Leonardo Cid Ferreira: "É preciso paciência para explicar que eu não tinha responsabilidade na gestão do Banco Santos" (Daniela Toviansky)
Da Redação
Publicado em 8 de janeiro de 2013 às 12h49.
São Paulo - No dia 20 de setembro, surgiu um compromisso de última hora na agenda do empreendedor paulistano Leonardo Cid Ferreira, de 30 anos. No início da tarde, sua mãe ligou avisando que havia conseguido marcar um horário com o alfaiate e que ele teria de estar em casa às 15 horas. "Sou muito pequeno", diz Leonardo. "Para que os ternos fiquem bons, sempre tenho de tirar um pedaço das mangas."
O zelo pela aparência é apenas uma de suas preocupações para causar boa impressão. Leonardo é o filho caçula de Edemar Cid Ferreira — ex-controlador do Banco Santos condenado em 2006 em primeira instância a 21 anos de prisão por crimes financeiros, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
Leonardo gasta um bocado de energia para que a história do pai não contamine a imagem de sua empresa — a AD Dialeto, agência de publicidade paulistana da qual ele é um dos sócios e principal executivo. Neste ano, a AD Dialeto deve faturar 8 milhões de reais, ajudando empresas como a fabricante de celulares Motorola e a rede de lojas Marisa a divulgar suas marcas na internet.
Criada no início deste ano, a AD Dialeto é fruto da fusão da Dialeto, do publicitário Ricardo Abdo, de 37 anos, com a AD Brazil, de Leonardo e do publicitário Sérgio Lima. Entre os serviços oferecidos pela nova empresa estão a gestão de lojas virtuais e a produção de conteúdo para blogs.
A AD Dialeto também traça estratégias para empresas que precisam aparecer entre os primeiros resultados de buscadores como o Google e faz campanhas para aumentar a exposição das marcas dos clientes em mídias sociais.
"As oportunidades de crescimento para um negócio com esse perfil são enormes", diz Ari Meneghini, diretor da IAB Brasil, que reúne empresas do mercado digital. Segundo a entidade, neste ano os investimentos dos anunciantes em mídias online devem chegar a 3 bilhões de reais no país — 10% do bolo total.
Educado na Suíça na adolescência, com graduação em administração de empresas pela Bentley College, de Boston, Leonardo cresceu achando que seria banqueiro. Ele era trainee do Santos quando aconteceu a intervenção pelo Banco Central, em novembro de 2004.
No ano seguinte, a falência foi decretada, e Leonardo começou a acionar seus contatos em busca de trabalho. “Surgiu uma oportunidade como gestor numa startup de tecnologia, que tinha investimento de um conhecido meu”, diz ele. “Gostei da experiência de empreender.”
Em 2009, Leonardo conheceu Lima, na época dono de uma pequena agência de publicidade que estava em dificuldades financeiras. "Eu tinha bons clientes, mas não sabia administrar o negócio", diz Lima. "Ofereci ao Leonardo uma participação na agência em troca de ele colocar a casa em ordem e me ajudar a conquistar novos clientes."
Juntos, Leonardo, Lima e Abdo têm 50% da AD Dialeto. A outra metade pertence à Ceiba, sociedade de participações que atua há pouco tempo no Brasil. "Estávamos em busca de negócios com um pé no mercado digital", diz o francês Frederic Poirot, responsável pela administração dos recursos dos investidores.
Pouco conhecida no mercado, a Ceiba, segundo Poirot, é formada por 20 pessoas e tem 3 milhões de dólares para investir ainda neste ano no Brasil. Além da AD Dialeto, a Ceiba já comprou uma parte da Smartlife, companhia de bebidas e cápsulas energéticas com sede em São Paulo.
Leonardo não é réu nos processos envolvendo o Banco Santos ou a responsabilidade criminal de seus administradores. Mas isso não o livra de dar satisfações sobre seu papel na confusão — afinal, ele carrega o sobrenome do principal acionista do banco. "É difícil me desvincular da imagem de meu pai", diz Leonardo.
"Mesmo assim, nunca perdi um contrato por causa disso." Às vezes, o executivo responsável pelo projeto do cliente só descobre seu sobrenome na primeira reunião. "Tenho de ficar explicando que eu não tinha nada a ver com a gestão do banco e que sou um profissional como qualquer outro, tocando minha vida", diz ele.
Separado há pouco mais de um ano de Rebeca Abravanel, filha do apresentador (e outro ex-banqueiro) Silvio Santos, Leonardo acabara de se mudar para a casa dos pais — a supermansão de 4 000 metros quadrados no Morumbi, projetada pelo arquiteto Ruy Ohtake — quando a Justiça decretou o despejo de Edemar e de sua mulher, Márcia, em janeiro deste ano.
"Eu estava esquiando em Aspen quando soube de tudo por telefone", diz. Leonardo conta que ele, o pai e a mãe agora moram de favor na casa de um amigo da família, o também sem-banco José Papa Júnior, do falido banco Lavra.
Dos três filhos, Leonardo é o único que ainda vive com os pais. Formado em biologia, Eduardo, de 31 anos, é o irmão do meio. Ele se especializou em créditos de carbono e tem emprego no Banco Mundial, em Washington. Rodrigo, de 41 anos, é o mais velho e toca um restaurante no bairro dos Jardins, em São Paulo.
Um dos diretores do Banco Santos na época da intervenção, Rodrigo foi condenado a 16 anos de prisão e, como o pai, recorre na Justiça em liberdade.
Leonardo conta que, em 2006, durante os meses que o pai ficou na prisão, o visitava toda semana. "Às vezes, eu voltava para casa e chorava sozinho no meu quarto", diz. Mas os momentos de tristeza não duravam muito. "Não sou do tipo que fica se lamentando", afirma. "Afinal, sempre tive tudo de bom. Minha família é carinhosa, estudei em boas escolas e tenho bons amigos."
É com dois desses amigos — Adriano Iódice, diretor da grife Iódice, e Leo Ribeiro — que Leonardo divide a sociedade noutro negócio, a promotora de eventos Love Life. "Estou realizado", afirma Leonardo. Para descrever seu momento atual, ele recorre a uma frase que ouviu várias vezes do ex-sogro.
"O Silvio costuma dizer que, quando a gente gosta do que faz, não tem de trabalhar nem um único dia na vida", diz Leonardo. "É assim que me sinto hoje. Gosto tanto do que faço que nem percebo que estou trabalhando."