Charles Bonissoni (à frente) e os sócios Fabricio Maggi, Bruno Maggi, Fábio Borba, Gurlan Rosset e Eduardo Campagnoni (da esq. para a dir.): sertanejo universitário (Raphael Gunther)
Da Redação
Publicado em 31 de outubro de 2013 às 06h14.
Curitiba - É inútil tentar encontrar o estudante de direito Marco Aurélio Nastari, de 26 anos, em sua casa, no Juvevê, em Curitiba, nas noites de quarta, sexta-feira e sábado.
Seu paradeiro costuma ser o número 387 da rua General Mário Tourinho, no bairro Seminário, na zona sul da capital paranaense. É lá que funciona a principal casa do Grupo Wood’s, rede de boates em que só toca música sertaneja. Perguntado sobre a última vez que perdeu uma balada, Nastari não respondeu com segurança: "Hummm... deve ter sido quando viajei, alguns meses atrás".
Há pouco mais de um ano, quando a casa de Curitiba passou por uma reforma e fechou por alguns meses, Nastari e dois amigos viajaram para cidades distantes do interior do Paraná, como Foz do Iguaçu, Cascavel e Maringá, para visitar outras boates do grupo. Por sua fidelidade, ele não paga mais ingresso e tem a entrada liberada para um camarote VIP. "Não troco o Wood’s por nenhuma outra balada."
Clientes féis como Nastari — e outros nem tão fiéis assim — fizeram o Grupo Wood’s faturar 56 milhões de reais no ano passado com 12 casas noturnas localizadas em cinco estados.
Até o fm de 2013, com a inauguração de outras três, o faturamento deve chegar a 90 milhões de reais. "Ainda há pelo menos 14 cidades com potencial de receber uma unidade nos próximos anos", diz o empreendedor Charles Bonissoni, de 34 anos, um dos sócios fundadores.
O crescimento do Grupo Wood’s tem se apoiado numa série de medidas que podem ser adaptadas por empreendedores à frente de outras empresas emergentes. Um exemplo é a preocupação em diversificar as receitas. Desde 2011, os sócios põem em prática estratégias para depender menos da venda de ingressos e do consumo de bebidas.
O grupo tem promovido eventos, como festas fechadas e shows de artistas famosos, que são patrocinados por empresas, como a construtora Cyrela e a operadora TIM. A expectativa é que 15% do faturamento venha dos patrocínios até o ano que vem. Outra maneira de aumentar as receitas é a venda de espaço publicitário para empresas como Ambev, Red Bull e O Boticário.
No ano passado, 5% do faturamento veio de anúncios em mesas, uniformes de funcionários e até nos espelhos dos banheiros. "O grande volume de pessoas que circulam pelas festas torna essas casas uma boa plataforma para fazer propaganda", afirma Miguel Feyo, professor de marketing da Escola Superior de Propaganda e Marketing, de São Paulo.
O que se ouve numa balada do Wood’s são as músicas do chamado sertanejo universitário, subgênero do sertanejo que em pouca coisa lembra as antigas modas caipiras. Essa nova vertente guarda poucas semelhanças com o ritmo original — o que não saiu de moda foram as calças justíssimas e os chapéus de caubói usados pelos cantores.
No sertanejo universitário, as melodias chorosas deram espaço a músicas que misturam o som da viola e da sanfona com solos de guitarra e batidas eletrônicas. O gênero começou a se popularizar entre jovens das grandes cidades a partir de 2003. Antes, era mais comum ouvi-lo em festas em repúblicas de estudantes de cursos como agronomia e zootecnia de universidades do interior — daí vem o nome sertanejo universitário.
Com a velocidade com que se espalham os clipes e os vídeos de shows pelas redes sociais, cantores como Gusttavo Lima e Luan Santana e duplas como João Bosco & Vinícius e Jorge & Mateus se tornaram conhecidos desse público. O estudo Target Group Index, feito pelo Ibope, mostra que o gênero sertanejo está entre os mais ouvidos, até em regiões onde há outros ritmos tradicionais.
É o caso do Nordeste, de onde vem boa parte das bandas de forró e de axé. Em cidades como Salvador e Fortaleza, cerca de 40% dos ouvintes de rádio procuram por música sertaneja. Para decidir que lugares devem priorizar em seu plano de expansão, os sócios criaram a Caravana Wood’s, um evento itinerante que percorre algumas cidades brasileiras levando shows de duplas sertanejas a casas noturnas locais.
"Dependendo do interesse do público e da adesão de patrocinadores nessas cidades, conseguimos saber se há demanda para uma casa nova", diz o advogado Bruno Maggi, de 30 anos, diretor artístico do grupo. "As caravanas foram muito importantes para a abertura de baladas como as de Porto Alegre e de Balneário Camboriú."
O próximo passo do Grupo Wood’s é acelerar a disseminação de um novo modelo de casas para cidades onde o sertanejo não tem muita tradição. Criada no ano passado, a WS Brazil, especializada em ritmos brasileiros, como samba-rock e pagode, já tem duas unidades — e os sócios pretendem abrir outras a partir de 2014.
"Temos a intenção de chegar a todas as regiões do Brasil respeitando os traços culturais de cada lugar", diz Bonissoni. Para acelerar sua expansão, o Grupo Wood’s conta com um apoio importante. Astros do sertanejo atual, como os cantores Michel Teló e Sorocaba, da dupla Fernando & Sorocaba, tornaram-se sócios de casas do grupo em cidades como São Paulo e Campo Grande.
"Se os próprios sertanejos querem investir no grupo, é sinal de que estamos fazendo as coisas certas", afirma Bonissoni.