Expedito Arena, fundador da Casa do Construtor (Reprodução/Emdeavor)
Da Redação
Publicado em 5 de abril de 2016 às 06h00.
Expedito sonha grande desde os 7 anos de idade. Era ajudante do seu pai, pedreiro, mas queria mesmo é ser chefe. Em uma comunidade da igreja em Rio Claro, conheceu Altino, um menino também de família humilde. Os dois descobriram a vontade em comum de ser engenheiro, o que, para quem não tinha muitos recursos, parecia impossível.
Mas impossível nunca foi muito uma barreira para eles. Expedito é 5 anos mais velho, por isso foi na frente: trabalhou como técnico em edificações para bancar a faculdade, enquanto Altino fazia o curso técnico. Depois os dois foram professores juntos, mas a economia do país estava tão descontrolada que faltava emprego.
A inflação pode estar mal agora, mas ruim mesmo eram os 2.500% da época.
E o cenário era especialmente desmotivante no setor de construção: “Eles falam em década perdida, mas eram duas décadas perdidas. A última grande obra que o Brasil tinha feito foi a usina de Itaipu, o resto estava todo parado”.
A solução era criar o próprio emprego. Os dois amigos há tempos queriam fazer algo juntos e, nesse momento, viram que não tinham nada a perder. “Acho que o fato de a gente não perspectiva nenhuma fez a gente se atirar, fazer qualquer coisa”, diz Expedito. A oportunidade de ouro estava na falta de equipamentos para construção no país, principalmente os que podiam dar mais produtividade ao processo. E lá atrás, se você quisesse uma máquina, você tinha que comprar. Não existia cultura de alugar nada.
Expedito e Altino resolveram criar essa cultura. Colocaram alguns equipamentos à disposição, dentro de uma loja em que eles vendiam material de construção, num terreno “lá no fim do mundo”. O aluguel das máquinas começou a dar bem mais resultado financeiro que outras atividades. Mas não eram grandes empreiteiras que alugavam, eram pessoas comuns – uma dona de casa que precisava de uma furadeira, ou um garoto querendo uma betoneira para um obra em casa. Mudaram de ponto para chegarem mais perto do público e fizeram questão de deixar o lugar bem apresentado para todo tipo de cliente.
Só que havia um problema grave: se você tem 10 betoneiras e aluga as 10 betoneiras, para dobrar seu faturamento, você precisa de 20. Em outras palavras, o negócio era pouco escalável e exigia sempre capital intensivo. Então se você não tem crédito, nem pode comprar de fábricas, apenas distribuidores, o que você faz?
Criando uma rede exemplar
Altino correu atrás de se capacitar e teve, aí, a grande sacada: encontrar franqueados. Dividindo os gastos e aumentando o volume de compra, havia mais margem para negociar. Afinal, vende bem quem compra bem.
Os sócios passaram todos os dias, por 2 anos, escrevendo os manuais dos franqueados, que abordava do atendimento ao conserto das máquinas. Foram também muito criteriosos na escolha e no treinamento deles.“Às vezes o cara vai abrir franquia e contrata um grande nome do franchising, já entra de tapete vermelho no mercado”, diz Expedito.
“Se eu fosse começar hoje, eu também contrataria um grande nome do franchising. Mas nós entramos sem tapete vermelho, sem nada. Era amassar barro e fazer toda a estrutura”.
Não à toa, um dos grandes diferenciais da Casa do Construtor é ter uma rede de excelência, referência no meio.
Esse é também um dos maiores orgulhos de Expedito e Altino, que mantêm uma humildade impressionante frente ao sucesso que alcançaram. Quando eles ganharam o prêmio de melhor franquia do Brasil em 2010, pela Pequenas Empresas Grandes Negócios, Expedito conta que sua filha não pôde participar por causa de uma prova. Saindo da cerimônia, ele recebeu um e-mail dela: “Pai, fico super orgulhosa porque sei que esse prêmio é fruto do seu trabalho e da sua dedicação e do Altino, sem nunca ter passado ninguém para trás”.
Sonho que se sonha junto
Mas foi só em 2010 também que eles começaram a estruturar a expansão. Faltava arrojo, segundo Expedito. De 2010 a 2015, o número de lojas mais que dobrou e o faturamento mais que triplicou: de 100 para 220, de R$48 milhões para R$180 milhões. “Foi fantástico, mas talvez a gente já estivesse nessa escala antes, se tivesse um DNA um pouco mais arrojado. A gente pode continuar não sendo tão arrojado quanto poderia, mas continua fazendo a lição de casa certinho”, diz.
Naquele mesmo ano, Expedito e Altino viram uma apresentação dos Meninos do Morumbi, em que entraram cantando (e cantando e cantando) “…a beleza de ser um eterno aprendiz”. Eles têm esse verso como lema desde então: “Isso a gente traz para a nossa vida, né, a gente quer sempre ser um eterno aprendiz e, não só isso, compartilhar com os outros o que a gente aprende”. Uma regra da Casa do Construtor, por exemplo, é que todos tenham um “diário de bordo” para mostrar aos outros as novidades e lições de suas viagens.
São nessas viagens que Expedito percebe o impacto do que ele e Altino fizeram. “É muito legal você estar em algum lado do país e passar por uma loja com sua cara, com o nome que você construiu. Poxa, você não esperava estar no Nordeste, mas você está lá. E tem alguém continuando sua mensagem, engajado com sua bandeira”.
Para eles, isso não significa apenas os números de alcance do negócio, mas seu poder de transformação. Quando o franqueado decide abrir uma franquia, é um casamento, um compromisso: “Ele bota ali, às vezes, o dinheiro que levou a vida inteira para juntar, que vai demorar para dar retorno, mas conversando com a gente ele sabe que é um bom negócio e que vai ter apoio”.
No início, a Casa do Construtor podia ser apenas uma forma de dois amigos criarem seus próprios empregos e colocarem um dinheirinho dentro de casa. Hoje, aquele ajudante de pedreiro e seu colega da igreja geram empregos para mais de 2 mil pessoas. E o impossível? Continua pequeno para o tamanho do sonho.