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Histórias para contar em papel

Como a jornalista Eileen Gittins criou um negócio que dobra de tamanho a cada ano ao reduzir os custos de publicação de livros para autores iniciantes

Aparentemente na contramão do mercado por ser um negócio só de livros impressos, a Blurb dobra de tamanho a cada ano (Dave Di Biase/ stock.xchng)

Aparentemente na contramão do mercado por ser um negócio só de livros impressos, a Blurb dobra de tamanho a cada ano (Dave Di Biase/ stock.xchng)

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Da Redação

Publicado em 7 de setembro de 2011 às 08h00.

Enquanto o mercado era tomado pelas versões digitais de livros, a americana Eileen Gittins ousou fazer o caminho contrário. Sua empresa, a Blurb, fundada em 2005 em São Francisco, publica só edições em papel e vem ganhando muito dinheiro com isso.

Em 2010, atingiu um faturamento de 90 milhões de dólares e foi o negócio de mídia com a maior taxa de crescimento dos Estados Unidos, segundo a revista Inc. É que a Blurb não é uma editora tradicional. Eileen desenvolveu um software com recursos que permitem a qualquer pessoa criar e imprimir um livro com a qualidade dos que são expostos em livrarias.

Só no ano passado, a empresa recebeu a encomenda de 350 000 títulos. "Em dias de muita procura, um novo livro é produzido a cada segundo e meio", disse ela em entrevista para a Inc. 

Eileen tinha experiência como empreendedora antes de montar a Blurb. Jornalista de formação, ela trabalhou um breve período no departamento de marketing da Kodak antes de criar, com colegas, sua primeira empresa, que desenvolvia softwares de imagem para a indústria farmacêutica.


Não deu certo, mas a experiência serviu de aprendizado para seus dois negócios seguintes, ambos bem-sucedidos. Eileen começou a pesquisar novas tecnologias na Universidade de Washington e descobriu desenvolvedores que bolaram um software que combinava ferramentas de design com administração de dados.

Foi a base da Salsa Products, empresa que posteriormente lançou 17 linhas de produtos. Outro negócio que vingou foi a Personify, que ela fundou com outros desenvolvedores de software para fornecer informações aos clientes sobre o comportamento dos consumidores na internet. 

Após vender a Personify, Eileen atuou como consultora e conselheira de companhias do Vale do Silício. Sobrava tempo para ela fazer algo que sempre adorou, fotografar. Com um estímulo adicional para uma amante de tecnologia: na época, as câmeras digitais começavam a ser lançadas.

Movida por projetos, Eileen decidiu produzir retratos das 40 pessoas com quem havia fundado negócios. Depois, faria um livro com as fotos para presentear cada uma delas. Mas não encontrou nenhuma gráfica que imprimisse 40 cópias a um preço razoável.


"Ninguém queria aceitar um pedido de menos de 1 000 cópias, porque o serviço não seria rentável", afirma Eileen. Com tecnologias simples e relativamente baratas, como as dos programas de design mais populares, ela imaginou que a alternativa seria produzir os próprios livros. "Fiquei chocada ao descobrir que não existiam softwares de editoração eletrônica para amadores."

Durante dois anos, Eileen dedicou-se a desenvolver um software que permitisse a uma pessoa comum produzir seu próprio livro e que, ao mesmo tempo, fosse economicamente viável. Propôs a ideia a vários fundos de venture capital, que só a ouviram graças a seu histórico de realizações. “Lá estava eu sugerindo um modelo que ia do mundo digital de volta ao impresso”, diz ela. “Eles pensaram que eu era uma lunática.” 

Até que um deles aceitou patrociná-la. "Nossa plataforma precisava ser simples o suficiente para que qualquer pessoa com conhecimentos básicos de informática conseguisse usar", afirma Eileen. "Mas também tinha de ser divertida, porque editar seu próprio livro não pode ser um sofrimento."


Depois de muita pesquisa, ela chegou a um modelo bem didático, que oferece várias opções de layouts prontos com indicações sobre onde textos, legendas e fotos devem ficar. O download do software é gratuito. Depois que termina de editar o livro, o cliente cria uma conta no site da Blurb, importa o arquivo, informa quantas cópias vai querer e para qual endereço devem ser enviadas.

Um livro com formato de bolso, em preto e branco, custa 2,95 dólares por cópia. Os mais sofisticados, com capa dura, papel de qualidade, impressos em quatro cores, fotos e 400 páginas, chegam a 206,95 dólares. 

A grande maioria do público da Blurb é formada por fotógrafos, arquitetos, designers e funcionários de agências de publicidade, que usam sua plataforma para produzir cópias de portfólios e materiais impressos específicos para apresentar aos clientes.

Mas há também muita gente que encontra na empresa uma forma de concretizar um sonho, como montar um álbum comemorativo do aniversário de casamento ou um livro com fotos dos filhos. Hoje, além de criar e imprimir os livros, as pessoas podem vendê-los pelo site da Blurb. A empresa não cobra nada por isso.

Cada cliente que encomenda um livro ganha automaticamente uma conta para oferecê-lo na livraria virtual. E pode decidir se quer deixá-la privada, compartilhá-la com amigos ou oferecer para o mundo, ao preço que considerar mais adequado.  


Nos últimos anos, a empresa recebeu 22 milhões de dólares de fundos de investimento americanos, como o Canaan Partners e o Anthem Venture Partners, além de recursos de investidores individuais. O dinheiro foi usado para a expansão internacional da Blurb, que já está presente no Canadá, na Austrália, no Reino Unido e em grande parte da Europa.

"O negócio tem dobrado de tamanho a cada ano", afirma Eileen. Com base em sua razoável bagagem empreendedora, Eileen dá um conselho a outros donos de pequenos e médios negócios: "Quando você está construindo uma empresa, tem de saber que não dá para fazer tudo, precisa ter foco", diz.

"Na Blurb, nós construímos uma plataforma de internet para as pessoas produzirem seus próprios livros com a qualidade de uma livraria. E é isso, e só, o que fazemos."

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