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Warren Buffett e Elon Musk trocam farpas sobre inovação (e doces)

Bastou oráculo de Omaha dizer para Musk ficar longe da See’s Candies para que o fundador da Tesla quisesse criar a própria fantástica fábrica de chocolates

Warren Buffett x Elon Musk: megainvestidor e megaempreendedor tiveram discussão que permeia muitas startups (Paul Morigi/Bloomberg e Mark Brake/Getty Images/Site Exame)

Warren Buffett x Elon Musk: megainvestidor e megaempreendedor tiveram discussão que permeia muitas startups (Paul Morigi/Bloomberg e Mark Brake/Getty Images/Site Exame)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 10 de maio de 2018 às 06h00.

Última atualização em 6 de março de 2019 às 20h50.

São Paulo - Conversas acaloradas sobre qual a melhor maneira de criar (e manter) um negócio inovador são uma rotina no mundo dos empreendedores - mas não é todo dia que se presencia uma discussão acalorada dessas entre personalidades tão fortes quando Elon Musk e Warren Buffett.

Uma inesperada troca de farpas entre o fundador da SpaceX e Tesla e o megainvestidor conhecido como "oráculo de Omaha" começou em suas respectivas conferências com acionistas, tomou veículos de mídia e, no caso de Musk, terminou na rede social Twitter.

Entre temas como defesas e doces, Musk e Buffett defenderam duas visões diferentes sobre a melhor forma de se manter na vanguarda dos empreendimentos: a inovação aberta ou a inovação exclusiva.

“Fossos são ultrapassados”

Em uma conferência com acionistas digna de reality show realizada no começo deste mês, Elon Musk deu respostas no mínimo ousadas às perguntas de seus investidores. Enquanto acusava as indagações de serem "entediantes" e "secas", sobrou tempo para falar sobre um conceito cunhado por Warren Buffett em 1999, conhecido como moat.

Moat, ou aquele fosso cavado em volta de castelos na Idade Média para impedir invasões, foi a metáfora usada por Buffett para definir quais negócios possuem sucesso: aqueles que possuem um elemento tão único que criam uma fortificação quase medieval contra seus concorrentes.

"Os produtos e serviços que têm vastos e sustentáveis fossos em volta deles são os que trazem recompensas aos seus investidores", escreve Buffett. Procurar negócios que tenham vantagens competitivas - redes de distribuição, precificação e reputação de marca, por exemplo - guiou a escolha de empresas para serem investidas pelo homem que se tornaria o oráculo de Omaha.

Pois bem: quase vinte anos depois, um youtuber perguntou a Musk por que ele deixa que outras marcas automobilísticas usem as estações de carregamento de baterias elétricas dos carros da Tesla.

"Eu só estou pensando por que isso não seria um fosso para vocês. A infraestrutura de carregar baterias que vocês construíram levaria anos e milhões de dólares para ser replicada por outra marca, então estou curioso sobre o pensamento estratégico de vocês em deixá-la disponível, no lugar de trancá-la."

Musk respondeu colocando a filosofia de Warren Buffett no jogo. "Eu acho que fossos são tão ultrapassados", constatou. "Se sua única defesa contra exércitos invasores é um fosso, você não irá durar muito. O que importa é o ritmo da inovação - esse é o determinante fundamental de concorrência."

Buffett esperou para responder alguns dias depois, durante a conferência de acionistas da Berkshire Hathaway, holding de empresas investidas pelo oráculo. Para ele, a aceleração tecnológica dos últimos anos de fato fez os fossos ficarem mais vulneráveis e eles devem constantemente reforçados.

Mesmo assim, certas companhias possuem hoje defesas mais impenetráveis do que nunca. "Elon pode virar as coisas de cabeça para baixo em algumas áreas", afirmou. "Mas eu não acho que ele gostaria de nos enfrentar nos doces."

Fantástica fábrica de chocolates

Buffett fazia referência a um de seus investimentos, a See’s Candies. O megainvestidor comprou a fabricate de guloseimas em 1972, por 25 milhões de dólares. Buffett viu uma marca amada pelos californianos e capaz de crescer com poucos aportes - na sua visão, um bom fosso.

Musk encarou a declaração como um desafio. Em sua rede social favorita, o Twitter, escreveu: “Eu vou começar uma empresa de doces e ela será incrível. Estou falando super, super sério.”

O suposto tom solene logo se tornou brincadeira. “Acabei de pensar em como o enredo do Willy Wonka [personagem de A Fantástica Fábrica de Chocolate] é sinistro. Ok, ok, só para discutir, o que vocês esperam em um doce?”, tweetou. Ele mesmo respondeu: “cryptodoce”. Mais uma farpa ao oráculo de Omaha, já que Buffett afirmou que bitcoins são um jogo, e não um investimento.

“Eu vou construir um fosso e enchê-lo de doce. Warren B não vai resistir a investir nisso! É a kryptonita contra a Berkshire Hathway”, referenciando o mineral que enfraquece até mesmo o Super-Homem. “Dizer que você gosta de fossos é só uma maneira gentil de dizer que você gosta de oligopólios.”

É difícil que essa discussão vá para frente. O megainvestidor da Berkshire Hathaway ainda possui um celular de flip e a última vez que postou no Twitter foi em 2016.

Trollagens à parte, Buffett e Musk protagonizam um debate atual no mundo do empreendedorismo. Decidir se sua grande sacada deve ser compartilhada (um conceito conhecido como “inovação aberta”) ou guardada a sete chaves é um assunto que divide muitas outras companhias. Basta olhar para o Android, com um sistema operacional aberto a desenvolvedores, e o iOS, criação exclusiva da marca Apple.

Não há nenhum decreto, medieval ou futurista, dizendo quem está certo nessa história de fossos e doces. O que resta, para cada dono de negócio, é escolher de qual lado da guerra ficar.

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