Wagner Ruiz, da startup de pagamentos Ebanx: clientes como Uber, Spotify e AliExpress (Germano Lüders/Exame)
Carolina Riveira
Publicado em 15 de janeiro de 2020 às 10h09.
Última atualização em 15 de janeiro de 2020 às 13h03.
Até agora atuando nos bastidores ao oferecer uma plataforma de pagamentos sobretudo a empresas estrangeiras, a fintech curitibana Ebanx vai aparecer mais em frente às câmeras em 2020.
A companhia anunciou nesta quarta-feira uma conta digital gratuita voltada ao consumidor final, com cartão físico e virtual da bandeira Visa. Batizado de Ebanx GO, o produto está em fase beta. A empresa enviou convites a 10.000 consumidores no momento, e há uma fila de espera para quem quiser testar o produto no futuro.
O Ebanx tornou-se um dos nove unicórnios brasileiros em outubro do ano passado, o primeiro fora da região Sudeste. A empresa atingiu valor de mercado de 1 bilhão de dólares ao receber um aporte do fundo FTV Capital (mesmo grupo que já havia investido anteriormente na startup).
Embora o Ebanx atue em outros sete países da América Latina, a nova conta digital fica restrita aos clientes brasileiros por enquanto, segundo a empresa informou em comunicado. A versão definitiva deve ser lançada por aqui no segundo semestre deste ano. O serviço foi criado em parceria com a Dock, plataforma que desenvolve tecnologia para que empresas ofereçam serviços bancários.
Fundado em 2012 e com sede em Curitiba, o Ebanx nasceu oferecendo uma tecnologia de pagamento capaz de fazer empresas estrangeiras, como a AliExpress, conseguirem vender produtos no Brasil -- o que foi particularmente útil para que as multinacionais conseguissem se adaptar a particularidades brasileiras, como o boleto bancário ou o pagamento em parcelas. Além da AliExpress, seu maior cliente, a empresa atende também nomes como Uber, Airbnb e Spotify.
O intuito com a conta digital será unir suas duas frentes de atuação, a corporativa e a voltada ao cliente. Além de compras comuns, o novo cartão dará, por exemplo, direito a benefícios como 5% de cashback (dinheiro de volta) quando o cliente usá-lo para comprar em 18 sites parceiros do Ebanx, como AliExpress e Spotify.
"Oferecer acesso sempre foi a grande missão do Ebanx. Começamos com soluções de pagamentos latino-americanos para sites internacionais, que ajudaram a popularizar produtos e serviços globais como Airbnb, Spotify e AliExpress no Brasil e em outros sete países da América Latina. O Ebanx GO é mais um passo nessa direção, dessa vez atuando diretamente no mercado brasileiro", disse em o diretor financeiro e co-fundador do Ebanx, Wagner Ruiz, em comunicado divulgado pela empresa.
Nos últimos anos, a empresa já havia promovido algumas mudanças, começando a atuar em outros países da América Latina. Em 2019, passou ainda a oferecer seu sistema de pagamentos também para empresas brasileiras, e não só para transações de empresas estrangeiras. Mas a conta digital é a primeira empreitada do Ebanx lançada diretamente aos consumidores, no chamado modelo B2C (business to consumer ou de negócio para cliente), diferente do B2B (business to business, ou de negócio para negócio) usado anteriormente com sua plataforma de pagamentos.
Especialistas apontam que, ao ingressar no segmento voltado ao cliente, uma fintech ganha em possibilidade de clientes (que são mais numerosos que as empresas) e em conhecimento da marca. Mas perde ao precisar empregar grandes investimentos em marketing e enfrentando uma maior concorrência.
Carteiras e contas digitais pipocaram no Brasil nos últimos anos: há desde o banco digital Nubank, cujo valor de mercado passou de 10 bilhões de dólares no ano passado, a nomes como C6 Bank ou PicPay. A lista segue. Esses serviços surgiram para dar ao consumidor uma opção gratuita, conveniente e sem tarifas e fazer frente aos bancos tradicionais, que ainda hoje cobram altas taxas e não conseguem chegar a uma ampla massa da população -- reportagem de EXAME no ano passado mostrou como mais de 45 milhões de brasileiros ainda são "desbancarizados", isto é, não possuem relação com bancos ou outros serviços financeiros e recebem seus pagamentos somente em dinheiro.
De olho nessa oportunidade, nem só startups de tecnologia vêm lançando serviços financeiros voltados ao consumidor. Mesmo empresas fora do segmento financeiro, como varejistas e aplicativos de entrega de comida (como iFood e Rappi), também já possuem algum tipo de carteira digital.
Todas as principais varejistas no Brasil lançaram uma carteira digital nos últimos meses, como B2W e Lojas Americanas (com o Ame), Via Varejo (com o banQi) e Magazine Luiza, além da argentina Mercado Livre (com o Mercado Pago).
O modelo é o mesmo: as empresas oferecem descontos, dinheiro de volta e outras promoções e, em troca, alimentam a esperança de levar parte de sua já ampla base de consumidores no serviço principal (neste caso, o varejo ou as entregas) também para o serviço financeiro.
Do outro lado, os próprios bancos, preocupados com a concorrência, também vêm criando produtos digitais e mais baratos, como o iti do Itaú lançado no ano passado.
Como o Ebanx ainda é pouco conhecido do público geral por ter empregado boa parte de seus esforços até hoje para oferecer ferramentas diretamente às empresas, o desafio será se fazer conhecido e desejado entre os consumidores inundados por dezenas de serviços de fintechs e bancos.
A startup de Curitiba tem no currículo alguma experiência com o trato direto com o cliente. A empresa disponibiliza em seu site uma "área do cliente" para que quem compra em sites estrangeiros usando sua tecnologia de pagamentos consiga visualizar onde está o pedido no trajeto de entrega ou receber reembolsos.
Ruiz afirma no comunicado de lançamento que a empresa está orgulhosa de "oferecer mais uma plataforma a milhares de brasileiros". “Entramos neste mercado com uma visão diferente, aplicando toda nossa experiência adquirida com clientes globais e aprendizado com consumidores brasileiros ao longo de muitos anos", afirmou o diretor financeiro.
Mais de 55 milhões de usuários no Brasil e na América Latina já usaram indiretamente os serviços do Ebanx ao comprar nos mais de 1.000 sites clientes da startup. A empresa quer agora que a mesma eficiência e tecnologia que a fez ser a porta de entrada das maiores companhias do mundo no Brasil seja útil também na hora de pagar as compras.