Mark Zuckerberg (Getty Images/EXAME PME)
Da Redação
Publicado em 17 de março de 2011 às 09h51.
No início de 2008, milhares de pessoas foram às ruas de Bogotá, na Colômbia, e de outras dezenas de cidades em várias partes do mundo. Com bandeiras e faixas, elas protestavam contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Dois meses antes, a guerrilha colombiana havia estipulado uma data para libertar três prisioneiros mantidos na fioresta. O dia chegou, mas a libertação não ocorreu.
De concreto, a manifestação não trouxe ninguém à liberdade, mas mostrou ao mundo o poder das redes sociais - e de uma em especial, o Facebook. As bases do movimento, batizado de Um Milhão de Vozes Contra as Farc, nasceram ali, por iniciativa de um engenheiro de Barranquilla, cidade do norte colombiano.
A construção de uma empresa que cresce na velocidade da luz, com base numa ferramenta que permite a um cidadão insatisfeito reunir em poucas semanas tantas pessoas com o mesmo objetivo, é o tema de The Facebook Effect - The Inside Story of the Company That Is Connecting the World ("O efeito Facebook - por dentro da empresa que está conectando o mundo"), lançado em junho nos Estados Unidos e ainda não publicado no Brasil.
Escrito pelo jornalista americano David Kirkpatrick, ex-editor de tecnologia da revista Fortune, o livro mostra como seu fundador, Mark Zuckerberg, fez o Facebook se tornar a empresa que é a cara do século 21 e alvo de cobiça de investidores. Desde que Larry Page e Sergey Brin criaram o Google, em 1998, não havia surgido um negócio com um crescimento tão extraordinário na internet. Fundado em 2004, quando Zuckerberg tinha 19 anos e era estudante da Universidade Harvard, o Facebook era apenas uma ferramenta para ajudar os alunos da faculdade a se comunicar. Neste ano, deve faturar 1 bilhão de dólares e alcançou, em agosto, valor de mercado de 25 bilhões de dólares.
O maior tesouro da empresa são as informações de seus usuários. Com mais de 500 milhões de perfis em todo o mundo, o Facebook está formando o maior banco de dados pessoais da história, em que seus integrantes revelam que tipo de música gostam, quais lugares têm vontade de visitar, suas preferências políticas, literárias, estéticas. É visto como o Santo Graal da publicidade - e Zuckerberg tem mostrado como aproveitar o privilégio de ser o guardião de tal relíquia.
Assediado por empresas como Yahoo!, Microsoft e Google desde os primeiros anos de operação, Zuckerberg demonstrou habilidade para negociar. Em 2007, consciente da rivalidade entre Microsoft e Google, ele manteve conversas dos dois lados, até amarrar um acordo com a Microsofit, que colocou 240 milhões de dólares no Facebook em troca de apenas 1,6% de participação. Levantar recursos era estratégico. Na época, mais da metade dos então 50 milhões de usuários já estava fora dos Estados Unidos.
Segundo Kirkpatrick, a meta de Zuckerberg é fazer do Facebook a mais importante plataforma da internet e uma referência para tudo o que acontece na web. Zuckerberg quer que, num futuro bem próximo, em vez de recorrer ao Google para colher informações sobre uma máquina fotográ fica ou um médico, os consumidores prefiram se basear na opinião de outras pessoas, usando o Facebook. Superar o Google como maior negócio da internet - eis a pretensão de Zuckerberg, segundo o livro.
Não é de hoje que o Google provoca um encantamento em Zuckerberg. Em meados de 2006, após receber o primeiro aporte de um grupo investidor, o Accel Partners, ele procurou no mercado engenheiros de computação qualificados para desenvolver ferramentas para o site. Mas a empresa dos desejos dos jovens recém-saídos das universidades era o Google, e não o Facebook. Zuckerberg mandou então espalhar cartazes pelo departamento de ciência da computação da Universidade Stanford, na Califórnia, com a mensagem: Por que trabalhar no Google? Venha para o Facebook. A simples menção de que alguém estava sendo entrevistado para trabalhar no Google, conta o livro, despertava de imediato o interesse de Zuckerberg. Atrair talentos não é mais um problema. Hoje, até o chef de cozinha responsável pelo restaurante da empresa é ex-funcionário do Google.
Na faculdade, Zuckerberg passava o tempo com os amigos desenvolvendo projetos de sites e softwares. Um dos primeiros foi o Facemash, uma brincadeira para que os alunos votassem nas garotas mais bonitas da escola. O Facemash ficou apenas algumas horas no ar e quase rendeu a expulsão de Zuckerberg, acusado de usurpar as fotos dos estudantes dos computadores da faculdade.
A confusão serviu para que Zuckerberg percebesse o interesse dos alunos num site de relacionamento que juntasse pessoas conhecidas do ambiente universitário. A rede foi um sucesso logo no início e, em poucos meses, Zuckerberg recebeu pedidos de outras instituições de ensino americanas para ter acesso ao site. Em 2006, o Facebook foi aberto para além do mundo acadêmico.
Kirkpatrick conta como Zuckerberg, ainda hoje principal executivo da empresa, nunca pensou duas vezes para demitir pessoas que, na opinião dele, não eram mais importantes - mesmo que fossem seus amigos pessoais. O primeiro deles foi o brasileiro Eduardo Saverin, seu colega de Harvard - e também o primeiro a colocar dinheiro no que então era o embrião da empresa. Pouco depois, em 2005, foi a vez de Sean Parker, cofundador do programa de compartilhamento de músicas Napster e braço direito de Zuckerberg no início do Facebook. Parker foi demitido após seu envolvimento num episódio com drogas durante uma festa. Alguns desses episódios resultaram em ações na Justiça, entre elas a de Saverin, que reivindica uma participação acionária maior.
O livro de Kirkpatrick é econômico em números, como também é o Facebook em sua política de comunicação. Como a companhia não é ainda listada em bolsa - a abertura de capital está prevista para 2012 -, são raras as declarações de seus executivos sobre as finanças. Sabe-se, porém, que o Facebook superou o grande desafio das empresas de internet: ser rentável. Nos Estados Unidos, sua participação de mercado é de 9,2% do total de internautas, ante 7,4% do Google. Eles ficam conectados em média 6 horas por mês - e apenas 1 no Google.
Em meio a passagens que descrevem Zuckerberg, hoje com 26 anos, como um garoto tímido, quase meigo, Kirkpatrick também relata histórias que revelam um empreendedor astuto, ambicioso e centralizador. "Ele tem tendências imperialistas", diz Parker. No livro, fica também evidente o quanto Zuckerberg defende o Facebook como uma ferramenta social, em discursos quase altruístas. "Mesmo que esse papo seja só uma estratégia, ele faz isso muito bem. Às vezes, ficamos na dúvida sobre suas reais intenções", afirma um executivo de uma empresa de tecnologia ouvido por Kirkpatrick.
O autor relata por que Zuckerberg saiu de férias em março de 2008 para mochilar por países da Ásia. A viagem aconteceu logo após a contratação de Sheryl Sandberg, exexecutiva do Google, para traçar uma estratégia para aumentar as receitas com anúncios e ferramentas que condicionam os usuários a pagar por jogos e presentes virtuais. Blasé em relação aos anunciantes, Zuckerberg, de acordo com seus amigos, precisava dar espaço para que Sheryl cumprisse sua meta no Facebook - sem parecer que ele estava abrindo mão de suas convicções para ganhar dinheiro.