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Depois dos 60: Aposentados empreendem para elevar renda e manter atividade

Eles já são quase 120 mil Microempreendedores Individuais (MEIs) no Estado de São Paulo e representam 6,1% do total; participação cresce ano a ano.

Vicente e Eliane Guimarães vendem sua produção de molhos e geleias em feiras veganas (Foto/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)

Vicente e Eliane Guimarães vendem sua produção de molhos e geleias em feiras veganas (Foto/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 10 de novembro de 2018 às 07h00.

Última atualização em 10 de novembro de 2018 às 07h00.

Foi-se o tempo que aposenta­doria significava inativida­de. Seja pela necessidade de complementar de renda ou a von­tade de atuar com algo prazeroso e oportuno, pessoas com mais de 60 anos escolheram o caminho do empreendedorismo.

Só no Estado de São Paulo são quase 120 mil Microempreendedo­res Individuais (MEIs) com 61 anos ou mais. Eles representam 6,1% dos mais de 1,9 milhão de MEIs. No ano passado, essa participação era de 5,7%. Há três anos era de 4,3%.

De acordo com o consultor do Sebrae-SP Ruy Barros, os empreen­dedores mais velhos, até por terem mais experiência, não se arriscam tanto e procuram identificar uma oportunidade de negócio promissor e também ligado a uma área que eles gostam. “Apesar de estarem an­siosos pelos resultados rápidos, eles assimilam as orientações e fazem a lição de casa e o plano de negócios. Eles planejam mais”, destaca.

Pesquisa do Sebrae-SP sobre empreendedorismo na terceira idade mostra que a principal mo­tivação para abrir o negócio de 36% dos entrevistados foi ter uma fonte de renda ou complementar a renda familiar. Foi o caso do casal que mora em São Paulo, Vicente e Eliane Guimarães, de 64 e 66 anos, respectivamente.

A situação apertou e os ganhos como vendedor de Vicente não esta­vam fechando as contas. Foi então que surgiu a ideia de comercializar molhos de pimenta, geleias, pastas e conservas. A receita do molho é de Vicente e as outras criações e adaptações são da Eliane, que che­gou a trabalhar como professora de informática e antes de empreender era dona de casa. “Hoje sou uma dona de casa tentando ser uma em­preendedora”, diz.

A rotina de cuidar da casa e da produção da Vi Pimenteiro é puxa­da. Comprar os vidros, esterilizar, produzir artesanalmente, etiquetar e vender em eventos. “Minha maior recompensa é essa: ficar feliz. É loucura, tem horas que fico extre­mamente cansada, mas é compen­sador. Você se sente útil, se sente capaz. Saímos felizes dos eventos, é muita energia boa. O mais gostoso de tudo não é só vender. É quan­do a pessoa chega para degustar e elogia. Não tem dinheiro no mundo que pague”, conta Eliane.

As vendas começaram em um bazar no condomínio de uma amiga há um ano. Desde então, não para­ram mais. Entre tropeços e acertos, o casal encontrou seu público-alvo: os produtos são vendidos em feiras veganas e vegetarianas. “Nós par­ticipávamos de tudo quanto é feira e eventos e aprendemos que não é bem assim. Fiz cursos do Sebrae pela internet, participei de várias oficinas e do projeto de alimenta­ção fora do lar. Aprendi muita coi­sa. Não consegui colocar tudo em prática ainda. Mas uma das coisas mais importantes que aprendi é que você precisa descobrir quem é o seu público-alvo. Hoje eu sei qual é e é nele que focamos. Na verdade, não temos clientes, temos amigos”, con­ta Eliane, que está começando a fa­zer parcerias para ganhar mercado.

Planos futuros

O casal Mauro Imperatori e Ana Maria Pollastrini Imperatori, tam­bém de São Paulo, está em busca de uma oportunidade no mercado. Ambos advogados e aposentados, ela com 65 e ele com 84 anos, espe­ram abrir o negócio com um dinhei­ro previsto para receber até o fim do ano. “Apesar da idade, estamos com vitalidade para desenvolver uma atividade porque só ser aposentado é muito chato”, afirma Mauro.

Amante da culinária, Mauro tinha o plano inicial de abrir uma empresa de alimentos congelados. Mas, depois do curso Canvas no Sebrae, eles repensaram o projeto e ainda estão decidindo no que in­vestir. “Eu avaliei muito bem que o investimento que terei que fazer exige um prazo de maturação mui­to grande. Por outro lado, eu, com 84 anos, ainda tenho vitalidade cerebral para fazer alguma coisa. Mas não terei condições físicas de tocar uma empresa de culinária, que é muito cansativa e trabalho­sa”, pontua Mauro.

Ruy Barros, do Sebrae-SP, lem­bra que os riscos de abrir um negó­cio são os mesmos independente­mente da idade do empreendedor. Por isso, ele ressalta a importância do planejamento. “É importante fazer o que gosta. O dinheiro vem em consequência. E não esquecer do planejamento. É preciso iden­tificar três aspectos: quem será o cliente, quem são os concorrentes e quem será o fornecedor ou par­ceiro”, destaca.

Outro ponto de atenção men­cionado pelo consultor é a tecnolo­gia, que muitas vezes é um desafio para os mais velhos. A pesquisa do Sebrae-SP mostra que os parentes são acionados por 44% dos em­preendedores quando precisam de alguma informação.

De olho nessa barreira, o proté­tico aposentado Tomaz Vicente da Costa, de 71 anos, procurou ajuda do Sebrae no Alto Tietê para fazer um curso sobre o tema de internet.

“Sou leigo nessa área e busquei aju­da para ampliar meu conhecimen­to”, conta Costa, que vai buscar qualificação para tirar o registro de corretor de imóveis. “Amo conver­sar com as pessoas, amo vender. E ser um corretor sem conhecer essa área não vai funcionar”, diz.

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