Ernesto Vilela, fundador da Mimoo Grátis: modelo busca ajudar empresas parceiras a divulgar e testar produtos (Mimoo/Divulgação)
Carolina Riveira
Publicado em 31 de julho de 2019 às 06h00.
Última atualização em 31 de julho de 2019 às 11h47.
Consumidores que foram alguma vez nos últimos dois meses ao shopping Metrô Tucuruvi, na zona norte da cidade de São Paulo, logo se depararam com filas que davam voltas em um canto do segundo andar subterrâneo. O motivo, no entanto, não era um evento específico ou um novo filme americano em cartaz, mas uma loja em que os clientes levam todos os produtos para casa de graça.
Esse é o modelo da Mimoo Grátis, loja que não vende nada e funciona apenas distribuindo aos frequentadores amostras grátis de produtos que recebe de marcas parceiras. A primeira unidade foi aberta no shopping Metrô Tucuruvi em junho e já distribuiu mais de 52.000 produtos a 17.000 clientes únicos.
Até agora, os mais de 2,4 milhões de frequentadores mensais do shopping puderam retirar gratuitamente latas da cerveja Stella Artrois, da Ambev, o desodorante Rexona, da Unilever, lâminas de barbear da BIC, potinhos de creme da Luminesce, marca da americana Jeunesse, biscoitos e cereais da Nestlé e batons da Eudora, marca do Boticário.
O empreendimento foi idealizado pelo empresário curitibano Ernesto Vilela, que também é dono da Samplify, empresa-mãe da Mimoo e focada na distribuição de produtos para ações de empresas clientes, mercado chamado de marketing de experimentação.
A Samplify tem contrato com 3.000 redes varejistas em 200 cidades para distribuir as amostras grátis das empresas, e a empreitada da Mimoo surgiu dentro da empresa como um experimento de uma loja própria para produtos de diferentes vertentes.
O sistema da Mimoo, assim como a da Samplify, é baseado em dados, de modo que as empresas podem, por exemplo, decidir oferecer determinado produto a um perfil específico de cliente -- o desodorante da Rexona, por exemplo, não ficou disponível para homens no aplicativo.
As empresas parceiras, por sua vez, contratam a Mimoo para distribuir seus produtos na loja com objetivo de divulgar a marca entre os clientes do shopping, além de fazer alguma ação específica ou testar a receptividade de um produto novo.
"A pessoa vai até a loja atraída pelos produtos grátis, e consegue encher uma cesta de produtos que não necessariamente iria até alguma outra loja comprar", diz Vilela. "Mas se o cliente experimentar o produto e gostar, tem chances de lembrar sempre da marca e continuar comprando."
Para pegar os produtos na Mimoo, o cliente precisa baixar o aplicativo de descontos Zipz e, por lá, verifica quais produtos estão disponíveis para retirada naquele dia. Em seguida, é preciso reservar o produto e, no mesmo dia, ir até a loja retirá-lo.
A retirada dura o dia inteiro, mas, para fazer a reserva, é preciso ser rápido. O estoque dos produtos é limitado, e, por meio de um servidor do Google, Vilela "abre" ou "fecha" a reserva de produtos ao longo do dia. É comum que as unidades disponíveis para reserva naquele dia se esgotem em poucas horas -- ou mesmo em minutos.
Quando EXAME visitou a Mimoo, em julho, a loja estava em seu primeiro dia de distribuição de um creme da Luminesce. Na primeira hora de distribuição, o produto já teve mais de 3.000 reservas e mais de 300 clientes que haviam pegado sua amostra.
"Eu disse ao shopping que é como ter uma estreia de 'Vingadores', só que todo dia", brinca Vilela, comparando a longa fila se formando na porta da loja aos espectadores se aglomerando para assistir ao filme da Marvel.
Cada CPF dá direito a um produto de cada tipo, de modo que, no dia da visita de EXAME, um mesmo usuário podia levar para casa um desodorante, uma cerveja, um creme e uma lâmina de barbear, produtos disponíveis na ocasião.
Cada consumidor pega em média dois produtos, segundo os dados da Mimoo, e 70% de quem reserva pelo aplicativo de fato vai até a loja no mesmo dia para buscar sua unidade e não perder a reserva. A expectativa é que a loja entregue de oito a dez produtos diferentes por mês no curto e médio prazo.
Dentre os clientes que reservaram um produto da Mimoo, mais da metade são millenials (pessoas na casa dos 20 a 30 anos) e pessoas entre 35 e 39 anos. A maioria (69%) também é mulher.
É o caso da estudante Lethicya de Paula, 18, que estava no shopping em uma tarde de julho e já havia pegado um produto da Mimoo naquele dia. Ao ver sobre o lançamento do creme da Luminesce, logo reservou o produto e voltou novamente à gigantesca fila da loja. "Eu venho sempre ao shopping, e fico olhando o aplicativo para ver se aparece algo novo", diz.
Fernando Mavouchian, 45, é dono de uma pequena fábrica de calçados na zona norte e também estava na fila para pegar os produtos da Mimoo -- segundo ele, "a pedido da mulher". "Eu não frequento muito esse shopping, só vim aqui para isso", diz.
Com pouco mais de um mês de operação, Vilela está empolgado com a grande receptividade dos clientes, apesar de o negócio ainda estar em fase inicial. "Por enquanto, ainda estou aprendendo e testando muito", diz.
Uma segunda loja da Mimoo está prevista para inauguração nesta quinta-feira, 1º de agosto, no Mais Shopping, em Santo Amaro, zona sul de São Paulo. A Mimoo está em conversa com outros três shoppings para abrir novas lojas até o fim deste ano na capital paulista (um na zona leste, um na zona oeste e outro na avenida Paulista). O objetivo da é abrir lojas em locais de grande circulação e com foco na classe média e classe média baixa.
O sucesso entre o público já é quase garantido, mas falta agora o modelo se mostrar bem-sucedido nas receitas, que a empresa ainda não divulga. Se isso acontecer, diz o fundador, a expectativa é ter 25 lojas em todo o Brasil no fim de 2020 e atender a mais de três milhões de consumidores por ano. Vem mais fila por aí.