PME

Conheça 3 negócios que mudaram de área para sobreviver à crise

Empreendedores alteram produtos, serviços ou até todo o modelo de negócio para reverter prejuízos durante e depois da pandemia

Adriano e Alexandre Salvador, irmãos e proprietários da Neo Soul: empresa que fabricava peças para ambientação de lojas passou a produzir totens de álcool gel e máscaras de proteção (Ricardo Matsukawa/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)

Adriano e Alexandre Salvador, irmãos e proprietários da Neo Soul: empresa que fabricava peças para ambientação de lojas passou a produzir totens de álcool gel e máscaras de proteção (Ricardo Matsukawa/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)

CI

Carolina Ingizza

Publicado em 6 de outubro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 7 de outubro de 2020 às 14h24.

Quando a pandemia da covid-19 chegou ao Brasil, os pedidos em produção das empresas dos irmãos Adriano e Alexandre Salvador foram suspensos. A ProMaxi confeccionava etiquetas para calças jeans e a Neo Soul fabricava displays para ambientação de lojas.

“Com o fechamento das lojas, shoppings e cancelamento de eventos, nos vimos em uma situação desesperadora, sem rumo, com a certeza de que não iríamos sobreviver nem um mês sequer”, lembra Alexandre.

Eles negociaram a devolução de um dos galpões para cortar custos, mas o acordo não chegou a ser efetivado. Isso porque, ao assistir a uma reportagem na televisão sobre o uso de máscaras de proteção facial, a face shield, os irmãos conseguiram colocar em pé o projeto para fabricação do equipamento em 24 horas. “Viramos a noite produzindo o protótipo e estávamos com produto, anúncio e embalagem prontos no dia seguinte”, conta Adriano.

Os empresários de São Paulo fazem parte de um grupo que conseguiu enxergar uma oportunidade na crise. De acordo com a pesquisa mais recente do Sebrae sobre o impacto do coronavírus nos pequenos negócios, entre as empresas que registraram aumento de faturamento, 13% alteraram seus serviços e produtos e 8% mudaram completamente seu modelo de negócios.

O analista de negócios do Sebrae -SP Sergio Capozzielli afirma que, em geral, as pessoas não gostam de mudanças, de rotas desconhecidas. “Ficar na zona de conforto é a coisa mais perigosa que pode acontecer para o empreendedor. Ainda mais com a situação toda que estamos vivendo, precisamos estar sempre pensando em ajustes, em como melhorar, em formas de reduzir custos e como ter outras fontes de receita”, destaca.

O empresário Adriano Salvador afirma que essa atitude de adaptação, de não se acomodar faz parte da cultura da empresa. Antes, com a ProMaxi, eles compraram uma máquina a laser para gravação nas etiquetas. O processo era caro e a máquina acabou depreciando. Mas em vez de vender o equipamento, eles começaram a fabricar peças em acrílico e MDF. “De uma máquina dentro da ProMaxi surgiu a Neo Soul, sempre fomos buscando oportunidades dentro do que as máquinas podem fazer”, diz Adriano.

Mas as ideias não surgem automaticamente. Pelo menos duas horas do dia são dedicadas às pesquisas de tendências, de máquinas, produtos. Desse processo, além da máscara de proteção, eles desenvolveram um tapete sanitizante e, com a sobra de materiais, produziram um revestimento de parede, feito de material EVA.

A linha de produtos voltados à prevenção da covid-19 ainda inclui totens de álcool em gel e faixas de isolamento. Tudo vendido no e-commerce estruturado após o início da pandemia. O resultado é um faturamento 200% maior do que nos mesmos meses do ano passado.

Cientes de que as vendas desses produtos devem diminuir com o tempo, os irmãos trabalham no desenvolvimento de novos produtos e dividiram o site em departamentos para a venda de itens variados, como aparelhos eletrônicos e brinquedos. “O mercado online nunca dorme e a concorrência é enorme, por isso, a inovação deve ser constante”, reforça Alexandre.

