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Leo Branco
Publicado em 25 de fevereiro de 2022 às 09h04.
Última atualização em 25 de fevereiro de 2022 às 14h09.
A trajetória do empreendedor paulistano Daniel Ruhman (foto) serve de exemplo dos desafios de emplacar uma ideia no mercado de tecnologia — e, também, da importância de escutar atentamente o desejo do consumidor para um negócio dar certo.
Ruhman é fundador da Cumbuca, uma startup cujo negócio é um aplicativo para movimentações entre contas bancárias de pessoas muito próximas entre si.
O alvo do novo produto são jovens casais ou colegas de apartamento em busca de um jeito mais simples de juntar recursos para pagar despesas em conjunto como boletos de aluguel, contas de água, luz, telefone, e por aí vai.
A lista inclui também serviços populares na pandemia, como corridas no Uber ou pedido de delivery pelo iFood.
Pelo app, duas ou mais pessoas podem alocar uma quantia determinada de recursos pessoais numa conta em com permissões coletivas — ou seja, todo mundo pode mexer ali e todas as transações ficam registradas pra todo mundo ver quem fez o quê.
É um modelo conhecido lá fora como "multiplayer banking" e até agora pouco explorado no Brasil.
A remuneração à Cumbuca é por assinatura: inicialmente, cada grupo de usuários vai pagar 19,90 reais para acesso aos serviços.
O conceito da Cumbuca veio no fim de 2021. É mais um negócio na conta de Ruhman, empreendedor desde os 14. Na ocasião, ele criou um aplicativo para automatizar o acréscimo do 9 em números de telefone registrados em agendas de celulares.
A medida poupou o tempo de muita gente obrigada a fazer isso em função da decisão da Anatel de aumentar um dígito nos números da telefonia móvel, em 2016.
Agora, Ruhman teve a ideia do app da conta conjunta a partir de um perrengue enfrentado num outro negócio próprio.
Antes da Cumbuca, ele mantinha a UmHelp, outra startup desenvolvedora de um aplicativo para, entre outras coisas, facilitar o pagamento pelo serviço de faxineiras domésticas.
O app da UmHelp esbarrou num problema básico: a bancarização precária de boa parte das empregadas domésticas.
"Muitas delas não tinham contas bancárias", diz Ruhman. "O jeito era pedir ajuda a filhos ou amigos e aí os acertos financeiros ficavam bem complicados."
Com negócio da UmHelp (que mais tarde 'pivotou' para virar Comadre) andando de lado em função dos percalços de adoção da tecnologia pelas empregadas domésticas, Ruhman buscou entender melhor como ganhar dinheiro ao atacar o problema das transferências de recursos financeiros entre pessoas próximas.
Trata-se de um mercado praticamente inexistente no país. Pouco mais de 1% das contas bancárias têm alguma função para permitir movimentações conjuntas, nas contas do Banco Central.
É bem pouco perto do potencial. "Nos Estados Unidos, essa fatia passa da casa dos 30%", diz Ruhman. "É uma questão cultural nunca abordada de fato pelos bancos brasileiros."
O público-alvo da Cumbuca são jovens oriundos de classe média baixa que, recém-formados em carreiras em ascensão, como as de tecnologia, já viraram arrimos de família. "Hoje eles têm dificuldade de organizar as finanças das famílias", diz.
Ao que tudo indica, o novo foco está dando resultado. No fim de janeiro a Cumbuca levantou uma rodada de seed capital, em valor não divulgado.
No aporte estão investidores calejados em venture capital como Pedro Sirotsky (Barrah/B1), Verve Capital, além de fundadores de outros negócios de tecnologia como Fernando Gadotti (DogHero) e Renato Freitas (99).
Na metade do ano passado, a Cumbuca já havia recebido 125.000 dólares ao ser selecionada numa das turmas da aceleradora de negócios Y Combinator, talvez a mais comentada do gênero no Vale do Sílicio.
A meta de Ruhman daqui pra frente é captar uma rodada série A e chegar a um público de ao menos 25.000 usuários ativos até o fim do ano.