O jogo Assassin's Creed: Unity: na série, paisagens como a Catedral de Notre-Dame são protagonistas (Ubisoft/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 16 de abril de 2019 às 16h22.
Última atualização em 17 de abril de 2019 às 11h20.
Nada pode trazer de volta a história contida nas 500 toneladas de madeira usadas na estrutura do telhado da Catedral de Notre-Dame, em Paris, que começou a ser construída em 1163 e teve seu telhado consumido por doze horas de incêndio ontem (15). A depender das inovações na ciência e no mercado, no entanto, ao menos os movimentos arquitetônicos pensados por seus idealizadores serão mantidos com fidelidade milimétrica.
A primeira contribuição vem de Andrew Tallon, um historiador da arte que usa a tecnologia em seus estudos. Com a ajuda de scanners por laser, Tallon conta ao site National Geographic que verificou como edifícios -- inclusive a Catedral de Notre-Dame -- movem-se ao longo do tempo e da incidência de calor solar.
Esses movimentos revelam como os prédios foram concebidos, caso sejam medidos com a precisão necessária. Antes dos escaneamentos por laser, os instrumentos de medição eram tão antigos quanto os usados para construir edifícios históricos: lápis e réguas.
Os lasers percorrem do scanner a cada ponto atingido dentro de um espaço. O tempo para ele percorrer tal trajeto é medido e a distância é calculada, enquanto cada ponto é representado em cor.
Em conjunto, os pontos criam uma imagem 3D, costurada por Tallon junto a imagens esféricas panorâmicas, para recriar lugares como a Catedral de Notre-Dame. O edifício parisiense foi mapeado a partir de 50 espaços de coleta de pontos. A precisão de cada ponto é de até cinco milímetros.
O trabalho do historiador de arte levou a algumas surpresas sobre Notre-Dame. O lado oeste é uma “bagunça” arquitetônica, com colunas interiores e corredores que não se alinham. O movimento do lado oeste indica que o solo era instável e que a construção demorou mais do que o previsto, o que já tinha sido cogitado por historiadores diante de mudanças estilísticas nessa parte da catedral.
Essa e outras descobertas de Tallon podem revelar mais detalhes sobre qual era a intenção dos idealizadores de Notre-Dame, guiando os trabalhos atuais de reconstrução.
Enquanto isso, a artista Caroline Miousse levou dois anos para recriar a Catedral de Notre-Dame no universo do jogo Assassin’s Creed: Unity, desenvolvido pela empresa Ubisoft e que retrata a época da Revolução Francesa do século XVII, do ataque à Bastilha até a execução do Rei Luís XVI.
Nos diversos jogos da série, que vão das cruzadas cristãs ao antigo Egito, as paisagens são protagonistas. A Paris de Assassin’s Creed: Unity foi remontada com túneis, interior de edifícios e até dez mil parisienses em uma mesma tela, de acordo com o site The Verge.
Notre-Dame é a maior estrutura do jogo. Miousse teve de discutir cada detalhe da catedral e trabalhou com artistas e historiadores para remontar a textura dos tijolos e os detalhes em cada pintura, por exemplo. Mesmo assim, a artista teve de adicionar detalhes que não estavam prontos na época em que se passa o jogo, mas desejados por quem conhece a versão contemporânea de Notre-Dame.
Suas mudanças para se adaptar à época atual, ironicamente, podem facilitar o trabalho de quem agora deve copiar a Notre-Dame virtual para a realidade.