Design do trio elétrico Demolidor, da MB Produções, foi pensado por alunos da Belas Artes (Divulgação)
Anderson Figo
Publicado em 27 de fevereiro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 27 de fevereiro de 2017 às 09h23.
São Paulo - Quem pensa que trio elétrico é um negócio promissor só na Bahia, e durante o Carnaval, está muito enganado. Com o tempo, o símbolo da celebração da maior festa do país na capital soteropolitana evoluiu muito e se tornou personagem principal de diversos outros eventos em todos os meses do ano e em todo o Brasil.
O empresário Marcelo Borgerth sabe bem disso. Ele uniu a paixão por entretenimento com o tino para negócios e criou, em 1994, a MB Produções —empresa especializada na criação de veículos e estruturas itinerantes personalizados.
Sediada em São Paulo, a MB começou com pequenas apresentações em supermercados e feiras até chegar a desenvolver trios elétricos de luxo sob medida para astros da música como Ivete Sangalo. No ano passado, foram cinco grandes projetos, com tíquete médio de 1 milhão a 5 milhões.
Recentemente, a empresa fechou contrato com a Brasil Kirin e a Diageo, fabricante do whisky mundialmente conhecido Johnnie Walker, e está em fase de negociação de outros três grandes projetos com marcas famosas.
Mas o caminho até aqui foi longo e cheio de desafios. Apesar de ter cursado Direito, Borgerth sempre se interessou pelo meio artístico e desde cedo começou a trabalhar como locutor em rádios de São Paulo. Ter uma voz conhecida era bom, mas mais importante ainda era que as pessoas conhecessem sua fisionomia.
“Eu achava que o mais bacana era ir para a rua e mostrar a cara em eventos. Ir para os bairros. Era uma forma de eu ficar mais conhecido e atrair público para meu programa na rádio”, diz.
“No início dos anos 1990, eu tinha um Fusca e o vendi para comprar um caminhão antigo. Era um baú, tipo esses que fazem mudanças. Eu o modifiquei para que sua lateral abrisse como se fosse uma tampa, transformando a lataria em um palco.”
A iniciativa deu resultado: ele começou a ser chamado por diversos supermercados para apresentar seu programa de rádio nesses estabelecimentos. Em troca, ganhava de dinheiro a mercadorias.
Em 1994, ele viu ao vivo pela primeira vez um trio elétrico de verdade, durante o “CarnaSampa”, se apaixonou e quis ter um daqueles. Não teve dúvida: vendeu o seu caminhão, um Gol que havia comprado anteriormente e seu apartamento, que valia em torno de 70 mil reais.
Com o dinheiro, comprou um caminhão novo, maior, e mandou trazer dos Estados Unidos um amplificador profissional de uma marca ainda inédita no Brasil para equipá-lo.
O investimento impulsionou a quantidade de eventos para os quais ele era contratado. Os acordos incluíam desde o veículo e a estrutura de shows até o entretenimento completo, com bailarinas, banda cover e luzes.
A banda cover, chamada de Tomate Cru, inclusive, fez tanto sucesso que apareceu diversas vezes em programas de TV como Domingo Legal. E o próprio Borgerth ganhou notoriedade no meio artístico, sendo chamado para ser jurado no programa do Raul Gil.
O ponto alto da MB Produções foi conseguir um contrato com Ivete Sangalo, em 2003. “Fiquei sabendo que ela iria fazer um show numa casa de São Paulo. Liguei lá uns dias antes, consegui descobrir o horário da passagem de som e fui até lá. Um dos irmãos da cantora, Jesus Sangalo, me atendeu quando eu disse que tinha um trio elétrico que poderia ser usado por Ivete em shows”, conta.
Jesus apresentou Borgerth à Ivete, que o pediu para falar com seu produtor musical na época, Carlos Correia. Poucos dias depois, Correia estava em São Paulo para “testar” o trio de Borgerth. A avaliação foi que o design e conforto do veículo eram excelentes, mas os recursos de áudio eram excessivos e inadequados.
“Tinha duas opções: ou comprava caixas de som novas para o trio e a Ivete cantaria nele, ou desistia. Optei por financiar caixas novas, e conseguimos trazer a rainha do axé para cantar em nossa plataforma”, diz Borgerth. Em 2009, a MB fechou um contrato com a equipe de Ivete para construir um trio elétrico gigantesco e cheio de tecnologia, o Demolidor.
“Foi muito legal, porque fizemos uma parceria com o Centro Universitário Belas Artes para que os alunos da instituição pudessem projetar o design da estrutura do Demolidor. A escolha final foi da Ivete. Como a própria cantora divulgou a construção da estrutura, conseguimos algumas parcerias excelentes, como com a Goodyear, que forneceu os pneus do veículo”, afirma.
O Demolidor abriu as portas da MB para um mundo novo: a empresa assinou contratos com grupos como Terra Samba, Harmonia do Samba e Jamil.
O sucesso dos trios de Borgerth também chamou atenção de grandes companhias como a Ambev. A fabricante de bebidas contratou a MB para criar duas novas plataformas em formato de lata de cerveja e garrafa, as quais funcionaram como palcos em eventos da empresa durante anos.
Entre os novos projetos de Borgerth, está a aposta em plataformas que proporcionam experiências. O contrato com a Diageo, dona da marca Johnnie Walker, é um exemplo. Trata-se de uma plataforma itinerante em formato de bar, em que os frequentadores podem conhecer como é produzido o whisky.
“O mar não está para peixe. Uma experiência itinerante é a melhor forma de uma marca se manter próxima do seu público e fidelizar clientes. Conseguir o contrato com a Diageo, que é uma empresa tão respeitada no mundo todo, mostra a seriedade do nosso trabalho, e isso deve nos abrir novas portas”, afirma Borgerth.
A MB Produções tem atualmente 20 funcionários fixos e pode contratar profissionais terceirizados dependendo da quantidade de projetos em curso. “Já temos trabalho para o ano todo”, completa o empresário.