Estevan Sartoreli, cofundador e presidente da Dengo: as vendas digitais da companhia, que correspondiam a 1% do faturamento no começo de 2020, hoje representam 30% do negócio (Germano Lüders/Exame)
Carolina Ingizza
Publicado em 21 de março de 2021 às 06h00.
Há um ano, o empreendedor Estevan Sartoreli, cofundador e presidente da Dengo, vivia o dia mais desafiador da sua carreira. Menos de 20 dias para a Páscoa, ele precisou fechar as lojas da marca de chocolate pelo país e guiar os funcionários em meio a um mar de incertezas. "De um dia para o outro, 99% dos nossos canais de venda desapareceram", diz o empresário.
Sem alternativa, a empresa focou no digital. Em uma semana, o e-commerce da marca, que até então era controlado por um funcionário e um estagiário, ganhou mais de 40 pessoas dedicadas e conseguiu segurar a receita da companhia na data comemorativa mais importante do ano para ela. Na época, as vendas da marca pela internet saltaram mais de 60 vezes.
Agora, na segunda Páscoa em meio à pandemia, o cenário da Dengo é outro. Apostando nas vendas online, que correspondem a 30% do faturamento da companhia hoje, a marca lança uma nova ferramenta de e-commerce para facilitar os presentes à distância.
Chamada de “Monte seu Dengo”, a nova funcionalidade disponibilizada permite que, em um único carrinho de compra, o cliente monte vários kits de chocolate e programe os envios para endereços diferentes. Segundo o presidente, tudo pode ser personalizado na plataforma, desde os tipos de chocolate até o modelo do cartão que acompanhará os pedidos.
Desenvolvida pela própria empresa, a plataforma de multientregas vem sido testada desde o Natal. Por enquanto, na primeira fase de lançamento, o serviço só estará disponível na cidade de São Paulo, mas deve ser levado a outras regiões nos próximos meses. Com isso, a expectativa da empresa é aumentar em até 50% as vendas nos canais digitais na Páscoa deste ano.
Essa não é a primeira vez que a marca aproveita uma data importante para lançar novas funções no e-commerce. No Dia das Mães do ano passado, a companhia foi pioneira em lançar uma plataforma de venda por streaming para que os vendedores apresentassem aos clientes, em uma live, os produtos disponíveis nas lojas.
Esses investimentos em tecnologia foram a forma que a Dengo encontrou para se proteger das oscilações causadas pela pandemia. Mesmo no final do ano, quando as 21 lojas da companhias estavam abertas ao público, o ritmo de vendas no e-commerce, nos aplicativos de delivery e nas redes sociais se manteve o mesmo. Agora, a duas semanas da Páscoa, quando somente as quatro unidades da rede no Rio de Janeiro seguem abertas, a infraestrutura digital se mostra mais uma vez essencial.
“Acredito que a multicanalidade não é mais uma escolha de cada negócio, mas uma condição do novo varejo. O cliente espera ser atendido da forma que preferir”, diz Sartoreli. Ainda assim, a Dengo aposta no poder que as lojas físicas têm de criar boas experiências para os clientes. Não foi a toa que a marca inaugurou um espaço-conceito na Avenida Faria Lima, em São Paulo, no final do ano passado. A ideia é que a unidade seja como um ponto turístico de prazer e indulgência em meio ao centro financeiro.
Fundada em 2017, a Dengo nasceu para ser uma marca de chocolates premium 100% brasileira. A empresa foi idealizada por Guilherme Leal, cofundador da Natura, Sartoreli e outros quatro sócios. A ideia para o negócio surgiu de um desejo de Leal de ajudar a melhorar a economia do sul da Bahia, onde tinha propriedades. Foi seu ex-funcionário Sartoreli, que trabalhou por 12 anos na Natura, que o convenceu a levar adiante o projeto que hoje é a Dengo.
A marca tem como propósito gerar renda para os pequenos produtores de cacau do sul da Bahia e manter de pé a Mata Atlântica. Toda a plantação é feita entre as árvores nativas da região, o que confere ao chocolate traços de manga, tangerina, banana e jabuticaba, entre outras frutas brasileiras.
Segundo o presidente, hoje a marca trabalha com 160 produtores locais e paga a eles 84% a mais que o preço médio do cacau na bolsa. Até 2030, a meta da companhia é beneficiar pelo menos 3.000 famílias da região.
Hoje, o quilo do chocolate Dengo sai, em média, por 230 reais, mas Sartoreli ressalta que os preços praticados pela marca não são consequência da maior remuneração aos produtores, mas sim parte de seu posicionamento para disputar com marcas como Lindt, Kopenhagen e Cacau Show.
Ainda que tenha menos participação de mercado que as concorrentes, a empresa já conquistou seu espaço. Por mês, ela vende 18 toneladas do produto e fatura estimados 50 milhões de reais por ano.