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Empreendedores faturam R$ 4 mi com mochilas "slow fashion" e vão ao Canadá

A Beatnik and Sons, criada em Curitiba (Paraná), atraiu compradores internacionais com a proposta de cadeia responsável e peças de couro a um preço atrativo

Lípsio Carvalho e Renan Molin, da Beatnik and Sons: eles transformaram o hobby em um negócio internacional (Beatnik and Sons/Divulgação)

Lípsio Carvalho e Renan Molin, da Beatnik and Sons: eles transformaram o hobby em um negócio internacional (Beatnik and Sons/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 27 de julho de 2019 às 06h00.

Última atualização em 29 de julho de 2019 às 10h30.

Os publicitários e empreendedores curitibanos Lípsio Carvalho e Renan Molin apostam em uma longa cadeia de produção de seus acessórios e mochilas de couro para que sua expansão seja veloz. 

Parece uma contradição, mas a aposta no movimento da moda lenta (ou slow fashion) rendeu um faturamento de 1,8 milhão de reais em 2018 à loja virtual Beatnik and Sons -- além do interesse de mercados como Canadá e Estados Unidos.

Com as malas prontas para uma incubação em terras canadenses, o e-commerce projeta vender cinco mil mochilas e faturar 3 milhões de reais apenas em 2019. Até o momento, o faturamento acumulado foi de 4 milhões de reais e nove mil mochilas foram comercializadas.

De hobby a negócio

A Beatnik and Sons foi criada em 2016. Carvalho e Molin trabalhavam em agências de publicidade e queriam criar um negócio que se conectasse ao hobby de viajar. Em maio do mesmo ano, investiram 10 mil reais em estoque e criaram um site com a proposta de vender mochilas para viajantes de forma completamente online.

“Equilibrávamos esse negócio com o trabalho nas agências. No começo, o estoque era na minha casa. Eu e minha esposa ficamos com a tarefa de empacotar as caixas e levar aos Correios no nosso carro”, conta Carvalho.

No primeiro mês de operação, o e-commerce Beatnik and Sons vendeu 12 mochilas. A loja virtual cresceu aos poucos. Durante a semana de Natal de 2016, atingiu o pico de 50 mochilas vendidas. “Com esse volume, percebemos que teríamos de escolher entre levar nossa ideia a sério ou descontinuar. Tentamos ao máximo navegar os dois barcos, funcionário e empreendedor, para não colocar pressão de gerar lucro aos sócios na Beatnik and Sons.” 

Moda lenta, expansão veloz

Em 2017, Carvalho e Molin registraram a empresa, buscaram um parceiro de armazenamento e distribuição e passaram de fornecedor para ateliê próprio para acessórios e mochilas de couro. O primeiro semestre foi dedicado a certificar a cadeia de produção. 

“Não era nossa principal fonte de renda ainda, então pudemos prestar atenção no movimento crescente de transparência no mundo da moda e criar um processo que fosse bom para nós, para a empresa, para os funcionários e para nossos consumidores”, diz Carvalho.

A Beatnik and Sons recebe o couro de dois fornecedores, afirmando que verificou o curtimento de um couro tipo exportação sem uso de metais pesados. Um item leva 72 horas para ser produzido no ateliê.

De acordo com o cofundador, uma peça de couro na indústria tem de 30 a 40% desperdiçados ao longo da produção na indústria tradicional. Na Beatnik and Sons, o gasto ficaria entre 8 a 10% da peça de couro. Ao mesmo tempo, Carvalho afirma que as seis costureiras do ateliê recebem tanto uma remuneração fixa “30% acima do que se paga no mercado” quanto uma remuneração variável por peças vendidas. Nos melhores meses, uma costureira recebe um salário de cinco a seis mil reais.

