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Como Waze foi de startup a gigante -- e por que o Brasil é tão importante

Fej Yuval Shmuelevitz, vice presidente de comunidade e operações no Waze, está no app desde sua fundação e acompanhou seu crescimento — inclusive no Brasil

Escritório do Waze: o Brasil é um dos cinco maiores mercados da gigante da navegação, entre 185 países atendidos (Waze/Divulgação)

Escritório do Waze: o Brasil é um dos cinco maiores mercados da gigante da navegação, entre 185 países atendidos (Waze/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 13 de setembro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 13 de setembro de 2019 às 09h51.

A história de sucesso do aplicativo de navegação no trânsito Waze é a mais conhecida pelos brasileiros quando se fala nos sucessos dos negócios inovadores de Israel, a “nação das startupsem busca de se tornar uma “nação das scaleups”, ou negócios inovadores de alto crescimento e escalabilidade.

O negócio foi comprado por 1,3 bilhão de dólares pela gigante de tecnologia Google em 2013, cinco anos após sua criação. Desde então, o Waze tem 115 milhões de usuários ativos em 185 países. Fej Yuval Shmuelevitz acompanhou essa trajetória de perto. O hoje vice presidente de comunidade e operações no Waze entrou na startup ano de sua fundação, em 2008. Shmuelevitz viu, inclusive, o crescimento do Brasil como um dos cinco principais mercados do Waze e o maior da América Latina em termos de usuários ativos.

“Wazers” brasileiros gastam em média mais de 1h30 por dia usando o app de navegação no trânsito. Na Grande São Paulo, são 4,5 milhões de usuários ativos e 988 milhões de quilômetros rodados mensalmente. No Rio de Janeiro, são 1,7 milhão de usuários e 365 milhões de quilômetros por mês. Schmuelevitz falou a EXAME sobre como o Waze foi de startup para gigante da navegação -- em parte, por conta de um aspecto da cultura de empreendedorismo israelense que precisa se tornar mais comum em terras brasileiras. “Errar, aprender e tentar novamente é um processo que faz parte do nosso ecossistema. Em outras culturas, é difícil achar um emprego se você falhou no anterior”.

O vice presidente também contou sobre as expectativas otimistas quanto aos próximos passos por aqui -- afinal, temos muitos problemas no trânsito a serem resolvidos. “Sempre que expandimos, pensamos no Brasil.”

Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista:

EXAME -- O Waze foi vendido ao Google em 2013. Naquela época, o conceito de ter uma scaleup, e não apenas uma startup, já era comum aos empreendedores de Israel?

Fej Shmuelevitz -- Já havia sinais e eles se misturaram com avanços tecnológicos. Somos uma pequena nação e não existe a opção de colaborarmos com nossos vizinhos, então é óbvio que todas as companhias precisam ir ao exterior para obter sucesso. Quando você se prepara desde o começo para vender a outros países, sua percepção sobre ter uma startup já se transforma em ter uma scaleup. 

O surgimento de tecnologias como a computação em nuvem ajudou nesse movimento de expansão. O Waze se beneficiou da nuvem e mudou algumas das percepções sobre o que era ter uma scaleup em Israel. Fomos um dos primeiros unicórnios [startup avaliada em um bilhão de dólares ou mais] do país, baseados em internet e em crowdsourcing [conhecimento gerado pelos próprios consumidor]. Colocamos uma tendência para os próximos anos.

Fej Yuval Shmuelevitz, vice presidente de comunidade e operações no Waze

Fej Yuval Shmuelevitz, vice presidente de comunidade e operações no Waze (Waze/Divulgação)

Como o Waze escalou a ponto de atrair o interesse do Google? Qual foi a estratégia de expansão?

Conseguimos provar o sucesso do modelo de consumidores proverem informações aos mapas. O Google nos comparou a outras companhias e viu nosso valor, incluindo o fato de começarmos em uma nação pequena e mesmo assim chegar a dezenas de milhões de consumidores. Temos uma solução real para um problema do mundo todo, que é o trânsito, associada a uma boa prestação de serviço. Fazer a associação ao Google nos ajudou a prover ainda mais valor. Saltamos de 100 para 500 engenheiros em cinco anos.

Como o ecossistema empreendedor de Israel ajudou a criar e escalar o Waze?

Temos uma educação focada em computação e cibersegurança, acompanhada por unidades de inteligência nas Forças de Defesa de Israel. Muitas startups foram criadas por pessoas que serviram nessas unidades. O governo também provê incentivos para que negócios inovadores sejam bem sucedidos. A visão internacional, de que todo produto é construído para se tornar global, fez parte do Waze. 

Outro ponto importante é a própria cultura do país, que não vê o fracasso como algo ruim. Errar, aprender e tentar novamente é um processo que faz parte do nosso ecossistema. Em outras culturas, é difícil achar um emprego se você falhou no anterior.

Como esse ecossistema evoluiu ao longo dos anos?

Hoje, está mais fácil começar e escalar uma startup. No começo, o Waze nem estava em celulares inteligentes. Fizemos parte da onda de aplicativos conectados aos smartphones e a expansão do mobile nos ajudou a atingir mais pessoas e alcançar resultados mais rápido. Outras startups israelenses que aproveitaram essa expansão foram Checkpoint [cibersegurança], Mobileye [carros autônomos] e Wix [construção de sites].

Por que é importante construir uma scaleup, além de obter mais receitas? Você acha que elas podem inspirar potenciais empreendedores, por exemplo?

Quanto mais histórias de sucesso você tem, mais pessoas querem construir novos projetos empreendedores. Com certeza o Waze influenciou potenciais empreendedores e se tornou um exemplo de como ser bem sucedido abrindo negócios a partir de Israel. Funcionários saíram da nossa empresa e do Google para fundarem seus próprios negócios. Temos hoje mais ensino técnico, com estudantes chegando a níveis mais avançados de matemática e programas dedicados a computação e cibersegurança. Há um entendimento de que o futuro é tecnológico e preparamos os estudantes para a próxima geração de empregos.

Qual o próximo passo para o Waze?

Estamos nos esforçando para sermos hiperlocais. Em São Paulo, por exemplo, desenvolvemos uma solução que leva em consideração os dias de rodízio. Também estamos investindo em nossa solução de caronas. Vemos vias congestionadas que não se resolvem apenas otimizando rotas, mas de fato reduzindo o tráfego de veículos. Acreditamos que as caronas serão revelantes no futuro também pelo avanço de carros autônomos e da preocupação em reduzir a emissão de gases poluentes.

Quão importante é o mercado brasileiro para o Waze?

É muito importante por ser um mercado nos quais somos desafiados a desenvolver diversas soluções, como no caso do rodízio em São Paulo. É um de nossos cinco maiores mercados tanto em termos de usuários quanto de encontros que promovemos localmente. 

Queremos que o Brasil se torne ainda mais importante. Estamos otimistas e escalando nossa presença, ao adicionar mais valor por meio de mais problemas que resolvemos. Foi o caso da divisão de caronas, que lançamos no país logo depois dos Estados Unidos. Sempre que expandimos, pensamos no Brasil.

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