Thiago Romariz: jornalista teve a ideia para o aplicativo há mais de dois anos, mas só conseguiu executar o projeto agora (Chippu/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 26 de maio de 2020 às 13h04.
Última atualização em 26 de maio de 2020 às 15h05.
Escolher um filme para assistir é uma tarefa cada vez mais difícil. Os espectadores, além de conciliar os gostos de amigos e familiares, precisam navegar pelos catálogos extensos das plataformas de streaming como Netflix e Amazon Prime, onde é fácil perder vários minutos tentando decidir o que vale a pena ser visto. Para tentar facilitar esse processo, nasceu o aplicativo Chippu, que usa uma mistura de algoritmo com curadoria humana para indicar quais filmes os usuários não podem perder.
Por trás do app está Thiago Romariz, ex-diretor de conteúdo do site de entretenimento brasileiro Omelete e atual líder global de conteúdo e relações públicas da startup de pagamentos Ebanx. Junto com o empresário Vitor Porto e os engenheiros de software Luigi Pedroni e Thamer Hateme, o jornalista desenvolveu a solução em um mês durante a quarentena. A rapidez na execução só foi possível porque a ideia do projeto existe há dois anos, então os sócios sabiam exatamente o que precisavam construir.
O lançamento da plataforma, na última sexta-feira, 22, foi um sucesso. O volume de downloads foi tão grande que os servidores não deram conta da demanda. No domingo, o app estava em primeiro lugar na Google Store e entre os dez primeiros na categoria de entretenimento da App Store. A expectativa é que hoje o aplicativo passe de 40.000 downloads no total. “Não esperava, minha meta para o primeiro mês era ter 10.000 downloads, nunca imaginei que isso fosse acontecer”, diz Romariz.
O feedback geral dos usuários têm sido positivo e eles estão engajados na nova plataforma. No domingo, por exemplo, entre oito e nove horas da noite, o Chippu deu, em média, cinco dicas de filme por segundo. “O aplicativo realmente resolveu um problema, as pessoas decidiram que não querem mais ficar 30 minutos navegando na Netflix para ver um filme”, afirma o Romariz.
O Chippu foi desenhado para ter uma usabilidade simples. Logo que se cadastra no aplicativo, o usuário precisa responder um questionário curto e bem humorado, inspirado nos teste do Buzzfeed. Depois, o app pede para a pessoa marcar quais filmes já viu. Com base nas respostas, um perfil “cinéfilo” é elaborado e o usuário já consegue solicitar dicas de filmes para assistir.
No botão “uma dica!”, o usuário seleciona o gênero de filme que quer ver e qual plataforma de streaming pretende usar. Logo, o aplicativo retorna com uma dica. Caso a pessoa já tenha assistido, pode avaliar o filme e receber uma nova sugestão. Se o filme sugerido não agradar, é só clicar em “não” que uma nova recomendação aparece na tela.
O aplicativo também oferece playlists de filmes, feitas semanalmente por Romariz para cada perfil de usuário. Todos os dias da semana as pessoas recebem uma sugestão nova e podem navegar por listas curtas, com quatro ou cinco filmes no máximo, com temas como “sorrir é o remédio” e “viagem no tempo”. Quanto mais a pessoa utilizar, mais assertivas as indicações ficarão.
A combinação da rapidez do algoritmo com a curadoria humana é a chave do aplicativo, segundo os criadores. Enquanto as plataformas de streaming tendem a incentivar que o usuário siga vendo filmes similares, o Chippu usa a curadoria humana para quebrar a cadeia de indicações e surpreender o usuário com novos filmes. “Quero tirar a pessoa da bolha, a experiência do cinema só tem graça quando você descobre algo novo”, diz Romariz.
A empresa recém-criada ainda não definiu qual será o modelo de negócio a longo prazo. O investimento de um dos sócios garantiu o capital inicial e agora eles trabalham com duas possibilidades de monetização: venda de publicidade e clube de vantagens.
Romariz acredita que a venda de publicidade será a saída em um primeiro momento, trabalhando com anúncios de produtos relacionados com o mundo de filmes, séries e serviços de streaming. Depois, ele considera fazer um modo assinado do aplicativo, em que o usuário pagaria para evitar os anúncios e teria acesso a benefícios exclusivos, como newsletters e curadorias específicas. “Ainda estamos descobrindo o que podemos fazer nesse aspecto”, diz.
Por enquanto, o foco dos sócios é entender as métricas que o aplicativo gera sobre o público. Com as informações coletadas até agora, é possível avaliar qual o melhor horário ou dia da semana para ver determinado gênero de filme, por exemplo. A partir dos dados, eles vão decidir como monetizar o conteúdo.
O lançamento chamou a atenção do mercado. A startup foi procurada por fundos de investimentos, pesquisadores de inteligência artificial e cientistas de dados. Aos poucos, os empreendedores vão estudar todas as possibilidades de parceria oferecidas, mas sem perder o foco no negócio original.
Agora, os planos são ampliar o catálogo de filmes, atualmente com 10.000 títulos, e se conectar a mais plataformas de streaming — hoje é possível pedir dicas de filmes que estão na Netflix, no Amazon Prime Video, no Google Play e no Itunes.
Em junho, o Chippu vai começar a dar recomendações de séries. O plano é ir aos poucos expandindo as categorias de entretenimento abarcadas no app, incluindo programas de televisão, músicas e jogos. Os sócios planejam também colocar o aplicativo nas Smart TVs, o que permitiria que os usuários fossem das dicas direto para o filme.
O aplicativo também aposta na interação entre os usuários, que vão poder classificar os filmes, postar suas próprias críticas e colecionar selos a partir de determinadas conquistas no app. Romariz afirma que a ideia não é transformar o Chippu em uma rede social. “Vamos focar realmente em curadoria, tenho convicção de que é algo que vai ser necessário para além da pandemia”.