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Eles ouviram “não” 60 vezes antes de conseguir R$ 90 milhões

O projeto, que se concretizou como o app GuiaBolso, ganhou destaque como o aplicativo de finanças mais baixado do país


	Tiago Alvarez e Benjamin Gleason: o próximo passo é lançar funções de consultoria personalizada
 (Divulgação/GuiaBolso)

Tiago Alvarez e Benjamin Gleason: o próximo passo é lançar funções de consultoria personalizada (Divulgação/GuiaBolso)

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Da Redação

Publicado em 2 de setembro de 2016 às 08h24.

São Paulo - O que você faria se tivesse uma ideia rejeitada por mais de 60 investidores?

Se você pensaria em desistir, a história destes dois empresários pode te fazer mudar de ideia a partir de agora.

Em meados de 2012, com o projeto de um aplicativo de controle financeiro em mãos, Benjamin Gleason e Thiago Alvarez bateram de porta em porta em busca do investimento inicial. Após receberem mais de 60 respostas negativas, eles finalmente conquistaram a confiança de investidores e puderam dar continuidade à ideia.

Dois anos depois, o projeto se concretizou como o aplicativo GuiaBolso, uma ferramenta de controle financeiro que acompanha a conta bancária do usuário de forma automática. Ele ganhou destaque como o aplicativo de finanças mais baixado do país – hoje são mais de 2,5 milhões de usuários – e já conquistou nada menos que 90 milhões de reais em investimentos.

Explorando um novo nicho

Os dois empresários já haviam trabalhado com consultoria para bancos e atuado juntos em grandes empresas, como a McKinsey & Company e o Groupon. Gleason, que se mudou dos EUA para o Brasil em 2007, atuou de forma voluntária na reestruturação financeira de uma ONG do Rio de Janeiro.

Do contato direto com pessoas e com a área financeira veio a percepção do quão difícil era para as pessoas entenderem e gerenciarem suas finanças. “Essa dificuldade de entendimento as leva a se enrolarem e gastarem mais do que deveriam”, destaca Gleason.

Diante de um nicho praticamente inexplorado, os dois nutriram a ideia de criar um aplicativo que ajudasse nesse controle. Além da necessidade notada no público, o fundador afirma que outro incentivo foi o cenário promissor que eles notaram na época.

“A bola da vez era o e-commerce. Dezenas de milhões de pessoas já tinham acesso à internet, tinham cartão de crédito e confiavam em compras online. Criar uma tecnologia online para ajudar as pessoas a controlar gastos parecia ser um negócio grande, pois não havia nenhum outro modelo assim no Brasil”, conta o empreendedor.

A novidade, no entanto, não agradou de cara os investidores. Segundo Gleason, isso se deve principalmente ao fato de aquele ser um mercado tão novo que muitos não entendiam muito bem a proposta.

“Hoje em dia, investir em tecnologia está em alta; muitas startups surgem e muitas empresas investem. Estávamos nisso antes de virar moda e era justamente o contrário, ninguém queria saber dessa área”.

Mesmo assim, o projeto não ficou estagnado; os dois sócios investiram cerca de R$ 150 mil cada um, contrataram três funcionários e começaram a trabalhar em casa. Tudo isso com a certeza de que, hora ou outra, o investimento viria. E ele veio em 2013.

A primeira rodada de investimento foi liderada pela e.Bricks, que aportou R$ 1 milhão, e contou também com o fundo de investimento americano Valor Capital. A partir dela, os dois sócios fortaleceram contato com investidores institucionais e, assim, puderam iniciar o desenvolvimento do modelo que existe hoje.

Segundo o empresário, um passo importante para trazer credibilidade ao projeto foi mostrar aos grandes investidores que outras pessoas já confiavam em seu potencial. “Antes da primeira rodada, nosso primeiro investimento veio de um conhecido, que entrou com um cheque pequeno”, explica, referindo-se ao investimento de R$ 60 mil vindo de um ex-colega de trabalho. “Ter o apoio de pessoas físicas mostrava que já havia quem apostasse em nós”.

Empreendedorismo social

Lançado em abril de 2014, o GuiaBolso conta hoje com uma equipe de mais 80 funcionários e já tem como investidores gigantes como a Kaszek Ventures, Omidyar Network e o International Finance Corporation (IFC), do Banco Mundial. Além de garantir capital para promover melhorias no aplicativo, o sucesso garante, também, a possibilidade de optar pelos investidores certos.

“Ficou cada vez mais fácil captar investimento e atrair mais interesse e demanda. Tanto que agora temos até que falar ‘não’ para investidores. Com isso, podemos analisar qual investimento faz mais sentido para o momento e para o que estamos fazendo”, destaca Gleason.

A intenção de gerar um impacto positivo na vida das pessoas também tem se mostrado bem-sucedida: o aplicativo já atingiu 2,5 milhões de usuários e colaborou para a economia de mais de 247 milhões de reais em 2015.

“A análise de perfil dos usuários mostrou que, após quatro meses de acompanhamento, uma pessoa já é capaz de economizar 2,5 vezes mais. E vemos isso não por pesquisas de opinião, mas por meio da análise direta no extrato”, esclarece o fundador.

Ele destaca, ainda, que o cenário econômico do país também colaborou para que as pessoas buscassem mais por esse tipo de serviço. Em meio a juros altos, o crescimento da inadimplência e uma crise de proporções internacionais, o timing em que o aplicativo surgiu fez com que ele auxiliasse os usuários no momento em que mais precisavam economizar.

Por conta desse impacto, o empresário vê o aplicativo como parte de um importante cenário de empreendedorismo social. “A cada dia têm surgido mais ferramentas que visam gerar impacto na vida das pessoas, seja ajudando a conseguir empregos, consultas médicas ou a melhorar a educação. Todas as áreas do país precisam de inovações e esse tem sido um movimento interessante”.

Um passo de cada vez

Parte do alcance e do impacto positivo do GuiaBolso se deve ao fato de ele ser gratuito para o usuário. E foi só depois de conseguir ser reconhecido pelo público que o aplicativo começou a trabalhar sua rentabilidade.

Isso porque, segundo o empresário, a prioridade antes era garantir sua funcionalidade. “Primeiro quisemos garantir que criamos algo bom para o usuário. Esse ano começamos a trabalhar nessa outra parte e estamos indo com muito cuidado”.

Ele explica que, depois de dar ao usuário a visão sobre suas finanças, o próximo passo é lançar funções de consultoria personalizada. A ideia é, por exemplo, auxiliar uma pessoa endividada a optar por uma melhor opção de crédito pessoal, com juros menores do que o cheque especial. Tudo isso por meio da análise das necessidades e do perfil de cada usuário.

Em troca, o aplicativo recebe uma comissão da instituição escolhida pelo usuário.

Além de promover novas funcionalidades, outra meta para o próximo ano é dobrar o número de usuários e atingir ainda mais pessoas. Para o empresário, a própria indicação entre os usuários torna possível essa difusão. 

“É muito questão de ‘boca a boca’, pois as pessoas têm um grau de satisfação muito alto com o app. Ele se tornou uma referência para ajudar a entender de finanças, assim como o Facebook é referência como rede social e o LinkedIn, profissional”.

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