Mochila da Beatnik and Sons

Mochila da Beatnik and Sons (Beatnik and Sons/Divulgação)

O movimento de produção responsável, também conhecido como slow fashion, se contrapõe ao crescimento das redes fast fashion, que colocam a rapidez das coleções e preços econômicos como bandeira. Grandes marcas, como a rede de joalherias Tiffany & Co., apostam na transparência da produção para atrair uma geração mais consciente.

Cerca de 25 a 30 mochilas são produzidas diariamente. O ritmo é projetado para 100 mochilas diárias nos próximos anos. O tíquete médio na Beatnik and Sons é de 400 reais. A loja virtual diz conseguir manter uma margem saudável graças ao seu posicionamento como uma marca nativa digital, com modelo de vendas diretas ao consumidor e operação completamente online.

Tais negócios, conhecidos pela sigla D2C, são cada vez mais comuns no setor da moda. Marcas como a varejista Amaro e a rede de óculos sem grife Livo Eyewear praticam a mesma estratégia. “Distribuidores ficariam com 30, 40% do nosso valor de venda e não teria como manter a mesma qualidade do couro e um ateliê próprio em Curitiba, por exemplo. Teríamos de terceirizar nossa operação para a China”, de acordo com Carvalho.

Além da redução de intermediários e custos, apostar na internet permite obter mais informações sobre seus consumidores -- a Beatnik and Sons eliminou a divisão de itens femininos e masculinos ao descobrir que havia uma grande quantidade de compras pelo público LGBT, por exemplo.

Os clientes mais comuns da Beatnik and Sons são profissionais da indústria criativa, com idade entre 25 e 40 anos, com alto poder aquisitivo e buscando design e produtos de qualidade.

Com pouco mais de dois anos e meio de operação, a loja virtual comercializou nove mil mochilas. Em 2018, foram 4,3 mil mochilas e um faturamento de 1,8 milhão de reais.

Bolsa da Beatnik and Sons

Bolsa da Beatnik and Sons (Beatnik and Sons/Divulgação)

Olhos internacionais no couro brasileiro

No ano passado, a Beatnik and Sons voltou seus olhos ao mercado norteamericano. A loja virtual participou do processo de aceleração Latam Startups Toronto em outubro do mesmo ano.

Um mês depois, a Beatnik and Sons começou a montar seu processo de logística e distribuição para que a mochila chegasse ao Canadá em quatro dias. As vendas começaram neste mês de julho e superaram as 12 mochilas vendidas no começo da operação brasileira.

Agora, a Beatnik and Sons participará da incubadora canadense de design, moda e tecnologia The Fashion Zone, na Universidade Ryerson (Toronto). O Canadá é o destino de startups que buscam expandir aos Estados Unidos, mas gostariam de realizar testes em um mercado culturalmente próximo, mas menor e mais econômico. “Conseguimos ter controle de nossas vendas, sem dar um passo maior do que a perna, e calibrar nosso crescimento para um mercado maior”, afirma Carvalho.

O público internacional é distinto do brasileiro: são consumidores mais interessados na cadeia de produção responsável, já que há diversos competidores em termos de design, e nos preços acessíveis do couro brasileiro. O tíquete médio é de 159 dólares, superior ao cobrado por aqui.

“Os americanos e canadenses nos deixam mais margem, e isso é proposital. Nossa mochila continua competitiva com esse preço, porque o couro tem um preço assustador por aqui. Com a margem a mais, financiamos a expansão”, diz Carvalho.

A produção continuará no Brasil, tanto pelos princípios de produção nacional quanto pela economia de custos em obtenção de matéria-prima e mão-de-obra.

Para 2019, a Beatnik and Sons projeta faturar 3 milhões de reais e vender 5 mil mochilas. Até 2022, o cofundador estima que o mercado internacional ultrapassará o brasileiro em vendas e que a Beatnik and Sons chegará a 14 milhões de reais em faturamento com sua produção de 100 peças diárias.

Carvalho e Molin continuam viajando -- mas o hobby se tornou também uma estratégia de negócio.

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