Marina Anjos, fundadora da Cian: marca de velas aromáticas foi criada na pandemia e já recebe mais de 60.000 pedidos por mês (Cian/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 8 de março de 2021 às 06h00.
Última atualização em 8 de março de 2021 às 19h13.
Quando a designer de moda Marina Anjos aceitou um novo emprego no Rio de Janeiro, um ano atrás, ela não poderia imaginar os efeitos que a pandemia de coronavírus teriam no Brasil. Em menos de um mês, a jovem teve o contrato suspenso e precisou voltar para a casa da família em São Paulo. Sem ter o que fazer, começou a criar velas aromáticas para se distrair. “Divulguei o trabalho nas redes sociais como uma brincadeira e, em menos de um mês, ganhei 1.000 seguidores e recebi vários pedidos”, conta.
O projeto que nasceu como hobbie de quarentena hoje é uma marca digital de sucesso chamada Cian. A empreendedora fatura cerca de 30.000 reais com pedidos por mês no Instagram e no e-commerce próprio, além de vender mais 30.000 reais em produtos para a Amaro e outras 10 lojas pelo Brasil. “Faturei quase 100.000 reais em quatro meses online. Para este ano, pretendo bater a marca de 300.000 reais”, diz Marina.
Nesta segunda-feira, dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, histórias como a da Marina resumem a força das empreendedoras brasileiras em tempos de crise. Os últimos doze meses não foram fáceis para as mulheres. Com as pessoas passando mais tempo dentro de casa, muitas precisaram equilibrar a educação dos filhos, a alimentação da família, a limpeza doméstica e o seu próprio trabalho.
Essa sobrecarga causou reflexos nos negócios. Dados do Sebrae mostram que no terceiro trimestre de 2020, a proporção de mulheres entre os empreendedores brasileiros caiu quase um ponto percentual na comparação com o mesmo período de 2019 — o que significa, na prática, uma perda de 1,3 milhão de mulheres a frente de um negócio no Brasil.
Mas, mesmo com as dificuldades, as empreendedoras que conseguiram manter seus negócios se mostraram mais proativas e inovadoras que seus pares homens. Cerca de 45% delas, contra 41% deles, passaram a comercializar novos produtos ou serviços durante a pandemia. Além disso, 76% delas usam redes sociais, aplicativos e a internet para vender, enquanto somente 67% dos homens estão nesses canais.
"As empreendedoras foram altamente impactadas pela pandemia e, segundo pesquisa do Instituto Rede Mulher Empreendedora e Locomotiva, 58% disseram que precisavam se digitalizar, aprender a usar a internet e ferramentas online ajudariam muito", diz Ana Fontes, fundadora da RME e presidente do Instituto RME.
As empreendedoras brasileiras costumam se aventurar nas vendas online primeiro nas redes populares no país, onde conseguem manter contato direto com os consumidores. Foi esse o caminho encontrado pela empreendedora Tatiane Oliveira, de 42 anos, para continuar com seu negócio. Dona de uma loja de roupas no bairro do Ipiranga, em São Paulo, ela faturava cerca de 40.000 reais por mês antes da pandemia.
“Com a quarentena, precisei me reinventar em 15 dias, fui para o Instagram mostrar as peças”, diz Tatiane. Um ano depois, sua marca, a PimentaPimenta, ainda não recuperou totalmente o patamar de receita anterior, mas ela já soma 20.000 seguidores na rede social e consegue se manter levando os pedidos até a casa das clientes.
As entregas também foram a saída de Margaret de Lima, dona do Ateliê Margô Bordados, de São Joaquim da Barra, no interior de São Paulo, para seguir tendo renda em meio à quarentena. Há dez anos, a microempreendedora individual ajuda a manter a casa da família vendendo toalhas de banho, panos de prato e jogos de mesa bordados.
Antes da pandemia, boa parte da clientela da Margaret fazia encomendas de peças para dar de presente em aniversários e chás de bebê. Sem os eventos, a empreendedora precisou mudar suas apostas e mirar mais longe. Além de oferecer produtos diretamente aos clientes pelo WhatsApp, Margô entrou para o marketplace do Magazine Luiza, onde já realiza vendas para vários estados do Brasil. “Minha presença digital começou devagar, mas já tenho mais de 50% da receita do ateliê vinda das vendas online”, diz a empreendedora.
A boa notícia é que o número de empreendedoras que, assim como Margaret e Tatiane, buscam espaço na internet está aumentando. Segundo o Instagram, perfis empresariais comandados por mulheres na rede cresceram mais de 20% desde novembro do ano passado. No marketplace da Amazon no Brasil, elas já correspondem a 35% das vendas. Já na plataforma da Nuvemshop, que ajudou 75.000 pequenas e médias empresas na América Latina a criarem seus sites, as mulheres são donas de 60% dos negócios virtuais — 10% a mais que no ano passado.