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Ela fez brigadeiros virarem negócio que resolve maior problema dos salões

Carolina da Costa e Marcelo Terreiro Prado pivotaram sua startup para atender uma grande dificuldade dos salões de beleza: organizar contas

 (LaPag/Divulgação)

(LaPag/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 3 de junho de 2018 às 08h00.

Última atualização em 3 de junho de 2018 às 08h00.

São Paulo - As ideias de negócio, muitas vezes, escondem-se debaixo dos nossos narizes - ou, no caso da estudante Carolina da Costa, debaixo das unhas. Ela queria se tornar empreendedora e começou a pensar como consumidora dos salões de beleza. Mas foi apenas quando olhou do outro lado do balcão que percebeu uma bela oportunidade de negócio.

Assim nasceu a LaPag: uma startup que aposta no nicho para bater maquininhas de gigantes como Cielo, PagSeguro e Rede. O negócio ainda é pequeno, com 100 clientes na carteira, mas já atraiu os olhos de investidores como Renato Freitas, um dos fundadores do aplicativo de mobilidade 99 - o primeiro unicórnio brasileiro.

Criação de negócio: pivotagem e brigadeiros

Carolina Mendes da Costa estudou Administração. Ela queria tanto trabalhar no mercado financeiro que se tornou presidente da Liga de Finanças do Insper. Porém, começou a ver a explosão de startups em terras brasileiras - e logo quis usar seus estudos sobre empresas para abrir o próprio negócio.

Sua primeira ideia foi baseada na própria experiência como consumidora. Costa queria criar um aplicativo para “a mulher moderna”, que possui diversos compromissos na agenda - no caso dela, por exemplo, visitas recorrentes a salões de beleza. “Mas vi que era um app mais de facilidade do que de resolução de problemas”, conta. A dor de mercado ainda não era suficiente para rentabilizar.

As conversas com os salões na hora de montar o app não foram em vão, porém. A empreendedora viu que o buraco era mais embaixo: eles tinham problemas graves nas contas. “Muitos vão à falência por não saberem gerir bem seu dinheiro. Então, pivotei meu aplicativo para resolver a vida financeira dos salões de beleza.”

O tamanho do mercado a ser atendido chama atenção: segundo pesquisas da própria startup, há 750 mil salões de beleza no Brasil. Conversando com 200 proprietários e gerentes desses estabelecimentos, estimou-se que 90% das transações são feitas por meio de plásticos.

Costa só tinha como experiência de trabalho a empresa júnior do Insper, com nenhum dinheiro guardado no banco. Por isso, decidiu transformar seus populares brigadeiros em uma fonte temporária de renda. Cozinhava de noite e vendia no dia seguinte, na sala de aula. Em dois meses, obteve quatro mil reais para abrir a empresa, comprar um domínio e estabelecer o primeiro contato com fornecedores. Foi o primeiro funding do seu novo negócio, chamado LaPag.

Economia e gestão de salões de beleza

A LaPag nasceu há um ano e meio, após seis meses de pesquisa e elaboração do plano de negócios. Além de Costa, entrou para o negócio o colega e estudante de Engenharia Marcelo Terreiro Prado.

A primeira solução criada pela startup foi uma maquininha de pagamentos específica para os salões de beleza. De acordo com a empreendedora, a taxa de transação cobrada se assemelha a das maquininhas de marcas como Cielo, PagSeguro e Rede, por meio de uma negociação de spread com as adquirentes.

O grande diferencial da LaPag não está no preço, mas na integração com um sistema gratuito de gestão e repasse de comissões.

Quando uma consumidora faz serviços como corte, depilação e manicure e realiza um único pagamento, o dono do salão tem que calcular a comissão sobre cada serviço e repassar para cada funcionário de forma manual, puxando comandas e extratos bancários. Geralmente, esse é um processo quinzenal de pagamentos. Com isso, os custos com taxas de transações comem a margem do negócio sem o dono perceber.

Na maquininha da LaPag, essa árvore de pagamentos se conecta aos perfis cadastrados dos profissionais e dos valores pré-definidos de comissão por serviço realizado. A transferência é automática.

Em três meses, o negócio recuperou o investimento inicial. Hoje, a LaPag atende 100 clientes como salões de beleza, barbearias e estúdios de tatuagens. A maioria dos clientes são os salões médios, com até 15 profissionais, em estados como Distrito Federal, Mato Grosso, Rio de Janeiro e São Paulo.

De acordo com a startup, os clientes ampliam seus lucros em 20%, na média. Em alguns estabelecimentos, a porcentagem chega a 40%. A taxa varia de acordo com quantas transações o negócio faz - quanto mais, maior a margem.

“Trazemos economia para os salões e, ao mesmo tempo, temos um modelo de negócio rentável desde o primeiro dia de uso das maquininhas. Com isso, ficamos quase um ano em operação sem precisar de investimentos externos”, diz Costa.

Carolina da Costa, da LaPag, mostra o aplicativo da startup

Carolina da Costa, da LaPag, mostra o aplicativo da startup (LaPag/Divulgação)

Investimento, aceleração e metas

Em março deste ano, a ideia de Costa e Prado fez sua rodada de investimento semente (seed) com o fundo de investimento Canary e o investidor-anjo Renato Freitas, cofundador da 99. No total, a rodada ultrapassou 1 milhão de reais.

O objetivo do aporte é escalar a solução em nuvem da LaPag, levando-a para mais estabelecimentos e para mais estados. A meta é chegar ao fim deste ano com 1.000 clientes.

O negócio também foi selecionado para o Programa de Aceleração da Visa, que prevê investimentos de até 205 mil reais em cada startup selecionada. Os sócios da startup estão no Vale do Silício neste momento, como parte do programa.

“O negócio realmente deu um salto. Temos mentorias com pessoas que empreendem e especialistas, como gente do Google e da aceleradora GSVlabs. Também conhecemos o escritório internacional da Visa.”

Além de expansão por números, a startup imagina aumentar o portfólio de produtos. Os donos de salões já têm um app parecido com o Nubank, onde veem um calendário de gastos e pagamentos a receber e recebem notificações de transações. No software, também possuem gerenciamento de estoque e de relacionamento com o cliente.

“Agora, estamos estudando elaborar cartões para eles, como os plásticos pré-pagos. Também faremos um sistema de gestão completo, com mais funcionalidades para gerir melhor o estabelecimento.”

A LaPag já chamou empresas e investidores de renome. Resta saber se a startup, apostando no nicho, conseguirá estabelecer-se nesse concorrido mercado das maquininhas para pequenos e médios empreendedores.

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