O professor Fernando Ruiz, durante disciplina "Estratégias em Jogo": curso é ministrado na graduação de Administraçao na ESE - Escola Superior de Empreendedorismo Sebrae-SP (Ricardo Matsukawa/Ricardo Yoithi Matsukawa-ME/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)
Mariana Fonseca
Publicado em 30 de junho de 2019 às 08h00.
Última atualização em 30 de junho de 2019 às 08h00.
Quando David Costa, aluno de Administração da Escola Superior de Empreendedorismo Sebrae-SP (ESE), soube que iria jogar pôquer como forma de aprendizado de empreendedorismo, duvidou da metodologia. Mas, logo nas primeiras aulas da disciplina Estratégias em Jogo, ministrada pelo professor Fernando Ruiz, sua opinião mudou.
“É incrível ver as correlações das estratégias utilizadas durante o jogo com o mundo de negócios. Por exemplo, aprendi a decidir de forma empática, considerando a reação de um concorrente conforme minha tomada de decisão. E também quais variáveis observar para formular minhas estratégias”, conta.
A ideia de usar o pôquer para ensinar competências empreendedoras surgiu há cerca de três anos, quando Ruiz, doutor em Administração, consultor de empresas e jogador recreativo regular de pôquer, percebeu como sua formação em gestão era um diferencial para o bom desempenho nos torneios de que participava.
Antes, a metodologia de ensino era utilizada apenas em módulos curtos de cursos de extensão e cursos de pós-graduação em outras instituições de ensino superior. Porém, na graduação da ESE, a ideia de Ruiz foi instituída como disciplina.
O pôquer foi escolhido como principal assunto de estudo das aulas porque as estratégias, as dinâmicas e as competências utilizadas no jogo são muito semelhantes (e, algumas vezes, as mesmas) que empreendedores de sucesso utilizam na gestão de seus negócios.
Aprender com os erros, saber lidar com perdas, resiliência, paciência, controle de impulsividade são apenas alguns exemplos de competências que um jogador de pôquer e um empreendedor de sucesso compartilham. Mas, a lista não para por aí.
Segundo o professor, o bom jogador de pôquer tem de desenvolver e praticar diversas competências semelhantes às de um bom gestor de negócios. A principal delas é a tomada de decisões.
“Tipicamente, um jogador profissional de pôquer toma cerca de cem decisões por hora de partida. E, em sua maioria, essas decisões são tomadas sob pressão, com informações complexas e incompletas. Elas devem ser as mais rápidas, racionais e calculadas possível. Nada muito diferente do dia a dia de um empreendedor, que frequentemente é obrigado a fazer escolhas que impactam o futuro do negócio, sem muito tempo para pensar e levando em consideração muitos fatores do negócio”, diz.
Outra importante habilidade compartilhada entre jogadores de pôquer e empreendedores é a tática. Estudos mostram que a sorte corresponde a menos de 20% do bom desempenho em um jogo do pôquer. Os outros 80% são as escolhas táticas dele.
“Algumas variáveis envolvem sorte. Como as cartas sorteadas para a sua mão naquela rodada de jogo. Mas, o mais importante é a estratégia. O mesmo se aplica à vida do empreendedor. Você pode escolher um nicho de mercado que terá um grande crescimento nos próximos anos ou dar sorte de encontrar um investidor aberto a ouvir sua ideia e interessado em sua proposta de negócio, mas se não tiver a estratégia certa para fazer a empresa crescer ou vender a ideia para o investidor, o negócio não vai para frente”, ressalta Ruiz.
A permanência de um jogador de pôquer em uma partida, assim como a sobrevivência de uma nova empresa no mercado, depende da habilidade de administrar os recursos.
Segundo Ruiz, uma vez que o jogador aposta todas as fichas nas primeiras jogadas, a chance que ele tem de se manter até o final do jogo diminuem muito.
E aqui está a analogia com o empreendedorismo: se o empreendedor aposta todos os seus investimentos em uma primeira versão do produto, antes de testar, validar, redirecionar e acertar, as chances de a empresa acabar antes mesmo de começar são enormes.
O pôquer não é um jogo de negociação. Mas ajuda o empreendedor a desenvolver essa habilidade. “Para ter um bom desempenho em uma partida de pôquer, além da tomada de decisões estratégias, a leitura de pessoas – dos adversários – também é fundamental”, diz Ruiz.
Saber “ler” os sinais que um fornecedor dá durante uma negociação, os sinais do sócio durante uma reunião ou os sinais de um investidor que tem o primeiro contato com sua ideia de negócios pode ser decisivo na condução positiva da conversa.
Para Caio Pereira, também aluno da graduação da ESE e jogador recreativo de pôquer, aprender a utilizar as estratégias do jogo fora da mesa é uma experiência única.
“Além da oportunidade de jogar pôquer com meus colegas e, assim, diminuir o preconceito com esse jogo antes considerado ‘de azar’, é maravilhoso aprender por meio de uma prática que gosto muito como analisar cenários e testar a aderência de ideias de negócios no mercado. Com certeza usarei esses aprendizados no momento de abrir minha empresa, quem sabe, antes mesmo de me formar na ESE”, diz.