mais de meio milhão de visualizações e 4.000 empresas credenciadas

Tannis e sua irmã Mara Bundi, donas do Green Jar, em Toronto: empreendedoras adotaram a iniciativa do Not Amazon para vender mais na pandemia (Chloe Ellingson/The New York Times)

Tannis e sua irmã Mara Bundi, donas do Green Jar, em Toronto: empreendedoras adotaram a iniciativa do Not Amazon para vender mais na pandemia (Chloe Ellingson/The New York Times)

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Carolina Ingizza

Publicado em 14 de janeiro de 2021 às 13h18.

Última atualização em 14 de janeiro de 2021 às 15h34.

Toronto – A neve caía do lado de fora do apartamento de Ali Haberstroh no fim de novembro quando a ideia lhe veio. Na época, o Canadá estava perto de um segundo bloqueio para conter o aumento de casos do coronavírus. Em antecipação, o dono de uma loja de roupas vintage em Toronto, que é amigo de Haberstroh, havia elaborado uma lista de outras lojas vintage locais que ofereciam coletas e entregas em vez de abrir suas portas.

"Foi um alerta", disse Haberstroh, de 27 anos, sobre a lista, que a lembrou de como enormes varejistas como Walmart, Costco e Amazon haviam prosperado durante a pandemia, enquanto muitas empresas menores e locais haviam fechado. "Pensei que se havia alguma atitude que eu pudesse tomar para ajudar, era isso que eu deveria fazer."

Na tentativa de ampliar a lista, Haberstroh prontamente criou um post no Instagram, marcando empresas independentes e lojistas em Toronto. Entre eles havia um novo site, Not-Amazon.ca – um URL que ela havia comprado por 2,99 dólares.

Apresentado como uma lista local para ajudar a manter as pequenas empresas vivas, o Not Amazon foi criado "para que você não tenha de dar dinheiro à Amazon este ano", dizia o post.

O que começou como uma planilha do Google com mais de 160 empresas reunidas inicialmente a partir da memória e da pesquisa de Haberstroh acabou se tornando um diretório de centenas que têm um site com fotos de qualidade e que oferecem transporte nacional, coleta ou entrega.

Até agora, o site conquistou mais de meio milhão de visualizações de páginas e hoje conta com 4.000 empresas em Toronto, Calgary, Halifax e Vancouver. O site agora cresce à base de inscrições, e milhares de empresas estão aguardando a aprovação de Haberstroh.

"Em uma cidade grande como Toronto, onde parece que a maioria das empresas são locais, é fácil acreditar que elas estarão aqui para sempre. Você não acha que vão desaparecer", afirmou Haberstroh, que trabalha como gerente de mídia social em uma empresa de marketing e que planeja expandir o Not Amazon para mais cidades.

As pequenas e médias empresas perfazem mais de 50% do produto interno bruto do Canadá. Mas, desde os bloqueios da pandemia, 40% das pequenas empresas relataram demissões, enquanto 20% adiaram os pagamentos de aluguel, de acordo com dados do governo.

Ao mesmo tempo, a Amazon e os grandes varejistas com plataformas de e-commerce mais robustas superaram em muito os pequenos concorrentes, transformando as compras on-line de uma conveniência em uma necessidade para os consumidores em todo o mundo.

A tentativa de Haberstroh de equilibrar a disputa foi bem recebida por pequenos empresários como Tannis e Mara Bundi, irmãs gêmeas que abriram o Green Jar em Toronto em dezembro passado. A loja é especializada em itens a granel, como sabão e mel, que os clientes compram para reabastecer os próprios recipientes, reduzindo o lixo plástico e doméstico.

Quando a pandemia chegou em março, as irmãs rapidamente se concentraram em suas operações on-line e ofereceram coleta e entrega, mas, mesmo com as restrições aliviadas, as vendas permaneceram baixas. Desde que está no site Not Amazon, o Green Jar viu as encomendas on-line aumentar 500%, e elas têm estado "incrivelmente ocupadas", garantiu Tannis Bundi.

