Prato comercializado pela Munchery: startup é última morte no mercado de produção e delivery de alimentos e refeições (Munchery/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 29 de janeiro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 29 de janeiro de 2019 às 06h00.
“Você vai errar, então erre rápido e barato” é um mantra do mundo das startups. Mas há negócios que ignoram o ensinamento e erram em grandes proporções. O caso mais recente é o da empresa de entrega de refeições saudáveis Munchery. Criada em 2010, a startup de São Francisco (Califórnia, Estados Unidos) havia captado nada módicos 124,5 milhões de dólares em aportes, ou 472 milhões de reais. O que não impediu que, na semana passada, fechasse as portas.
De acordo com o Crunchbase News, a Munchery informou o fim de suas operações por meio de um e-mail a seus clientes, “com pesar no coração”. Também anunciou que qualquer pedido não cumprido seria cancelado e reembolsado.
A Munchery prometia jantares “feitos artesanalmente por grande chefes locais”, usando “apenas os ingredientes de mais alta qualidade”, com entrega no mesmo dia na residência ou no escritório de seus clientes. O negócio atualizava seu cardápio a cada dia útil, com opções para crianças, vegetarianos, celíacos e pessoas com dietas de baixo carboidrato.
De acordo com o próprio site da Munchery, a startup entregava em mais de mil cidades americanas, com atuação principal nos estados de Califórnia, Arizona, Utah e Washington. O serviço foi oficialmente encerrado no dia 22 de janeiro.
O fim da Munchery afetou não apenas a própria startup e seus consumidores finais, mas outros negócios que dependiam do serviço.
Algumas prateleiras da Amazon Go, loja sem caixas criada pela gigante do comércio eletrônico Amazon, ficaram vazias. As refeições são ou preparadas no próprio supermercado ou encomendadas de fornecedores locais, como era o caso da Munchery.
A principal revolta, porém, está com pequenos empreendimentos que estavam cadastrados na Munchery. Para eles, a startup sabia que não os pagaria e, mesmo assim, deixou que eles realizassem entregas durante dias. Os restaurantes só souberam do fim das operações junto dos consumidores finais.
Os pagamentos da Munchery a esses estabelecimentos estariam na casa de milhares de dólares cada. Apenas nos cinco negócios entrevistados pelo site de tecnologia TechCrunch, as contas devidas somam 40 mil dólares. Para titãs do Vale do Silício, esse valor parece gorjeta. Para esses pequenos estabelecimentos de alimentação, porém, a quantia é necessária para comprar matéria-prima e pagar funcionários.
O anúncio não foi recebido com muita surpresa por quem acompanhava o empreendimento. Em 2017, a Munchery já havia demitido 30 de seus 900 funcionários, com a Bloomberg reportando entre as causas o insucesso na busca por um modelo de negócios lucrativo. O negócio também decepcionou com a estatística de 16% de desperdício no preparo de seus alimentos.
A Munchery captou cinco milhões de dólares em março do mesmo ano para continuar operando, a uma avaliação de 80 milhões de dólares. O valor de mercado foi cerca de um quarto do visto em 2015, de 300 milhões de dólares. Seus fundadores, Conrad Chu e Tri Tran, deixaram a empresa.
Desde então a startup não apareceu com notícias positivas. O negócio foi aos poucos restringindo sua área de entrega para focar em seu maior mercado, São Francisco, mas sucumbiu.
O fim da Munchery surpreende menos ainda quem acompanha o mercado de produção e delivery de alimentos e refeições. Diferentemente de um mercado aquecido no Brasil, esses negócios passam por dificuldades nos Estados Unidos. Especialmente se eles não possuem o poder de marca e o potencial de escala de soluções como o Uber Eats, da gigante de mobilidade, que recentemente fechou uma parceria com a rede de cafeterias Starbucks.
Plataformas de delivery com porte similar ao da Munchery, como a Sprig, também fecharam suas portas. A Good Eggs, que demitiu funcionários e enxugou sua operação em 2015, aos poucos faz ajustes em sua estratégia de negócios. A bola da vez é a Blue Apron, startup de entrega de receitas e seus respectivos ingredientes que abriu capital em 2017. As ações começaram valendo 10 dólares a unidade e agora são negociadas a 1,37 dólar.
A Munchery é só a última morte de uma crônica, para a maioria dos negócios do setor, já anunciada.