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Ingresse: a consolidação do mercado de tickets online

Após rodada de investimento, plataforma de vendas de ingresso online Ingresse ruma para ser a número 1 do setor

Marcelo Bissuh e Gabriel Benarrós, da Ingresse: empresa fundada em Manaus concorre no fragmentado setor de ticketeria (Rodrigo Castelo Branco/Divulgação)

Marcelo Bissuh e Gabriel Benarrós, da Ingresse: empresa fundada em Manaus concorre no fragmentado setor de ticketeria (Rodrigo Castelo Branco/Divulgação)

NB

Naiara Bertão

Publicado em 8 de março de 2018 às 19h08.

Última atualização em 13 de março de 2018 às 19h41.

Fundada em Manaus, startup de ingressos online Ingresse acaba de receber seu quarto aporte e está fechando vários negócios para dominar um mercado promissor e pulverizado no Brasil. Conforme EXAME anunciou com exclusividade, a startup acaba de captar sua quarta rodada de investimento, de 20 milhões de reais, com antigos e novos investidores, entre eles os fundos Qualcomm, Confrapar, Meli Fund (Fundo do Mercado Livre), XZ Ventures (fundo da Ambev) e o FJ Labs, que tem participação em empresas como Dropbox e Uber. Com dinheiro em caixa, partiu para o segundo passo: a consolidação do mercado de ingressos online.

Ainda em fevereiro costurou a fusão com a concorrente Total Acesso, que promove grandes eventos como o Festival do Peão de Barretos e de Jaguariúna, o carnaval no Rio de Janeiro, entre outros. “Com a rodada queremos fazer aquisições e investir nas integrações operacionais já em curso”, diz Gabriel Benarrós, sócio fundador junto com seu conterrâneo de Manaus Marcelo Bissuh, sócio responsável pela tecnologia da empresa. O objetivo é se tornar a maior plataforma de vendas de festas.

 Quando cursava o ensino médio em Manaus, Benarrós, hoje com 27 anos, nunca imaginou que iria empreender. Aos 17 anos, ele deixou o curso de Medicina na Universidade Federal do Amazonas e se mudou para Palo Alto, na Califórnia, berço do pujante Vale do Silício, para estudar Economia na Universidade Stanford. Foi quando organizava uma festa de um amigo que veio a ideia: por que não encher a festa vendendo ingressos pela internet. A ideia deu tão certo que virou um negócio que movimentou em 2017 cerca de 350 milhões de reais em transações de compra e venda de ingressos pela internet. A meta da Ingresse é fazer pelo menos 500 milhões de reais este ano. 

Desde sua fundação em 2011, a empresa já recebeu 43 milhões de reais em investimentos (contando com a quarta e última captação). Parte do capital deverá ser utilizada para melhorar a tecnologia, contratar mais desenvolvedores, fazer mais campanhas de marketing e investir em novos serviços. “Vemos muito potencial a ser explorado neste mercado, como em patrocínios de empresas. Lançamos recentemente uma tecnologia de anúncios de ingressos digitais para explorar essa vertente”, diz Benarrós.  Outro serviço que está em teste é uma plataforma de assinatura mensal de festas e shows, a Owles. Por 39,90 reais ao mês será possível ir a quantos eventos quiser desde que estejam disponíveis e, caso algum evento não estiver contemplado no pacote, é possível comprar com descontos.

Consolidação

Em mercados pulverizados como o de venda de ingressos, é comum movimentos de consolidação. Estima-se que as principais companhias que atuam neste setor respondam por apenas 12% do mercado. O resto está espalhado entre pontos de venda físicos e plataformas pequenas. A fragmentação aponta para uma oportunidade de consolidação, o que já vem acontecendo. O primeiro grande movimento foi a aquisição da Ingresso.com pela americana Fandango em setembro de 2015 por 280 milhões de reais. Na ocasião, a americana conseguiu desbancar a Movile, grupo brasileiro de tecnologia, que também estava no páreo pela empresa.

A Ingresso.com foi pioneira no Brasil, quando, em 1995, seus fundadores descobriram um canal de alta retenção ao oferecer aos cinemas o sistema de gestão de vendas de ingressos em troca de exclusividade da comercialização pela internet e, mais tarde, em totens eletrônicos. Naquele momento, quase não se comprava ingresso pela internet e não houve muita dificuldade em convencer os cinemas a ceder os direitos de venda online. Aposta deu certo e hoje a Ingresso.com é a maior referência no segmento de filmes, que conta com 180 milhões de espectadores e movimenta 2,7 bilhões de reais, segundo dados de 2017 da Agência Nacional do Cinema (Ancine). São 1 500 pontos de vendas instalados em bilheterias de cinemas de 50 cidades brasileiras. O crescimento anual gira em torno de 30% e, só em 2017, a Ingresso.com emitiu 10 milhões de tickets.

Mas a Fandango não foi a única a enxergar uma oportunidade no mercado brasileiro. Em junho de 2016, a gigante sul-africana de tecnologia, Naspers, adquiriu uma fatia minoritária na brasileira Sympla, que vende ingressos para shows, congressos e outros eventos corporativos, através do grupo Movile, da qual é a principal investidora, e entrou no mercado brasileiro para competir com as menores. Em novembro do ano passado foi a vez da americana Eventbrite fundir suas operações no Brasil com a Sem Hora, promotora de festas. Além da integração com a Total Acesso em fevereiro deste ano, a Ingresse planeja mais negócios do tipo este ano.

Potencial

Comodidade certamente é o maior impulsionador do mercado de tickets online. Cenas de filas quilométricas e com horas de espera para comprar ingressos em jogos, shows e festas são quase impensáveis em um mundo em que o consumidor pode fazer tudo pelo smartphone em poucos minutos. Segundo estudo da consultoria PwC, o mercado mundial de mídia e entretenimento deve movimentar 2,23 trilhões de dólares em 2021, crescimento anual de 4,2%.

No Brasil, o setor deve faturar 43,7 bilhões de dólares daqui três anos. Além dos segmentos que mais vendem ingressos pela internet, como cinema, jogos esportivos e shows/festas, os números incluem também outros tipos de entretenimento como streaming de música, vídeo games e livros. No último relatório da  E-bit, empresa especializada em informações sobre comércio eletrônico, em 2016 o mercado de ingressos online faturou 3,5 bilhões de reais, o dobro de 2012. Nos Estados Unidos, este setor movimenta 9 bilhões de dólares, com uma taxa de crescimento anual média de 13% de 2012 a 2017. Por lá, cerca de 20% de todos as entradas de eventos são comercializadas pela internet. Em países como Noruega e Alemanha, passa de 40%, segundo dados do site de estatísticas e análise de dados Statist. No Brasil não há números detalhados, mas estima-se que menos de 10% do total das vendas de ingressos hoje é pela internet, o que mostra que o potencial é grande. A estimativa é que cresça para 20% até 2021.

Um dos obstáculos para o crescimento é a salgada taxa de conveniência que, dependendo do evento, chega a 20% do valor do ingresso. Mesmo que, em alguns casos, parte desse valor fique com quem está organizando o evento, limita o crescimento do mercado. Recentemente uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo proibiu a empresa Ticket360 a cobrar a “taxa de retirada” quando o ticket é comprado pela internet, justamente por entender que é uma cobrança dupla, portanto, ilegal. Outro problema é o de fraudes financeiras. “Precisamos constantemente desenvolver e atualizar nossos sofisticados sistemas antifraude para a retirada dos ingresso, o que encarece a operação”, diz o fundador da Ingresse.

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