"Esse tipo de iniciativa realmente deu uma oportunidade para que as pequenas empresas fossem vistas e apreciadas. Grandes corporações, como a Amazon, estão ganhando milhões e milhões de dólares, e há uma desconexão e um desapego. Por ser uma empresa pequena, tenho uma pegada de carbono muito menor e me interesso pela minha comunidade, de modo que estou mais propensa a voltar a investir nela por meio de caridade e contratação local", afirmou Tannis.

A Amazon não quis comentar este artigo.

Campanhas locais de vendedores independentes também surgiram nos Estados Unidos, com as livrarias em particular temendo não sobreviver à pandemia. Na França, houve uma reação nacional contra a Amazon e outros grandes varejistas, já que as empresas "não essenciais" fecharam em novembro. Em agosto, o órgão regulador da concorrência no Canadá iniciou uma investigação sobre as práticas comerciais da gigante do e-commerce.

Embora tenha havido algumas mudanças no comportamento do consumidor, Daniel Kelly, presidente e executivo-chefe da Federação Canadense de Negócios Independentes, estimou que uma em cada sete empresas no país, ou 225 mil delas, fechará por causa da pandemia. "Embora eu esteja entusiasmado com o movimento que está aí, sei que ele compete com uma força bastante significativa, e é a necessidade do fechamento das lojas por causa da pandemia que leva os clientes para os grandes magazines e a Amazon. Acho que, quando sairmos disso, as iniciativas de 'compras locais' terão evitado algumas das perdas, mas infelizmente não serão suficientes para ajudar a maioria dos pequenos varejistas a sobreviver", disse.

Nem tudo é ruim. Uma loja de Toronto, a Stainsby Studios, ficou surpresa com suas vendas de cerâmica, que triplicaram depois de ser destaque no Not Amazon. Outra, a livraria Glad Day, que oferece uma variedade de títulos LGBTQ, divulgou que a iniciativa aumentou as vendas de fim de ano em 30 por cento.

Como muitos outros donos de lojas, Mary Oliveira ficou assustada quando o primeiro confinamento do país entrou em vigor em março. Mas, segundo ela, sua loja de chocolates de Toronto, Mary's Brigadeiro, de cinco anos, já tinha uma presença on-line que lhe tem garantido uma renda constante durante a pandemia.

Nas últimas semanas, vários clientes novos lhe informaram que haviam encontrado sua loja por intermédio do Not Amazon, ao qual ela havia sido adicionada, mas de que nunca tinha ouvido falar. "Notamos que mais pessoas faziam compras aqui", comentou Oliveira, de 30 anos, que ficou surpresa ao descobrir que 27 por cento de seus compradores on-line tinham vindo por meio do Not Amazon. "Com isso, acabamos de vender na semana passada tudo o que estava previsto para a temporada. Isso nunca aconteceu antes."

Em novembro, ela contratou mais quatro funcionários e agora está pensando em abrir outras unidades em Toronto. Oliveira, natural do Brasil, disse que a iniciativa de "compra local" trouxe um novo senso de pertencimento, especialmente quando ela via as inúmeras entregas da Amazon ao mesmo tempo que as empresas locais passavam por dificuldades.

Oliveira contou que lidar com os atrasos na entrega como proprietária de uma pequena empresa era frustrante, pois às vezes ouvia os clientes dizerem que a Amazon é muito mais rápida.

Segundo ela, o sucesso de sua loja também coincidiu com mais conscientização pública e maior apoio a empresas de propriedade de negros e indígenas depois dos protestos do Black Lives Matter para abordar o racismo e a brutalidade policial no Canadá no ano passado. Dar uma força às empresas com proprietários negros, indígenas ou gays também é um dos objetivos do Not Amazon.

"Acho que as pessoas perceberam que estamos aqui também, e que enfrentamos um monte de dificuldades que muita gente não vê; no meu caso, por ser negra e imigrante no Canadá", afirmou Oliveira.

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