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Compra desta startup irritou muitos e reviveu passado obscuro da Microsoft

O GitHub é o paraíso para desenvolvedores de softwares livres. E vários insinuam que a venda para uma gigante pode acabar com a essência da startup

SATYA NADELLA: fãs da startup GitHub suspeitam que ela perca sua essência com a associação (heisenbergmedia/Flickr)

SATYA NADELLA: fãs da startup GitHub suspeitam que ela perca sua essência com a associação (heisenbergmedia/Flickr)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 6 de junho de 2018 às 11h00.

Última atualização em 17 de setembro de 2018 às 23h05.

São Paulo - Só faltou Satya Nadella, presidente da Microsoft, implorar para darem uma chance para a gigante da tecnologia. Era uma conferência com analistas, mas ele tinha um alvo claro: os programadores, especialmente os do Vale do Silício, que estão indignados com a aquisição da startup GitHub. Foram (nada módicos) 7,5 bilhões de dólares, ou 28,5 bilhões de reais na cotação atual.

Essa é a maior transação da Microsoft desde 2016, quando a gigante adquiriu a rede social de carreiras LinkedIn. Apenas em 2018, a gigante adquiriu cinco startups. Mais uma vez, o movimento de compra é estratégico: a GitHub é uma plataforma para a Microsoft adquirir mais desenvolvedores e, com isso, avançar no mercado de computação em nuvem. Porém, fãs da startup suspeitam que ela perca sua essência com a associação.

Entenda a polêmica

O GitHub é uma espécie de santuário para seus 28 milhões de desenvolvedores de softwares livres. A plataforma é como uma Wikipédia da programação, com 85 milhões de repositórios de códigos. Os usuários podem não só hospedar suas linhas programadas na nuvem, mas sugerir alterações em outros códigos e tirar lições valiosas do estudo do trabalho alheio.

Após o fechamento do negócio, o GitHub passará a fazer parte da unidade Intelligent Cloud da Microsoft. Nat Friedman, da Microsoft, assumirá o cargo de diretor presidente da GitHub, sediada em San Francisco (região que abriga o Vale do Silício). O atual presidente-executivo da GitHub, Chris Wanstrath, tornará-se um membro técnico da Microsoft.

O problema é que nem sempre a Microsoft defendeu toda essa liberdade nos códigos, movimento conhecido como open source. É a velha disputa filosófica entre os defensores da inovação exclusiva e da inovação aberta, que opõe desde companhias como Apple e Samsung até executivos como Warren Buffett e Elon Musk.

O antigo CEO da Microsoft, Steve Ballmer, chegou ao ponto de se referir ao software aberto Linux como “um câncer” na virada dos anos 2000. Ballmer voltou atrás - mas parte da comunidade desenvolvedora nunca o perdoou.

De acordo com o TechCrunch, o GitLab, um dos principais concorrentes do GitHub, viu seu tráfego aumentar após a notícia da compra pela Microsoft. Cerca de 100 mil códigos foram incluídos no GitLab desde o anúncio da aquisição. Geralmente, a startup costuma ver um volume de cerca de 15 mil códigos.

Mas há quem defenda a transação como uma oportunidade para o GitHub. Em artigo para o portal Venture Beat, o empreendedor Aaron Upright argumentou que é uma oportunidade para as funcionalidades do GitHub serem incluídas em diversas iniciativas da Microsoft.

"A aquisição deve permitir que o GitHub acelere seus investimentos em crescimento da comunidade, ou seja, fazer com que seja mais fácil do que nunca criar por meio do GitHub. É fácil achar falhas na Microsoft de décadas passadas, mas a Microsoft de 2018 está mais comprometida do que nunca com a experiência do desenvolvedor", escreve. Upright tem conhecimento do mercado: seu empreendimento é um software de gestão integrado ao GitHub.

Pivotagem e competição

Nadella assumiu a gigante em 2014 disposto a mudar o posicionamento da empresa. A Microsoft já é o desenvolvedor open source mais ativo no GitHub atualmente.

Inovar é preciso inclusive para diversificar fontes de receita: os programas do Windows, sistema operacional icônico da Microsoft, perderam aos poucos espaço para plataformas de computação em nuvem. A pioneira nesse mercado é a Amazon, com o serviço de 2006 AWS.

A Microsoft teve de imitar uma startup e pivotar seu modelo de negócio. Lançou um serviço similar em 2010, chamado Azure, e quer cada vez mais se curvar para atrair desenvolvedores open source. Um terço dos usos do Azure hoje, por ironia do destino, usam o código-fonte do Linux.

A chegada de Nadella só aprofundou o posicionamento de competição com Amazon e Google - e melhorou o humor dos acionistas. O indiano já começou seu mandato como presidente da gigante afirmando que “a Microsoft ama o Linux”, lá em 2014. Nesta semana, foi enfático ao dizer que o GitHub não será eliminado.

“Nós amamos desenvolvedores, incluindo desenvolvedores open source”, afirmou Nadella. “Nós reconhecemos a responsabilidade que temos com essa negociação. Estamos comprometidos a ser anfitriões da comunidade GitHub - que manterá seu ethos de foco em desenvolvimento, operará de forma independente e continuará como plataforma aberta.”

A Microsoft já corre há anos para recuperar o atraso. Resta saber se esse esforço será suficiente para convencer quem já estava há tempos na pista - como os amante da startup GitHub.

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