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Sem divórcio criativo: 4 dicas para quem quer empreender em casal

Empreender em casal tem vantagens, mas exige disciplina e respeito aos limites para não misturar questões do relacionamento com as da empresa

Liliana e Ricardo Ferreira são casados e também emprendem juntos e criaram a Brownli Brownies (Ricardo Matsukawa / Ricardo Yoithi Matsukawa-ME/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)

Liliana e Ricardo Ferreira são casados e também emprendem juntos e criaram a Brownli Brownies (Ricardo Matsukawa / Ricardo Yoithi Matsukawa-ME/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)

Ter um negócio próprio é tomar decisões o tempo todo. Uma delas é ter um sócio, opção de muita gente para conseguir colocar a ideia em prática, aumentar o capital e dividir responsabilidades e tarefas. Há quem escolha como sócio o seu companheiro ou companheira também da vida pessoal. Casais nessa situação acabam tendo uma convivência mais intensa, já que passam juntos praticamente 24 horas por dia, todos os dias, compartilhando os aspectos positivos e negativos do trabalho e de casa. Mas, afinal, qual a fórmula do sucesso para conciliar relacionamento pessoal e profissional?

Os desafios são grandes, mas Liliana Guimarães e Ricardo Pupo donos da browneria Brownli, no Guarujá, trabalham juntos desde que abriram o primeiro negócio após a conclusão da faculdade de arquitetura. Eles começaram a namorar no primeiro ano de curso e logo que se formaram, há cerca de 30 anos, montaram seu próprio escritório dentro de casa e assim permaneceram até 2014, quando veio a crise no mercado de construção civil. Então Liliana transformou o seu gosto por brownies em uma forma de ganhar dinheiro.

“Estava trabalhando nas duas empresas e chegou um momento em que começamos a fazer a distribuição para clientes maiores. Aí eu pensei: ‘Não quero mais brincar de trabalhar’ e resolvi fazer disso um negócio”, lembra Liliana.

A partir desse momento, Ricardo assumiu a parte administrativa. Eles começaram a investir e montaram uma cozinha industrial dentro de casa, em um ambiente reservado para o trabalho. Com a pandemia, a produção da browneria caiu quase 90% no primeiro momento. Mas, juntos, pensaram em formas de vencer as dificuldades. “Agora estamos aumentando as nossas opções no cardápio e também investindo em e-commerce”, conta.

Entre o casal, as tarefas estão divididas de acordo com o perfil de cada um. Liliana fica com parte de produção e também cuida das embalagens e do site. Já Ricardo é responsável pela parte financeira e administrativa, além de cuidar das vendas. Entre os principais desafios de tocar um negócio com o parceiro, Liliana relata o cuidado ao expor opiniões.

“Quando você trabalha com uma pessoa com quem tem muita intimidade, às vezes você acaba falando coisas de uma forma diferente, se impõe mais e isso pode gerar discussões mais calorosas. Se você não tivesse tanta intimidade, falaria de uma outra forma.”

O casal tem três filhos e conta que já tem uma rotina bem adaptada a esse modelo de trabalho. “Sempre trabalhamos assim e funciona muito bem. Eu trabalhei durante um tempo em um escritório de arquitetura fora, mas acabei optando em voltar para o nosso. Eu gosto desse jeito”, diz Liliana.

Para a consultora de negócios do Sebrae-SP Sandra Fiorentini, o principal cuidado que casais devem tomar está relacionado com a habilidade de conseguir separar as questões pessoais do dia a dia da empresa. “É preciso saber deixar de lado os problemas domésticos. Imagina um casal que discute em casa e no dia seguinte na empresa não se fala, ficam ambos de mau humor? Isso afeta o clima em todas as esferas”, pondera.

Outro desafio, de acordo com Sandra, é a separação entre as contas da casa e as finanças da empresa. Desafio para qualquer empreendedor, ele pode se tornar ainda mais difícil quando negócios e relações pessoais se misturam.

“Isso ocorre porque o sustento da casa vem de um único caixa: o da empresa. Às vezes, o dinheiro da empresa é utilizado sem limites para o sustendo da família e depois falta para pagar fornecedores, funcionários, impostos etc.”