Joint Venture

Com atuação no mercado de serviços para eventos, os sócios da Macam, Marcos Vinicius Correa e Caio Faulin, foram surpreendidos pela pandemia quando estavam em plena ascensão. “Fomos buscar uma reinvenção para não ficarmos parados nessa crise”, conta Correa. Como a Macam já estava em conversa para uma parceria com a empresa de tecnologia CKS para o mercado de eventos e monitoramento de imagem, uma solução encontrada foi fazer uma joint venture para criar a Macam Tech.

O primeiro produto que surgiu dessa união foi o Saved 20, um equipamento que usa luz UVC para esterilização e desinfecção. “Tivemos uma recepção calorosa, mas é uma tecnologia cara. Toda tecnologia tem esse custo da inovação. Mas entendemos que é um mercado que vai existir mesmo depois da pandemia. Já temos parcerias com alguns hospitais e existe o tempo de maturação para o consumidor entender a tecnologia e seus benefícios”, afirma Correa.

O equipamento pode ser alugado a partir de 1.500 reais por mês ou adquirido por valores a partir de 24.000 reais. A Macam Tech também começou a fabricar uma cabine de esterilização para carrinhos de compra e fez negócios com uma rede de supermercados. “A empresa agora tem uma frente totalmente voltada para a tecnologia, para o desenvolvimento de soluções e um diferencial no mercado”, completa Correa.

Modelo de negócio

Para quem está com dificuldades e não sabe por onde começar uma remodelagem do negócio ou mesmo mudar radicalmente sua atuação, o analista do Sebrae-SP Sergio Capozzielli recomenda uma análise inicial sobre como atender o cliente neste momento. “É importante entender as necessidades do cliente e como seu negócio pode resolver essa ‘dor’”, aconselha.

Ainda mais nessa situação de pandemia, quando é preciso refletir sobre as mudanças do comportamento do consumidor em função das restrições e uma aceleração de tendências, como o home office, comércio eletrônico, delivery e novos meios de pagamento.

Entre as dicas para pensar sobre uma remodelagem, o especialista do Sebrae-SP aconselha avaliar as soluções oferecidas pela empresa, entender a jornada do consumidor, incluir novos parceiros, não esquecer da comunicação online e pensar em novas formas de gerar receita.

De acordo com Capozzielli, muitos empresários têm dificuldades de definir qual é o modelo de negócio da empresa, até por desconhecimento. Para ajudar nessa questão, é preciso responder quatro perguntas essenciais envolvendo o negócio: o quê, para quem, como e quanto.

O Canvas é uma ferramenta para ajudar nesse processo de enxergar os aspectos envolvendo o negócio por meio de nove blocos: segmento de clientes, proposta de valor, canais, relacionamento com clientes, fonte de receitas, recursos, atividades principais, parcerias e estrutura de custos.

“O modelo de negócio nunca será final. Durante um planejamento, você não deve pensar que vai trabalhar desse jeito daqui a dez anos. Sempre será necessário olhar seu modelo e repensar alternativas para manter a competitividade do seu negócio”, aconselha Capozzielli.

Reflexões sobre modelos de negócio

Valor

Com grandes mudanças, será imprescindível o aprofundamento dos conhecimentos em relação ao que o cliente deseja e valoriza.

Canal

Cada vez mais, comodidade e flexibilidade mobilizam os clientes. Empresas que atendem por múltiplos canais tendem a se destacar

Parcerias

Ninguém faz nada sozinho. Fornecedores, influenciadores e até concorrentes podem contribuir com a produção e a entrega da solução ao cliente.

Relacionamento

Empresas focadas no relacionamento têm grandes possibilidades de sair da crise mais fortalecidas e mais bem preparadas.

Atividades e recursos

Empreendedores devem monitorar constantemente seus processos e buscar adequá-los à proposta de valor do negócio.

Receitas e despesas

A busca pela ampliação do faturamento e o controle de gastos é cada vez mais importante nesse contexto.

yt thumbnail
Acompanhe tudo sobre:EmpreendedorismoPequenas empresasSebrae

Mais de PME

ROI: o que é o indicador que mede o retorno sobre investimento nas empresas?

Qual é o significado de preço e como adicionar valor em cima de um produto?

O que é CNAE e como identificar o mais adequado para a sua empresa?

Design thinking: o que é a metodologia que coloca o usuário em primeiro lugar