Home office na pandemia do coronavírus: A Apponte.me, plataforma de registro de ponto, está oferecendo seu serviço por 60 dias (Hero Images/Getty Images)
Karin Salomão
Publicado em 25 de março de 2020 às 08h00.
Última atualização em 26 de março de 2020 às 12h52.
Com o fechamento de comércios, academias, centros de lazer e outros empreendimentos em centenas de cidades brasileiras, para prevenir a contaminação por coronavírus, empreendedores precisam encontrar soluções para a sobrevivência do negócio.
Os pequenos negócios e microempreendedores estão entre os públicos que mais devem sofrer durante o período. Muitos não têm reserva ou capital de giro para manter certas obrigações financeiras.
Alguns setores já receberam medidas de suporte. Como praticamente todos os shoppings do país foram fechados por decretos públicos, zerando as vendas desses estabelecimentos, os lojistas buscaram soluções para reduzir as perdas no período. Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), que representa as donas das redes de centros de compras, como BRMalls, Iguatemi, Multiplan, entre outras, a cobrança de aluguel dos lojistas será adiada para o fim da crise.
Para os restaurantes, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) tenta negociar alternativas junto aos governos federal, estadual e municipal. A associação também está conversando com os aplicativos de entrega para que eles reduzam a taxa que cobram dos restaurantes pelo uso da plataforma — que pode chegar a 30% do valor do pedido.
Startups, PMEs e grandes empresas também estão criando soluções para empreendedores nesse momento de crise, como acesso gratuito a plataformas ou a mentorias, novos serviços e até acesso a crédito. Confira algumas iniciativas abaixo.
Com o aumento repentino do trabalho em home office por conta do isolamento social, muitas empresas estão precisando repensar o modelo de trabalho. A Apponte.me, plataforma de registro de ponto, está oferecendo seu serviço por 60 dias. A startup foi criada há quatro anos em Santo André, SP, para descomplicar e baratear o registro de pontos. Criou uma maneira de registrar o ponto de forma mais digital ao tirar a foto do colaborador, seja com um tablet para registro no escritório ou um aplicativo para funcionários remotos. Hoje, cerca de 5.400 CNPJs usam as soluções da startup.
Em apenas uma semana desde que lançou a iniciativa gratuita, a Apponte.me recebeu 350 contatos, a maior parte de pessoas e empresas que não conheciam a plataforma. “O brasileiro não está acostumado a fazer home office”, afirma Daniel Godoy, presidente da Apponte.me. “Mas, com essa crise, muitas pessoas vão descobrir que o modelo funciona e pode até aumentar a produtividade. É uma descoberta boa desse período difícil”, diz.
O Hybank, fintech de gestão financeira para o microempreendedor, abriu seus canais de atendimento para tirar dúvidas do seu público. Por meio de e-mails, redes sociais e chats, os empreendedores podem tirar dúvidas e discutir estratégias para manter o negócio saudável. A startup Consolide Registro de Marcas colocou seu time jurídico à disposição para consultorias para micro e pequenos empresários tirarem dúvidas a respeito de antecipação de férias, liberação de FGTS, jornada home office e outras questões.
João Gabriel Chebante, fundador da Sucellos, consultoria de gestão estratégica de marca e para investimento de risco, está disponibilizando mentorias de uma hora para startups e empreendedores. "Momentos de crise podem levar empresários e empreendedores a fazer uma reflexão sobre o negócio", diz ele. A ideia é ajudar as empresas a repensarem seu negócio e a buscarem soluções como novos produtos, linhas de crédito especiais e negociar o aluguel da loja e escritório, por exemplo.
A Dobra, fabricante de produtos com um material semelhante a papel, mudou completamente seu modelo de negócios em um dia. A startup, que completa quatro anos esse mês, viu que suas vendas começaram a cair há quase duas semanas e decidiu criar um novo site, chamado Dobraflix, separado da plataforma de venda de carteiras, camisetas e sapatos.
O objetivo é oferecer conteúdo e cursos para empresários, empreendedores e funcionários, como dicas para criar um negócio de impacto, economia colaborativa e capitalismo consciente. Cerca de 10 mil pessoas já se inscreveram para acessar o material.
Outras empresas também passaram a oferecer conteúdo pela plataforma Dobraflix, como Warren, WTF! School, Aviva e Smile Flame “Ressignificamos nosso negócio. Mais pessoas estão conhecendo nossa empresa e compartilhando o que fazemos”, diz Guilherme Massena, cofundador da Dobra.
Muitos pequenos negócios não têm uma reserva ou valor em caixa o suficiente para passar por esse período sem sérios riscos à sua saúde financeira. Bancos e empresas lançaram fundos de apoio a esse público.
É o caso da Stone, processadora de pagamentos, que anunciou que disponibilizará 100 milhões de reais em microcrédito para as empresas varejistas localizadas em estados que decretaram medidas restritivas de contenção da pandemia de coronavírus (Covid-19). A companhia também destinará 30 milhões de reais em incentivos financeiros aos clientes, como isenção de mensalidade no mês de maio para todas as máquinas e entrega de maquininhas adicionais sem custo para operação de delivery, por exemplo. A companhia espera beneficiar cerca de 200 mil clientes em todo o país com essas medidas.
A empresa de delivery brasileira iFood também divulgou na semana passada que irá destinar 50 milhões de reais do seu faturamento a um fundo de assistência a restaurantes, com foco especial nos pequenos estabelecimentos locais — fortemente impactados pela crise provocada pela pandemia de coronavírus.
O iFood informou que irá antecipar os recebimentos dos restaurantes que operam na plataforma, sete dias após a venda feita pelo aplicativo. Pelos cálculos da empresa, isso irá injetar até 600 milhões de reais no mercado brasileiro. A empresa de delivery anunciou ainda a criação de um fundo de 1 milhão de reais para dar suporte aos motoristas parceiros que precisarem se ausentar pelo coronavírus.
O Santander Brasil anunciou condições especiais em soluções financeiras para dar fôlego ao empreendedor. As empresas clientes do banco contam com três meses de carência para o pagamento da primeira parcela ao contratar linhas de capital de giro. Para isso, basta receberem em sua conta do Santander o dinheiro das vendas de qualquer maquininha de cartão. Já os clientes MEIs (Micro Empreendedores Individuais) podem ser isentados do pagamento da cobrança da tarifa de pacote de serviços e realizar TEDs e DOCs gratuitamente por até dois meses, se utilizarem o valor das tarifas como crédito para o pagamento de contas de energia, água, telefonia e outros em débito automático e DDA.
O Banco do Brasil anunciou que micro e pequenas empresas poderão prorrogar o pagamento das próximas duas parcelas de seus financiamentos junto ao banco, em medida para ajudar o segmento a garantir pagamento de funcionários e fornecedores. O banco afirmou que as parcelas prorrogadas serão migradas para o final do cronograma de pagamento das dívidas. A instituição também afirmou que a incidência de juros será diluída ao longo do financiamento.