Wemobi: startup faz venda, troca e cancelamento de passagens rodoviárias de forma totalmente online (Wemobi/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 15 de julho de 2020 às 06h00.
Última atualização em 15 de julho de 2020 às 10h50.
Para inovar dentro do próprio setor, o Grupo JCA, dono das viações Catarinense, Cometa e 1001, criou sua própria startup. A Wemobi, empresa criada dentro da incubadora de inovação do grupo, chega ao mercado este mês para oferecer uma experiência 100% digital e de baixo custo na compra de passagens rodoviárias, similar ao modelo das companhias aéreas "low cost". A empresa recebeu um investimento inicial de cerca de 8,6 milhões de reais da 2A investimentos, fundo do grupo.
A primeira rota operada pela companhia é o trecho Rio de Janeiro-São Paulo. As primeiras viagens são a partir do dia 29 de julho, mas as passagens de ônibus já estão à venda desde o dia 10 por preços a partir de 19,90 reais. A ideia é que, assim como acontece no setor aéreo, quanto antes o consumidor comprar, mais baixo será o preço. Pela viação 1001, também do grupo, a passagem convencional sai por 113,99 reais e a leito, por 159,99 reais.
O preço mais baixo da Wemobi se dá por três fatores principais, segundo o diretor executivo Rodrigo Trevizan. A chave do modelo é o maior número de pessoas por trecho. Cada viagem será feita em ônibus de dois andares, com 68 lugares cada, enquanto um ônibus convencional opera com 46. Além disso, a startup planeja operar em cidades com alta demanda e somente de forma digital, reduzindo os custos com guichê.
O lançamento, em plena pandemia de coronavírus, é arriscado. Um modelo que depende da lotação máxima dos ônibus pode não ser eficiente em um momento em que clientes não se sentem muito confortáveis para dividir um espaço fechado com outras pessoas.
A companhia disse ter ponderado o momento e decidido prosseguir com o lançamento por entender que poderia trazer benefícios econômicos aos clientes que precisam viajar neste período. “O modelo de baixo custo viabiliza para que as pessoas não deixem de viajar”, diz Trevizan. Para tentar garantir segurança, a companhia sanitiza os veículos após cada viagem, disponibiliza álcool gel e estabelece que os passageiros precisam usar máscaras de proteção durante toda a viagem.
O diretor da startup afirma que desde o lançamento das viagens na última sexta-feira, 10, mais de 250 passagens foram vendidas. “Mesmo com o mercado 90% menor em relação ao mesmo período de vendas do ano passado, tivemos uma quantidade significativa de vendas em três dias”, afirma o presidente da empresa.
Até o final do ano, o plano da companhia é estar operando trechos como São Paulo-Belo Horizonte, São Paulo-Curitiba, São Paulo-Florianópolis, Belo Horizonte-Rio de Janeiro e Florianópolis-Curitiba. O objetivo da startup, a depender da retomada do mercado rodoviário no segundo semestre deste ano, é estar operando parte das rotas do grupo JCA em 2021.
Não há guichê da Wemobi nas rodoviárias: toda a compra, troca e cancelamento de passagens é feita online. Para embarcar, o cliente apresenta um código QR ao motorista ou faz embarque por reconhecimento facial, usando tecnologia da parceira Zoox.
Os pontos de embarque também não serão necessariamente nas rodoviárias. Estudando o deslocamento dos mais de 10 milhões de clientes da JCA, a empresa decidiu colocar pontos de embarque em São Paulo na rodoviária da Barra Funda, no metrô Santa Cruz e em Alphaville. No Rio, os pontos são na rodoviária Novo Rio, no Flamengo e na Barra da Tijuca.
“Os clientes querem uma mescla de opções. Por que não fazer essas ligações em vez de olhar para pontos fixos? Estamos criando produtos para essas necessidades”, diz Trevizan.
O lançamento da startup acontece depois dos aplicativos para viagens compartilhadas de ônibus como Buser e 4Bus terem ganhado clientes país afora na esteira dos preços mais baixos que os oferecidos pelas viações tradicionais. Uma viagem entre Rio e São Paulo, por exemplo, pode sair a 69 reais na Buser.
A nova concorrência provocou uma reação feroz das viações tradicionais na Justiça — em pelo menos sete estados liminares tentam restringir o funcionamento dos apps. A alegação é que as novas tecnologias descumprem a legislação brasileira, para quem o transporte de passageiros entre cidades é um serviço público a ser autorizado à iniciativa privada pela Antt, órgão federal regulador do setor. Por ora os aplicativos seguem vendendo passagens mediante recursos obtidos pelas empresas de aplicativos.
Enquanto não ganham as batalhas no campo judicial, as companhias tradicionais incorporam melhorias incrementadas pelas startups, como emissão digital das passagens rodoviárias. Agora, com a Wemobi, um grupo tradicional traz uma concorrente de peso para tentar ocupar o espaço de inovação no setor rodoviário.