Um investimento-anjo é um aporte em uma startup que está no início de sua trajetória, normalmente feito por uma pessoa física. (Foto/Thinkstock)
Karin Salomão
Publicado em 6 de setembro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 6 de setembro de 2018 às 06h00.
São Paulo - Anos depois de se formar no ensino superior e com a carreira já bem estabelecida, muitos voltam a se reunir com seus colegas de classe. Nos casos de alguns dos grupos de ex-alunos, a ideia não só é relembrar os velhos tempos, mas também falar sobre investimentos. Mais especificamente, investimentos-anjo, que são feitos em startups ainda nos seus primeiros estágios de desenvolvimento.
Mais comuns em outros países, no Brasil começam a surgir os primeiros grupos de investidores-anjo reunidos em torno de alguma instituição de ensino, como GVAngels, Poli Angels e Insper Angels. Apenas ex-alunos da FGV, Poli USP e Insper, respectivamente, são aceitos como membros e investidores.
Um investimento-anjo é um aporte em uma startup que está no início de sua trajetória, normalmente feito por uma pessoa física.
Muitos dos investidores já têm outras aplicações, como em renda fixa ou ações, mas veem o aporte em startups como muito mais do que uma fonte de rendimentos. Mais do que o capital, o investidor participa do início da startup como um mentor.
"Essas pessoas também investem em outras classes de ativos, mas têm o desejo de participar da jornada de criação de empresas", afirmou Leonardo Teixeira, diretor da Insper Angels e sócio da Iporanga Investimentos.
Para Marco Szili, porta-voz do Poli Angels e empresário, a missão é ainda mais abrangente. "O empreendedorismo busca inovação, cria riqueza, soluções e progresso para o Brasil" e, por isso, o grupo de investidores quer colaborar para o desenvolvimento de novos negócios.
Os membros desses grupos de investidores têm, normalmente, cargos altos em suas carreiras e, por isso, podem ajudar as startups com contatos e conhecimentos específicos do mercado. No Insper Angels, por exemplo, 60% dos membros são diretores e presidentes de empresas. Muitos levam os fundadores das startups para almoços com parceiros estratégicos e ajudam a desenvolver o modelo de negócios.
Apesar de todo esse acompanhamento, os investimentos-anjo são de alto risco, já que a mortalidade de startups é alta. “É um negócio perigoso, de alto risco, mas faz parte da sua natureza. Por outro lado, esperamos um retorno de cerca de 20 vezes o valor investido”, diz o empreendedor e investidor do GVAngels, Fábio Flaksberg.
O investimento é retomado quando a startup é vendida para um fundo, para outra empresa ou mesmo quando abre suas ações na Bolsa, o que é mais raro. O tempo médio de retorno é de dois a três anos, calcula Flaksberg.
O Insper Angels, criado em julho de 2017, conta com 150 investidores e já investiu em cinco startups. Só podem ser escolhidas empresas criadas por ex-alunos ou apresentadas por investidores do grupo. Cada investidor aporta, em média, 75 mil reais na startup.
A Poli Angels acabou de ser lançada e conta com 10 membros - a ideia é chegar a 50 no curto prazo.
Já a GV Angels, grupo mais maduro dos três, tem 80 membros e realiza rodadas de seleção e apresentação de startups a cada dois meses. Em 10 edições do Fórum de pitch, mais de 500 startups já foram avaliadas e cerca de 50 se apresentaram.
Além das apresentações, algumas startups também passam por uma avaliação mais profunda, chamada de deep dive. É nessa etapa que os avaliadores verificam as finanças, contratos e história dos fundadores com mais detalhes e soltam um relatório detalhado. Os investidores que se interessarem podem fazer um aporte na startup.
A cada rodada da GV Angels, cerca de 20 investidores aportam de 20 a 50 mil reais, investindo em média 500 mil reais em uma startup. A GVAngels já contribuiu com quatro startups, como a Espresso, de controle de gastos corporativos, a Estoks, de logística reversa, e a Instaviagem, aporte mais recente, de viagens personalizadas.