Há um ano atuando em home office, Karina Camargo, sócia-diretora da DK2 Serviços de Segurança, Monitoramento, Limpeza e Conservação, está em busca de ferramentas adequadas e para manter sua produtividade e dos funcionários (Ricardo Matsukawa/Sebrae/SP)
“O último a sair apaga a luz.” Muitos trabalhadores devem ter dito ou ouvido essa frase em março de 2020, quando foi decretada oficialmente a pandemia de Covid-19 no Brasil. Desde então, a mesa de jantar e alguns outros ambientes de casa tiveram de ser adaptados para abrigar novas estações de trabalho, com a adoção imediata do home office para que muitas empresas continuassem suas atividades. Porém, o retorno aos escritórios parece um plano para o futuro, já que os protocolos sanitários continuam em vigor há mais de um ano.
Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em novembro de 2020 trabalhavam de casa cerca de 7,3 milhões de brasileiros. O Sudeste concentra cerca de 58,3% dessa população, sendo a região com o maior número trabalhadores em regime de home office. Uma das empresas que se apressaram a adotar esse estilo de trabalho foi a DK2 serviços de segurança e monitoramento, que colocou seus colaboradores para atuar em casa logo no início das restrições.
Para a sócia-diretora da DK2, Karina Camargo, o primeiro desafio na época foi encontrar formas de se adaptar à nova rotina. “Foi um momento de aprendizado para lidar com reuniões virtuais e a gestão dos processos. Aumentamos o número de conferências e encontramos ferramentas que ajudassem acompanhar as entregas de cada um. A maior questão que tivemos no começo e que ainda se mantém é lidar bem com a comunicação”, afirma.
Um dos principais fatores que foram afetados por esse longo tempo de trabalho remoto foi o relacionamento entre os funcionários. Karina conta que algumas pessoas mostraram que sentiam falta dessa relação interpessoal, o que afetou a produtividade. “Chegou uma determinada época que dava para perceber que a equipe estava desmotivada, porque sentiam a necessidade da coisa física. Muitas vezes, ficar em casa faz com que você acabe se envolvendo também com os problemas domésticos”, analisa a empresária.
Essa percepção não foi exclusividade de Karina; outros profissionais também tiveram de se adequar à nova realidade. Isso fez com que buscassem ajuda em mentorias para lidar com a situação, como conta o consultor do Sebrae-SP Wilson Borges de Carvalho. “Muitos empresários relataram que buscaram terapias, aconselhamentos e o Sebrae para trabalhar não só a gestão dos negócios, mas os próprios comportamentos.
Eles tiveram um foco muito grande em trabalhar melhor a iniciativa, buscar oportunidades em outros meios e criar planos de metas. Percebi esse amadurecimento não só no gerenciamento, mas também na inteligência emocional para lidar com o momento”, diz Carvalho.
As dificuldades de acesso aos mercados e a alta concorrência das vendas digitais se somaram à insegurança dos empreendedores. “Os volumes de venda e os acessos a mercados estão mais restritos. A internet é algo grandioso, mas diversos outros negócios estão ali para competir, diferente de quando essas empresas estavam de portas abertas e eram referências em um determinado local. Por isso, é importante conhecer as técnicas de marketing e gestão financeira para enfrentar essas inseguranças”, explica Carvalho.
Apesar dos pesares da pandemia, algumas empresas conseguiram ver o home office de maneira mais positiva, avaliando como um modelo de trabalho viável para os próximos anos. Esse foi o caso da startup Cely, que desenvolve uma plataforma de marketing de influência para conectar criadores de conteúdo com marcas.
Leandro Bravo, cofundador e CMO da Cely, conta que mesmo com um ambiente moderno e equipado na região dos Jardins, em São Paulo, esse momento trouxe uma movimentação efetiva para trabalhar apenas de forma remota. “Estamos em um processo de identificação desses modelos. A área de tecnologia, por exemplo, trabalhará apenas em home office, o que nos permitiu buscar profissionais em diferentes Estados. Além disso, conseguimos conversar com alguns colaboradores para que se sentissem mais confortáveis de estarem mais próximos da família e continuarem atuando com a gente”, explica.
