Viagem: a ascensão, para uma pequena ou média empresa que atua internacionalmente, é abrir uma filial no exterior (Foto/Thinkstock)
Karin Salomão
Publicado em 13 de novembro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 13 de novembro de 2018 às 06h26.
São Paulo - Assim como muitos empreendedores, Lukasz Gieranczyk teve a ideia para o seu negócio quando teve um problema. Ao viajar de ônibus nas férias para o litoral de São Paulo, descobriu que não havia muitas opções para comprar a passagem pela internet. Criou, então, a Quero Passagem, empresa de venda de passagens rodoviárias online.
Enquanto comprar uma passagem de avião pela internet é mais comum, as viagens de ônibus ainda são compradas presencialmente, na rodoviária. Atualmente, cerca de 9% das compras são online, mas quando a startup nasceu essa fatia era de apenas 1%. "A concorrência nos setor aéreo já era grande, com empresas como Decolar e ViajaNet. Encontrei o nicho no mercado rodoviário", afirma o empreendedor, que é polonês e passou a maior parte da vida no Brasil.
No entanto, cinco anos após o nascimento da empresa, Gieranczyk decidiu concorrer também no setor aéreo. A startup firmou uma parceria com cinco companhias aéreas nacionais, Gol, Azul, Latam, Avianca e Passaredo, para vender também voos domésticos pela sua plataforma.
A previsão é que o faturamento cresça de 15% a 20% com a nova modalidade ainda esse ano. "Com o aquecimento do mercado e maiores investimentos em marketing, nossos ganhos podem dobrar com o setor aéreo", diz.
A aposta em um setor mais difícil vem da percepção de que a startups estava perdendo vendas. Muitos clientes entravam no site em busca de tíquetes aéreos, mas saíam logo em seguida para outros sites. A ideia é oferecer também passagens internacionais a partir do ano que vem.
Sem investidores externos, a startup está crescendo. Faturou 20 milhões de reais no primeiro semestre do ano e deve fechar o ano com 50 milhões de reais em faturamento. Para o ano que vem, a previsão é de dobrar as receitas.
No setor rodoviário, a Quero Passagem já é a segunda maior empresa de passagens de ônibus no Brasil, com 2 milhões de usuários únicos. Mantém parceria com mais de 150 companhias de ônibus do país e sua cobertura inclui 5 mil destinos, o equivalente a 90% dos trechos operados por viações rodoviárias no país.
Está atrás da ClickBus, que faturou 300 milhões de reais em 2017. A aposta no setor aéreo é ousada: as receitas globais da Despegar, marca global da Decolar, somaram 524 milhões de dólares em 2017.
Gieranczyk reconhece que enfrentar as concorrentes é um trabalho árduo, ainda mais sem grandes injeções de capital e dinheiro para gastar com marketing. Mas a companhia está acostumada a desafios.
Logo no início da startup, o empreendedor percebeu que precisaria de um sócio forte, que entrasse com investimento e conhecimento técnico. Chamou seu amigo, Jaroslaw Piasecki, também polonês, para entrar no negócio. O sócio, que até o momento atuava ncom bancos de investimentos, atualmente gerencia a área financeira da startup.
Mas o maior desafio veio de uma fonte inesperada: as fraudes online. "Quase falimos nos primeiros dois anos por conta da intensidade de fraudes", afirma Gieranczyk. A startup sofreu até encontrar empresas de prevenção de fraudes que a ajudassem a se proteger.
Hoje, o maior desafio é a distância. Polonês, ele gerencia a empresa morando em Amsterdã, na Holanda, e seu sócio mora em Londres, na Inglaterra. Teleconferências com a equipe e ferramentas de gestão online são essenciais no dia a dia da startup.
Os sócios se revezam em viagens ao Brasil a cada três meses, para falar com parceiros de negócios. "Para abrir um negócio no país, é necessário saber falar português, conhecer as pessoas, conversar pessoalmente com todos", comenta, sobre as particularidades do país. Mesmo assim, há uma vantagem: Gieranczyk raramente perde muito tempo em reuniões longas e presenciais e as decisões avançam mais rapidamente.