(Cataki/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 12 de abril de 2019 às 06h00.
Última atualização em 12 de abril de 2019 às 14h05.
Administrar o lixo que geramos é um dever dos órgãos públicos e das empresas -- mas ainda falta muito para a obrigação ser vista pelo país. Apenas 35 milhões de brasileiros (17%) têm acesso a programas municipais de coleta seletiva. Os catadores são responsáveis por quase 90% de todo o material que chega ser reciclado no Brasil -- e é neles que o aplicativo Cataki aposta para reduzir os 5,7 bilhões de reais que o país perde ao não reciclar, destinando inadequadamente 40% dos seus resíduos. Para isso, o app une catadores em busca de renda a usuários e empresas dispostas a praticarem mais a coleta seletiva.
O Cataki é um projeto de 2016, criado pela organização não-governamental Pimp My Carroça. A ONG foi fundada há sete anos pelo ativista e grafiteiro Mundano. Ele trabalha há doze anos com catadores, com projetos como a reforma e pintura de carroças. “Diversas pessoas me contatavam quando queriam reciclar. Eu não tinha tempo de atender todo mundo, então decidi criar uma solução para conectar usuários a catadores”, diz Mundano.
O Cataki estima que há 800 mil catadores no país e 74 milhões pelo mundo. De um lado, o aplicativo busca aumentar a renda desses profissionais. Do lado das empresas e consumidores contratantes, o objetivo é aumentar a adoção da coleta seletiva, reciclagem e sustentabilidade.
O aplicativo começou a operar há 18 meses, após receber um capital semente de 60 mil reais com a venda de obras de artes doadas para a causa. O desenvolvimento do app contou com o apoio do MIT, em um projeto voluntário que leva estudantes do Massachusetts Institute of Technology (Estados Unidos) para uma imersão de uma semana em outro país, aplicando conhecimentos adquiridos no instituto. No ano passado, a ideia de negócio ganhou o Grand Prix 2018 de Inovação Digital, uma iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Com 100 mil downloads do aplicativo, o Cataki reúne 1.400 catadores e pontos de coleta em cerca de 300 cidades brasileiras. Basta ter um telefone para aderir ao serviço.
Os catadores registrados pelo aplicativo costumam se dedicar integralmente à coleta e possuem renda de 300 a 3 mil reais mensais. “Alguns chegaram a dobrar sua renda com o Cataki”, afirma Mundano.
Seis a cada dez catadores usam carros ou pequenos caminhões para a coleta, o que “mostra sua profissionalização”. “Falamos frequentemente com eles e estudamos fazer campanhas de capacitação”. As cidades de Recife, Rio de Janeiro e São Paulo concentram o maior número de cadastros.
O Cataki cresce 10% ao mês, com um marketing completamente orgânico. Com o apoio de empresas, Mundano estima que o aplicativo poderá atingir cinco milhões de downloads e cerca de 200 mil catadores, considerando trabalhadores com telefone e ao menos uma carroça para realizar a coleta.
O Cataki não cobra dos catadores e dos usuários. Para se monetizar, o aplicativo pretende cobrar de empresas e entidades públicas que fizerem uso de seus serviços -- abordagem conhecido como B2B, ou “de negócio para o negócio”. “As empresas se deram conta que só poderão cumprir seus compromissos por meio dos catadores. Estamos conversando com grandes produtoras de resíduo”, afirma Mundano.
Em parceria com a Universidade de Yale (Estados Unidos), o Cataki está desenvolvendo um modelo de negócios que contemple não só a gestão inteligente de resíduos de corporações, mas condomínios e hospitais.
O empreendimento também está captando fundos para desenvolver uma tecnologia de rastreabilidade da cadeia de coleta, do usuário até a recicladora. Outra novidade será gamificação ao usuário final, que acumulará pontos ao reciclar e os trocará por recompensas de patrocinadores.
Parte do dinheiro virá do Chivas Venture, premiação de empreendedorismo social. O Cataki é um dos finalistas globais e concorre a 100 mil dólares. Caso passe para a próxima fase, disputará mais um milhão de dólares.
Nomes de peso não faltam para o Cataki se popularizar -- o grande obstáculo está em fazer empresas e entidades públicas defenderem a reciclagem com mais ações e menos discurso.