O espaço físico ainda continuará funcionando, porém, Leandro estima que a definição de escalas mais flexíveis permitirá que a empresa possa crescer sem mudar muito as estruturas atuais. “Nosso objetivo é manter uma área menor do que a empresa realmente é. Isso significa que quando tudo estiver normalizado, teremos a oportunidade de criar uma escala que nos permita aumentar a empresa em até três vezes, sem precisar mudar de lugar, apenas reduzindo o número de pessoas simultaneamente no espaço”, afirma.
Para o consultor do Sebrae-SP, mesmo os negócios presenciais poderão enxergar formas de inserir o home office como modelo fixo para parte de sua equipe. “Os empresários perceberam que o trabalho remoto não é improdutivo, então eles estão correndo atrás de formalizar isso. Até mesmo serviços que dependem muito do local físico, por exemplo oficinas mecânicas, poderão manter a equipe de vendas em casa sem problemas. O home office será uma realidade para o momento da retomada, que será feita de forma mais enxuta”, explica.
No apartamento
Enquanto alguns negócios estavam mudando para home office, outros foram pensados e desenvolvidos dentro de casa. Exemplo disso foi a Easy Car Wash, uma startup que conecta motoristas a lava-rápidos mais próximos. André Cordeiro de Mello, cofundador da plataforma, conta que começou a trabalhar em casa em 2014, por conta de um problema de saúde e uma questão logística da empresa em que atuava na época. Entre as dificuldades, ele observa que o ambiente caseiro pode atrapalhar a concentração. Além disso, há quem não veja com bons olhos quem trabalha em casa. “Quando comecei, algumas pessoas olhavam meio torto quando falava que trabalhava em casa. Mal sabiam elas que sempre se trabalha mais, porque, se tem um problema, você vai até o fim para resolver”, conta.
Com a plataforma funcionando, o empreendedor conseguiu ver as vantagens do home office. “Hoje, os atendimentos que fazemos a estabelecimentos por meio das mídias digitais têm um resultado melhor que os presenciais, porque os proprietários entram em contato quando estão com mais tempo. Antes, as visitas eram sempre interrompidas pelas tarefas dos lava-rápidos que os donos do local precisavam realizar”, explica. Além dos planos de expansão, Mello comenta que a decisão de trabalhar em casa não será mudada no futuro. “Eu e meu sócio gostaríamos de manter as coisas de forma híbrida, com o presencial para situações mais pontuais, como reuniões, ou momentos mais críticos do desenvolvimento da plataforma”, diz.
O consultor do Sebrae-SP Wilson Borges de Carvalho preparou algumas dicas para os gestores aplicarem em suas empresas e obterem uma experiência melhor de home office para todos.
Cuide das pessoas
O que faz o home office ser um sucesso são as pessoas. Para isso, convoque a equipe e demonstre confiança e preocupação com a saúde deles, sem se esquecer dos resultados. Desenvolva uma governança para que os colaboradores tenham mais autonomia na busca dos objetivos estabelecidos.
Desenhe um plano estratégico
Este é um momento de sobrevivência para muitas empresas, então é preciso entender o que será necessário para isso. Defina quais são os objetivos financeiros, comerciais e o custo estrutural. Não se esqueça de comunicar internamente para que todos saibam qual é o plano de ação.
Negocie o essencial para a empresa
Busque negociar com fornecedores dos principais produtos ou matérias-primas para o funcionamento do negócio. Desenvolva uma lista de prioridades dos credores e entre em contato com essas pessoas com propostas que sejam benéficas para ambos.
Defina as políticas do home office
Se, no futuro, o home office for uma solução definitiva ou híbrida da empresa, defina agora quais são as políticas para esse tipo de trabalho. Assim será mais fácil alinhar as expectativas de entregas dos colaboradores.
Inove para engajar
Muitas vezes, inovação está associada a tecnologias, mas nesse caso estamos falando de ações para engajar. Aí cabe um pouco de imaginação, mas algumas ideias são: comemorar os aniversários por videochamada, reunir a equipe para uma pausa do café ou até mesmo uma happy hour de forma virtual.
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