Luiz Eduardo, Hugo Galindo e Rodrigo Latini, sócios da Zerezes: inovação e provadores virtuais para dominar mercado ótico (Zerezes/Divulgação)
A marca carioca Zerezes mostra que para ter sucesso, não basta ter uma boa ideia. É preciso acertar no modelo de negócio. Para a marca de óculos, esse modelo é o que olha diretamente para os clientes. Desde que decidiu eliminar intermediários e vender direto para o consumidor, a receita da empresa apenas cresce. Nos últimos meses, as vendas dobraram, e o faturamento em 2021 foi o dobro de 2020, na casa dos 20 milhões de reais.
A história da Zerezes começa em 2012, no Rio de Janeiro, onde os amigos Luiz Eduardo Rocha, Hugo Galindo e Rodrigo Latini tiveram a ideia de tirar proveito da paixão pelo design e sustentabilidade e lançar uma marca de óculos de sol com identidade própria e fabricação artesanal, feita à mão.
Logo de início, o modelo deu certo e exibiu seus primeiros bons resultados. "Era visível o desejo dos consumidores por itens com cara de exclusividade e, de quebra, com impacto ambiental positivo", diz Rodrigo Latini, um dos sócios da empresa.
A Zerezes vem fazendo um trabalho de formiguinha ao educar digitalmente um público comprador habituado ao modelo físico em um mercado ainda rudimentar como o das óticas, no qual passou a atuar há pouco mais de um ano.
Trata-se de um mercado que, mesmo em meio à pandemia e rápida digitalização do comércio, manteve-se analógico. Hoje, ainda é comum ter de ir até as óticas, com as receitas médicas em mãos, para que seja possível ter um orçamento das lentes e da própria armação. “É um mercado analógico e concentrado", diz.
A relação direta com os compradores permitiu à empresa uma escuta mais atenta e um olhar apurado para o que de fato é procurado na marca. A resposta ir além dos óculos de sol, mas sem alguns procedimentos considerados engessados e que são adotados pelas marcas dominantes do setor. “Os principais players desse mercado ainda resistem em ir para o online, pois para eles não é vantajoso, por exemplo”, diz. “É nessa lacuna que entramos”.
Em outra frente, a dor que a Zerezes quer solucionar é a da experimentação. No site, compradores podem usar um “provador virtual”, que simula o caimentos dos óculos no rosto. A empresa também permite que o consumidor solicite até quatro diferentes modelos para provar.
Ele recebe os óculos em casa, experimenta, devolve à Zerezes e então conclui o pedido selecionando o modelo que mais lhe apeteceu. Segundo Latini, é uma proposta que cria valor em torno da marca Zerezes, além de ser um diferencial competitivo.
Além da atuação digital, a Zerezes também tenta manter o apreço pelo design. "Comprar óculos de grau é questão de necessidade, mas por que também não ser uma questão de estilo?”, questiona o empreendedor. “Nossas pesquisas mostravam que os consumidores careciam de opções no mercado que priorizassem o estilo. As óticas não vendem isso, vendem apenas lentes”.
Do lado financeiro, a empresa tenta contrariar o modelo de negócio das óticas tradicionais, baseado em elevar as margens por encomendar as lentes apenas após a venda para o cliente. A Zerezes respondeu a isso criando um modelo que elimina intermediários no processo e assumindo todas as etapas de produção e venda dos óculos.
Com isso, ela controla 100% da operação, do design das armações e lentes à entrega. Ao contrário de grandes empresas do setor, não há distribuidores, licenciamentos ou taxas de franquia a pagar. Na ponta, isso faz com que os produtos sejam 60% mais baratos do a média do mercado, segundo Latini.
Antes da incursão no mercado ótico, em 2020, e o foco também nos preços, a estratégia para atrair novos clientes era outra: modernizar e priorizar o padrão estético das lojas físicas. As cinco lojas da marca no Rio de Janeiro servem de vitrines para os modelos. Recentemente, a Zerezes também inaugurou duas lojas em São Paulo.
Somados todos esses fatores, a Zerezes registrou o seu melhor desempenho histórico. O faturamento em 2021 foi de 20 milhões de reais, o dobro do ano anterior. O crescimento de 100% nas vendas totais no ultimo semestre também vem junto de uma expansão no e-commerce. Hoje, a Zerezes tem 3,1% do market share de óticas online, um filão cada vez mais cobiçado por nomes como Óticas Carol e Diniz, duas das principais empresas do setor.
Em 2022, a marca também deve expandir para outros estados. A intenção é chegar a 100 unidades próprias até 2026. “Queremos mostrar para as pessoas que é possível comprar online, e nossa intenção é liderar o setor ótico digital do futuro'', diz. Neste ano, a Zerezes estima uma receita de 40 milhões de reais.