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Coworking descolado dispensa funcionária grávida e gera revolta

Após atitude insensível com funcionária, o espaço para empreendedores cívico-sociais Civi-co afirmou que mandou convite de recontratação à recepcionista

O coworking Civi-co: espaço despediu (e quer recontratar) recepcionista que estava grávida (Civi-co/Facebook/Reprodução)

O coworking Civi-co: espaço despediu (e quer recontratar) recepcionista que estava grávida (Civi-co/Facebook/Reprodução)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 6 de dezembro de 2018 às 15h39.

Última atualização em 10 de dezembro de 2018 às 14h21.

São Paulo - A recepcionista Raiane dos Santos, de 26 anos, trabalhava no descolado coworking Civi-co, localizado no bairro paulistano de Pinheiros. Em outubro, seu contrato como pessoa jurídica (PJ) terminou e ela foi dispensada do serviço. O problema dessa história é que ela já havia comunicado ao empreendimento que estava grávida pouco tempo após iniciar o trabalho. Saiu com a barriga aparente e nenhum direito trabalhista; seu bebê nasceu um mês após o desligamento.

Apesar de o caso ter acontecido em outubro, ganhou repercussão nas redes sociais apenas nesta semana. A história ganhou contornos maiores de revolta porque o Civi-co se define como um espaço de inovação para empreendedores cívico-sociais, ou como uma "comunidade de transformadores que tem o propósito de fomentar o impacto social, a participação cidadã, a transparência e o bem comum".

Na sua comunidade estão empresas de cunho social, como Feira Preta, Gerando Falcões, Humanitas 360 e Transparência Brasil. As paredes do Civi-co pregam dizeres como "é de todos", enquanto suas postagens na rede social Facebook se pintam de reações negativas.

Em entrevista a VEJA, os gestores Ricardo Podval e Patrícia Villela Marino falaram sobre a situação de Raiane. "Ela havia assinado um contrato de seis meses. Ao longo do seu trabalho, avisou que estava grávida, mas não falou sobre suas necessidades ou que precisaria rever seu modelo de contrato. Os seis meses terminaram e como não houve nenhuma manifestação por parte dela, achei que estava tudo bem", afirmou Podval. Vale lembrar que a estabilidade da gravidez vale inclusive para contratos de prazo determinado.

Marino, por sua vez, condenou a disseminação da notícia nas redes sociais e afirma não ter o desejo de recontratar a funcionária apenas para remediar o erro trabalhista. "Liguei para ela [Raiane dos Santos] ontem à tarde. Ela estava muito assustada, com medo da repercussão, medo de não conseguir mais emprego por parecer uma pessoa encrenqueira. A iniciativa de espalhar a notícia não havia partido dela e foi muito cruel essa exposição. Senti que era uma funcionária leal, tem o sangue do Civi-co e, por isso, quero recontratá-la. Não por causa da repercussão do caso ou apenas para corrigir o erro, mas porque ela é uma pessoa de confiança."

Em comunicado enviado para EXAME, o Civi-co afirma ter feito uma reunião hoje com os funcionários e residentes sobre a saída de Raiane. O coworking convidou a ex-funcionária se reintegrar à equipe, em regime CLT, e afirma já ter pagado a licença-maternidade e direitos devidos à recepcionista. "Reconhecemos que nossa conduta não foi a mais apropriada e sensível à situação, ainda que tenha sido cumprido o contrato acordado entre as partes", diz o Civi-co. "Somos uma empresa jovem, sujeita a falhas."

Raiane aceitou ser recontratada hoje, no modelo CLT. Ela voltará ao trabalho após acabar seu período de licença-maternidade, que será custeada pela empresa na forma da lei.

Leia, abaixo, o posicionamento do Civi-co na íntegra:

"Nos reunimos hoje com nossos colaboradores e residentes para uma conversa franca e aberta sobre os questionamentos em relação à saída da nossa ex-colaboradora Raiane dos Santos. Comunicamos à nossa comunidade a decisão de convidar a Raiane a se reintegrar à equipe do CIVI-CO, em regime CLT. Ouvimos todos e analisamos a situação em conjunto. Caso aceite nossa oferta, Raiane voltará após cumprir sua licença-maternidade remunerada e receber por seus direitos, além de todo o apoio necessário já oferecido a ela. Reconhecemos que nossa conduta não foi a mais apropriada e sensível à situação, ainda que tenha sido cumprido o contrato acordado entre as partes. Iniciamos também uma análise interna para resolver qualquer outra questão similar que possa haver com nossos atuais e futuros colaboradores. Somos uma empresa jovem, sujeita a falhas, que preza o bem-estar de todos os seus residentes, fornecedores, parceiros e de toda sua comunidade. Estamos abertos ao aprendizado e empenhados sempre em melhorar nossas práticas e relações."

Atualizado às 22h48 para incluir a volta de Raiane ao emprego.

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