Estação Hack: estão abertas novas vagas para acelerar negócios com foco não apenas em rentabilizar, mas também em cumprir propósitos sociais (Marco Torelli/Facebook/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 21 de fevereiro de 2018 às 10h30.
Última atualização em 21 de fevereiro de 2018 às 16h43.
São Paulo – A Estação Hack, centro de inovação criado pela rede social Facebook, acaba de anunciar a abertura das inscrições para sua segunda turma de aceleração, feita em parceria com a organização pioneira no fomento de negócios sociais Artemisia.
Até 25 de março, startups que possuam propostas de impacto social podem se inscrever por meio do site da Estação Hack. A aceleração durará seis meses e terá desde mentorias até apresentação dos negócios a possíveis investidores e parceiros comerciais.
Aberto para a imprensa no dia 11 de dezembro deste ano, o local ainda hospeda a primeira turma de startups de impacto social. As dez empresas começaram a aceleração poucos dias após o lançamento da Estação Hack e sairão em julho, após um mês de convivência com a nova leva de negócios selecionados.
A Estação Hack hospedará startups que fazem uso intensivo de dados em suas soluções e, ao mesmo tempo, queiram gerar transformações positivas e de larga escala para a sociedade, especialmente em questões essenciais para a sobrevivência da população de baixa renda.
Ou seja: procuram-se quem empreenda de forma rentável, porque isso garante a escalabilidade da ideia de negócio, mas com propósito.
Diferentemente da primeira rodada de negócios, não haverá restrições de setor em que as empresas atuam – afinal, o Brasil possui diversos problemas a serem resolvidos.
Os empreendimentos precisam ao menos ter um protótipo em fase de testes no mercado, com alguns clientes, mas também são visadas empresas com produtos lançados e em fase de acelerar o crescimento.
Além do modelo de negócio e da importância da solução apresentada, também será avaliada a dedicação dos empreendedores e a possibilidade de ficarem em tempo integral na Estação Hack durante o programa.
As startups inscritas passarão por um longo processo de seleção, devido a quantidade de negócios a serem analisados. Na última edição, 764 empreendimentos se candidataram.
As centenas de empresas de impacto social serão reduzidas a um grupo de poucas dezenas, que em junho deste ano se apresentarão em um “Pitch Day”. As melhores ideias de negócio desse grupo serão aceleradas por seis meses, a partir de julho deste ano.
Assim como na primeira turma, haverá no máximo dez startups. A Estação Hack não pede participação nos negócios acelerados, mas também não realiza aportes financeiros além do conhecimento e infraestrutura ofertados.
“A ideia do processo de aceleração é fazer o empreendedor antecipar desafios. Ele deve avançar em seis meses o que demoraria um ou dois anos para ser alcançado”, afirma Priscila Martins, gerente de relações institucionais da Artemisia.
Para isso, o primeiro passo é fazer um diagnóstico de cada negócio de impacto social, elencando obstáculos críticos para sua expansão. Com base nos desafios, são definidos até três objetivos de aceleração.
Durante os seis meses, cada startup receberá mentorias individuais de especialistas da Artemisia, do Facebook e externos. Além disso, os negócios trocam problemas e soluções entre si e participam de workshops de temas comuns a todos, como marketing e vendas. A aceleração se encerra com uma espécie de “Demo Day”, dia em que os empreendimentos apresentam suas propostas de impacto social para possíveis investidores.
A Pluvi.On, empresa que faz parte da primeira turma acelerada na Estação Hack, afirma que o primeiro mês de programa permitiu que o negócio mantivesse vivo seu propósito de informar a população de possíveis desastres naturais, por meio de um software de análise precisa de volumes de chuvas.
O negócio criou um chatbot chamado São Pedro, que informa os moradores de uma região sobre como está o clima no momento e manda alertas sobre possíveis desastres naturais. A primeira cidade totalmente coberta pela solução será Salvador, na Bahia, onde a startup venceu um edital para instalar seu sistema de inteligência climática.
“A gente tentou primeiro vender nossa solução de previsibilidade de chuvas fortes para o governo, e foi bem desafiador. Então, resolvemos focar na venda para empresas, em modelo de monetização B2B”, explica Mariana Marcilio, empreendedora da Pluvi.On. “Mesmo assim, nascemos com o propósito gerar informação gratuita às pessoas sobre riscos climáticos e estar na Estação Hack nos ajudou a manter esse propósito.”
Para Eduardo Lopes, coordenador da Estação Hack, um dos grandes diferenciais do programa da Estação Hack é o contato com outros negócios de impacto social e com jovens em situações de vulnerabilidade, por meio dos cursos de capacitação tecnológica que o espaço de inovação oferece no mesmo andar.
Há aulas para jovens e microempreendedores sobre três grandes temas: capacitação e preparação para o mercado de trabalho e para o empreendedorismo digital; desenvolvimento de aplicativos; e programação.
“A gente traz essa convivência com um público que os negócios podem não apenas recrutar – e, de fato, já temos casos de alunos que fazem trabalho freelancer por aqui –, mas que também são o público visado pelas startups. Há um contato direto com a pessoa que se beneficia da ideia de negócio.”
Outro benefício é contar com as marcas Artemisia e Facebook associadas aos empreendimentos, o que facilita na hora de apresentar as soluções de impacto social e ganhar a visibilidade, inclusive, de investidores.
“Os nomes pesam muito. Mesmo a gente não tendo procurado, é incrível a quantidade de investidores que nos contataram e quiseram marcar encontros desde nosso anúncio como selecionados”, afirma Alexander Albuquerque, empreendedor do Banco Maré, outro participante da primeira turma de aceleração da Estação Hack.
Hoje, a startup de serviços bancários atende 10 mil usuários apenas no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. “Tínhamos a meta de chegar a 50 mil usuários e, com essa aceleração, triplicamos nossa meta para 150 mil usuários. Estamos trabalhando com a Artemisia, o Facebook e novos parceiros para cumprir esse objetivo, o que inclui a entrada em Heliópolis [comunidade em São Paulo] e no Nordeste.”
Entre 2011 e 2017, a Artemisia viu um aumento de 557% no número de empreendimentos avaliados em seu programa Aceleradora. Apenas na edição do ano passado, 960 empreendedores se inscreveram.
Para Martins, os negócios de impacto social são um caminho sem volta. “Entendemos que é uma tendência de unir valores pessoas e profissionais no trabalho. O empreendedorismo cresceu com a crise econômica, mas também por uma crise de propósito. Percebemos pelas nossas avaliações na organização que isso ocorre não apenas com os mais jovens, mas também com executivos e empreendedores de mais experiência.”
Apesar de mais negócios de impacto social serem criados, tais empresas ainda enfrentam obstáculos de reconhecimento. “Hoje, ter uma startup está na moda. Mesmo assim, é muito difícil ainda empresas olharem para os negócios inovadores focados em impacto social. Ter nomes de peso em um programa como esse pode incentivar mais pessoas a criarem soluções que melhoram a vida das pessoas”, afirma Marcilio, da Pluvi.On.
“Os fundos de investimento ainda não olham as startups de impacto social da mesma forma que olham outros empreendimentos, então de fato o desafio continua”, concorda Albuquerque, do Banco Maré. “Queremos que todas as acelerações tragam negócios comprometidos com o impacto social, já que os consumidores no futuro priorizarão empresas que tenham também um propósito.”
A Estação Hack representa o maior investimento já realizado pelo Facebook na América Latina. O espaço colaborativo ocupa uma área exclusiva dentro do WeWork, espaço de coworking localizado na Avenida Paulista.