Unidos pela natureza

Cibele Eloá e Giuliano Prado são os proprietários do parque de ecoturismo SelvaSP, no bairro de Marsillac, extremo sul da capital da paulista. Eles já se conheciam da vizinhança, mas foi durante um passeio em uma trilha das cachoeiras do local em 2008 que se aproximaram e começaram a namorar. O amor pela natureza e a vontade de ajudar na preservação do local uniu o casal também nos negócios.

Na região, sempre se falou muito sobre o potencial turístico do local. Contudo, o uso da área pelos turistas gerava muito lixo com atividades desordenadas. O casal então fundou uma associação para ajudar na preservação do turismo local e também para realizar treinamentos com monitores ambientais a fim de proporcionar renda para as pessoas que já moravam ali.

Após dois anos com essa associação, eles encerraram as atividades, partiram para outro empreendimento na região e fundaram a SelvaSP, em 2014. A operadora de ecoturismo atua no mesmo local onde eles se conheceram alguns anos antes.

“Continuamos fazendo atividade de monitoria de trilhas. Colocamos também parceiros e pessoas que já moram na região para trabalhar. Assim conseguimos contribuir para um turismo mais consciente e promover a geração de trabalho e renda para comunidade local”, diz Cibele.

A empreendedora explica que ambos trocam muitas ideias e executam desde o administrativo até a operação. “Brigamos mais quando o assunto é a SelvaSP do que quando se refere ao próprio relacionamento. Estamos sempre juntos, visitamos muito lugares juntos. A gente se olha e já sabe o que tem que fazer. Acabamos sempre entrando em acordo.”

 

Respeito

A Mustache Store, comércio especializado em moda feminina, é outro exemplo de negócio conduzido por casal. Maicon Perussi e Patricia Trindade têm uma loja física em Araçatuba e também atuam no ambiente online, vendendo para todo o Brasil. Patricia é responsável pela parte criativa da loja – que vende apenas modelos desenhados por ela.

No início, só Patricia estava à frente do negócio, quando ainda comercializava roupas de diversas marcas. Maicon tinha um outro emprego e ajudava na loja nos períodos vagos.

Ao optar por apenas vender roupas da sua própria marca, o volume de trabalho aumentou muito e Maicon resolveu se dedicar ao negócio em tempo integral. “Eu estava há seis anos no meu emprego, saí e montei a confecção com ela. Quando tudo começou a girar eu já estava junto”, ele conta.

Para Maicon, trabalhar com Patricia trouxe mais paz para a vida pessoal e do casal. “Tínhamos uma pressão muito grande nos nossos trabalhos. Agora estamos menos estressados, ela divide os problemas dela comigo e as preocupações do meu outro emprego já não existem mais. O estresse partiu ao meio. Ficamos 24 horas juntos, os problemas ficaram menores e vivemos mais tranquilos, mais felizes”, comemora

Mas para a parceria nos negócios dar certo, Maicon ressalta que alguns cuidados devem ser tomados. “Ela criou a loja e eu cheguei depois. Eu via muita coisa que para mim tinha de ser diferente. Então fizemos a divisão do tipo ‘daqui para frente você não mexe’. Embora sejamos marido e mulher, eu tenho o cuidado em não infringir a autoridade dela; temos limites”, afirma.

Dicas para conciliar amor e negócios

A consultora de negócios do Sebrae-SP Sandra Fiorentini tem quatro dicas básicas para os casais que pensam em empreender juntos.

  • Não leve problemas domésticos para a empresa e vice-versa.
  • Faça reuniões semanais para resolução das questões da empresa – em que deve prevalecer o melhor para o negócio e sua sustentabilidade, pois é dele que vem o dinheiro.
  • Planejamento: tenha sempre em mente onde querem chegar com a empresa, qual faturamento necessitam para o sucesso do negócio e sustento da família.
  • Estabeleça metas: faturamento; número de clientes novos; redução dos custos; e também quais serão as estratégias para atingir essas metas.

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