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Fiquem em casa para reabrirmos mais rápido, diz associação de bares

Abrasel defende isolamento para acelerar reabertura. Planos contra coronavírus ficam mais incertos após saída do ministro Nelson Teich nesta sexta-feira, 15

Bares e restaurantes fechados em São Paulo: Abrasel defende isolamento de 60% para reduzir casos de covid-19 e chegar a uma reabertura gradual, nos moldes de países europeus (Germano Lüders/Exame)

Bares e restaurantes fechados em São Paulo: Abrasel defende isolamento de 60% para reduzir casos de covid-19 e chegar a uma reabertura gradual, nos moldes de países europeus (Germano Lüders/Exame)

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Carolina Riveira

Publicado em 15 de maio de 2020 às 14h05.

Última atualização em 16 de maio de 2020 às 22h11.

Mesmo com empreendimentos de seu setor fechados ou operando só com entregas em meio à pandemia do novo coronavírus, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) está divulgando comunicado a clientes e associados para aumentar o isolamento social.

Uma carta sobre o tema está sendo distribuída a partir desta sexta-feira, 15, a associados, clientes e parceiros, e foi obtida pela EXAME. A lógica, diz o presidente Percival Maricato, visa a própria saúde dos negócios: com um isolamento mais rigoroso, o Brasil poderia reduzir o número de casos mais rapidamente e, por consequência, reabrir gradualmente o comércio físico.

"Do jeito que está não pode ficar. Fica um meio termo, muitos negócios fechados mas o número de mortes aumentando, contaminação aumentando de forma assombrosa", diz Maricato. "Para salvar o setor, temos de fazer como outros países fizeram: um isolamento mais rigoroso para poder abrir mais rápido e evitar um lockdown."

O presidente da Abrasel cita o modelo que seguiram países europeus e outros casos de sucesso no combate ao coronavírus, como a Nova Zelândia, que aplicaram isolamento mais rígido do que no Brasil. Agora, esses países estão conseguindo reabrir as atividades graças a uma queda gradual no número de casos.

Evitar o chamado lockdown, o bloqueio total das atividades, também é crucial para o setor de bares e restaurantes, diz a Abrasel. Um bloqueio dessa forma, a depender das regras, poderia probibir até mesmo o delivery, tábua de salvação do setor durante o isolamento.

A meta da associação é aumentar o isolamento social para uma faixa acima dos 60% por um período de 15 dias, prazo que faria o número de casos e vítimas cair e poderia, na visão da Abrasel, levar o país a um começo de reabertura.

O governo do estado de São Paulo, onde está a maior parte dos associados da Abrasel, estabeleceu 70% de isolamento como um cenário ideal para conter a disseminação da covid-19. Atualmente, o estado tem taxa de isolamento abaixo dos 50%, e o percentual de isolamento vem caindo nas últimas semanas.

"Se ficarmos nos 50%, estamos condenados a ver as pessoas morrendo e viver com restrições, além de bares e restaurantes fechando as portas em definitivo, cada vez mais", escreve a Abrasel em comunicado.

A Abrasel afirma que mais de 20% dos bares e restaurantes no Brasil já faliram ou fecharam as portas e podem não reabrir mais depois da pandemia. Os que não fecharam optaram por continuar no delivery, mas que ainda é pequeno. Foram mais de 2 milhões de empregos perdidos e 400.000 pequenos e médios empresários afetados, segundo a associação.

"O delivery nunca foi suficiente, a não ser para quem já trabalhava com isso como prioridade. Para a maioria dos estabelecimentos, era cerca de 10% a 20% das vendas", diz. Com um lockdown, que a Abrasel tenta evitar, a entidade avalia que o número de restaurantes falindo ou desistindo de operar poderia chegar a 50%.

Associação pede apoio de outros empresários

Para chegar a um isolamento maior, a Abrasel defende que seus associados conversem com clientes, fornecedores e parceiros para uma grande conscientização popular. Maricato também convida outras associações e entidades de comércio, indústria e outros setores a entrar no que acredita que precisa ser "uma grande campanha da sociedade civil" para chegar a uma reabertura mais rápida.

O presidente da Abrasel falou à EXAME minutos depois da saída do ministro da Saúde, Nelson Teich, que ficou menos de um mês no cargo e pediu demissão nesta sexta-feira. O governo do presidente Jair Bolsonaro ainda não anunciou um substituto. A depender do nome, medidas contra o isolamento social nos estados podem vir a ser defendidas pelo Ministério da Saúde.

"Não sei da opinião do ministro que vai entrar. O que está se vendo é que parece que estamos perdidos, falta liderança. Então, se eles estão brigando, vamos entrar nós [na resolução do problema]", diz Maricato.

Estados como Maranhão e Pará já decretaram lockdown em regiões metropolitanas. Em São Paulo, um estudo da Universidade de Campinas (Unicamp) mostrou que o número de novos casos pode dobrar em 11 dias se mantido o ritmo atual, podendo chegar a mais de 10.000 casos diários em junho, caso o isolamento social não aumente. Atualmente, são pouco mais de 3.000 novos casos no estado por dia e 13.000 no Brasil. O país tem, ao todo, mais de 202.000 casos de coronavírus e quase 14.000 vítimas.

Em reunião com empresários nesta semana, Bolsonaro os convocou a "jogar pesado" contra um possível lockdown em São Paulo, governado por João Doria (PSDB). Bolsonaro defende uma reabertura mais ampla das atividades -- nesta semana, o presidente publicou decreto aumentando o número de atividades essenciais, que podem permanecer funcionando durante a quarentena.

Maricato diz que, "em vez de conversar com o presidente", mais empresários precisam tomar medidas práticas para reduzir a contaminação. "Abrir de uma vez com os casos aumentando pode ser um caos. Pode acontecer como na Suécia, nos Estados Unidos", diz. "A sociedade civil não está nem com o governador, nem com o presidente. A nossa proposta é que ela [sociedade civil] resolva essa situação. Não pode ficar como está, e me parece que aumentar o isolamento é a forma mais razoável de reverter isso", diz o presidente da Abrasel.

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