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Endinheirado, Quinto Andar ataca mercado burocrático que vale R$ 200 bi

Startup de aluguéis recebeu nesta semana um novo aporte de 250 milhões de reais. Negócio triplicou de tamanho em 2018

Gabriel Braga e André Penha, do Quinto Andar: negócio tem uma visita agendada a cada dois segundos (Germano Luders/Exame)

Gabriel Braga e André Penha, do Quinto Andar: negócio tem uma visita agendada a cada dois segundos (Germano Luders/Exame)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 1 de dezembro de 2018 às 14h00.

Última atualização em 11 de fevereiro de 2019 às 14h06.

São Paulo - A locação de imóveis não é um dos setores mais quentes para as startups endinheiradas do Brasil, mais interessadas em finanças ou logística. Mas o Quinto Andar, negócio focado em aluguel de casas e apartamentos residenciais, acabou de receber uma bela quantia para continuar apostando no setor. O negócio captou nesta semana um aporte série C no valor de 250 milhões de reais. Ao todo, a startup já recebeu 320 milhões de reais em aportes.

Alugar um imóvel é um processo que exige diversas garantias, como um fiador, e a posição do Quinto Andar de eliminá-las é um risco a mais ao negócio. Por outro lado, a oportunidade é grande. Segundo Gabriel Braga, cofundador do Quinto Andar, esse é um mercado de 200 bilhões de reais por aqui e que tende a crescer. Apenas 20% das residências são alugadas no Brasil, contra os 50% vistos em cidades como Nova York.

O Quinto Andar não comenta seu valuation, que estaria em 1,1 bilhão de reais, e nem outras métricas fundamentais a negócios inovadores, como custo de aquisição de cliente (CAC) e quanto seus clientes gastam no tempo que passam na plataforma (valor no ciclo de vida do cliente, ou LTV).

Paulo Humberg, gestor na A5 Investimentos e também empreendedor no mercado imobiliário, afirma que essa estimativa de valuation pode fazer sentido se ela representar um décimo da receita, como também especula o mercado.

Crescimento

Apesar de manter segredo sobre as informações mais estratégicas, o Quinto Andar confirma que, em outubro deste ano, a cada dois minutos agendou-se uma visita física a imóveis cadastrados na plataforma. Ou seja, seriam cerca de 21,6 mil visitas agendadas no mês. O número representa mais do que o triplo do visto em outubro de 2017, diz o cofundador Gabriel Braga. No ano passado, a startup já havia sextuplicado de tamanho na comparação com 2016.

Criada há seis anos pelos empreendedores André Penha e Gabriel Braga, a startup começou a operar mesmo em 2015, na cidade de São Paulo. O Quinto Andar atua como fiador para usuários com um histórico de crédito sólido e elimina burocracias e custos na hora de alugar, como seguro-fiança e outras garantias.

Enquanto o custo total de taxas e garantias de aluguel a um inquilino tradicional ficaria em 40% do aluguel, o Quinto Andar estima em custo de 15 a 17%. O tempo para fechar o contrato de locação cairia de 30 para três dias.

Do lado do proprietário, a startup defende que ele consegue lucrar mais com a rapidez de aluguel na plataforma, além de o negócio arcar com os custos de uma possível inadimplência. Braga afirma que a despesa com os inadimplentes não é repassada aos preços cobrados dos moradores, sendo compensada por enquanto com uma estrutura enxuta. Investimentos em tecnologia, em longo prazo, deverão ampliar as margens do negócio.

Depois do contrato fechado, o Quinto Andar atua inclusive como gestora dos imóveis, com um marketplace de eletricistas, encanadores e pintores. Uma próxima fronteira seria melhorar a qualidade do imóvel antes da locação, como faz a OpenDoor antes de vender suas propriedades.

Por enquanto, o novo aporte de 250 milhões de reais tem como objetivo ampliar a participação de mercado do Quinto Andar nas cidades em que já atua e expandir para novas regiões. Além de São Paulo, a plataforma também está em metrópoles como Belo Horizonte, Brasília, Goiânia e Rio de Janeiro. O Quinto Andar pretende iniciar operações em cidades como Porto Alegre e Curitiba nos próximos meses.

A ampliação inclui a compra de carteiras de imóveis de empresas locais e o lançamento nas próximas semanas de um novo modelo de monetização. Imobiliárias poderão colocar seus imóveis na plataforma em troca de uma taxa que irá ao Quinto Andar. Com mais imóveis, mais inquilinos.

Chaves endinheiradas

O novo investimento de 250 milhões de reais foi liderado pelo fundo novaiorquino General Atlantic. Outros investidores da rodada são nomes já conhecidos do Quinto Andar, como Acacia Capital Partners, Qualcomm Ventures e KaszeK Ventures. Ao todo, o Quinto Andar já recebeu 320 milhões de reais em aportes.

O GA já investiu em startups que se tornaram gigantes, como Airbnb, Ant Financial, Facebook, Meituan, Slack, Snapchat e Uber. Também aportou em negócios inovadores brasileiros, como Arco Educação, Linx, Pague Menos, Peixe Urbano e XP Investimentos.

Outros participantes de portfólio que podem ter inspirado o Quinto Andar são a startup de revenda de imóveis OpenDoor, avaliada em mais de dois bilhões de dólares, e a brasileira internacionalizada Gympass. O Quinto Andar não comenta rumores de expansão para outros países.

Fintech ou imobiliária?

O mercado de imóveis já possui players com grande presença online, como é o caso do portal Zap/VivaReal. Para Humberg, porém, comparar o Quinto Andar ao Zap é como comparar futebol e vôlei apenas pelo fato de ambos serem esportes. Vale lembrar que Brian Reqhart, co-fundador da plataforma VivaReal, foi um investidores no Quinto Andar em 2016.

"O Quinto Andar, na verdade, é uma fintech em imóveis. Eles se baseiam na força de seu algoritmo de análise de crédito para aproximar vendedores e compradores, bancando aprovações", afirma o investidor e empreendedor. Outras forças da startup seriam a usabilidade do produto e a recém-anunciada parceria com imobiliárias, que trará aluguéis do mundo físico ao online.

O Quinto Andar faz seguros sobre a locação dos imóveis, protegendo-se contra possíveis inadimplências, que representariam uma parte pequena de sua receita, diz Humberg. Quando o imóvel é alugado pelo Quinto Andar, a startup recebe o primeiro aluguel integralmente e entre 5,5% e 8% dos demais, pela administração do contrato.

Com o aporte desta semana, a fintech-imobiliária explora mais formas de ampliar seus imóveis cadastrados, seus clientes e, no fim, suas receitas. Para o General Atlantic, é mais uma aposta no sucesso de uma startup brasileira em um setor pouco inovado.

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