Caio Almeida e Rodrigo Cava, fundadores da Estoca (Estoca/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 23 de março de 2021 às 06h00.
Última atualização em 23 de março de 2021 às 09h43.
A startup brasileira Estoca, que gerencia a logística para pequenas e médias empresas que vendem pela internet, não poderia ter começado suas operações em momento melhor. Fundada pelos sócios Caio Almeida e Rodrigo Cava, a empresa chegou ao mercado em fevereiro de 2020, um mês antes da pandemia de coronavírus tomar o país. De lá para cá, o mercado potencial da companhia só cresceu. Sem poder comprar e vender no varejo físico, pelo menos 150.000 lojas e 20 milhões de consumidores entraram no e-commerce, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico.
Esse boom do varejo online nacional favoreceu a companhia. Em setembro, com seis meses de operação, ela já tinha 10 clientes usando seus serviços e operava, em média, 600 pedidos por semana. Hoje, já são 25 clientes na base e cerca de 15.000 pedidos semanais administrados. Entre as empresas clientes estão a marca de roupas Insider Store, a empresa de beleza masculina Dr. Jones e a grife de tênis Yuool.
Seu modelo de negócio se divide em dua frentes. Na primeira, ela recebe os produtos dos clientes nos três galpões parceiros que possui em São Paulo, se responsabilizando pela gestão do estoque, empacotamento e envio dos produtos. Na segunda frente, as empresas administram sozinhas os envios, mas usam o software da companhia para gerir os pedidos feitos em diferentes canais de venda, como e-commerce próprio e marketplaces, e automatizar processos do envio, como a emissão de notas. "Em alguns casos, conseguimos reduzir o tempo de processamento do pedido de dois dias para menos de 24 horas", diz Caio Almeida, presidente e fundador da companhia.
A proposta da Estoca conquistou investidores logo de cara. Para tirar o projeto do papel, Almeida e Cava conseguiram aportes da gestora de venture capital Canary e de investidores-anjo como Fabien Mendez, cofundador da Loggi, e Andrés Bilbao, cofundador da Rappi. No final do ano, a startup foi selecionada para a turma de inverno da aceleradora americana Y Combinator, por onde passaram empresas como Rappi, Airbnb e Quero Educação.
Nesta terça-feira, 23, a empresa faz sua apresentação no tradicional Demo Day da Y Combinator, em que poderá mostrar sua solução para investidores globais. Foi justamente para poder acessar essa rede internacional de fundos e empreendedores que os fundadores quiseram participar do programa. "Fomos expostos a um forte networking lá fora e pudemos conversar com empresas que são a Estoca da Indonésia e da Índia", diz Almeida.
A startup diz que não está buscando um aporte no momento, mas segue conversando com investidores enquanto expande o negócio. Hoje, sua equipe é composta de sete pessoas e deve terminar o ano com pelo menos mais 18 contratados. Em doze meses, a Estoca planeja estar operando a entrega de 100.000 pedidos por semana. "Temos metas agressivas de crescimento agora que entendemos que a nossa tecnologia se mostrou capaz de processar muitos pedidos por vez", afirma o fundador.
Almeida, formado em engenharia mecânica pela Universidade de Salvador, trabalhou por alguns anos em empresas da construção civil e mineração antes de empreender. Em 2016, ele fundou a Alugalogo, especializada no aluguel de equipamentos da construção civil. A startup chegou a ser eleita a melhor do programa de residência do Google Campus, mas Almeida decidiu deixar o negócio para ir trabalhar na operação brasileira da Uber.
Foi lá que ele conheceu o cientista da computação Rodrigo Cava, formado pela Universidade de São Paulo. Os dois ficaram amigos e decidiram buscar um projeto para empreender juntos. Estudando o mercado de logística brasileiro, perceberam que havia espaço para tentar melhorar as entregas de última milha. "Tínhamos o entendimento de que e-commerces iriam precisar entregar cada vez mais rápido. Era uma tendência que já acompanhávamos lá fora, com as entregas no mesmo dia se espalhando pelos Estados Unidos", diz o presidente.
A Estoca, então, nasceu com a proposta de trazer mais inteligência para o e-commerce. A longo prazo, os sócios esperam que a empresa adote uma estratégia preditiva de gestão de estoque. Para isso, eles precisam ter dezenas de galpões de logística parceiros espalhados pelo país. A ideia é usar análise de dados para prever o comportamento dos usuários de cada região, enviando os produtos para o estoque mais próximo antes mesmo que a compra seja. "Queremos democratizar o serviço de fulfillment no Brasil, em especial para marcas que vendem ou querem começar a vender direto para o consumidor", afirma Almeida.