Gorenstein, Raussin e Leal, da Evino: carteiras digitais entraram no negócio há menos de um ano (Germano Lüders/Exame)
Mariana Fonseca
Publicado em 19 de fevereiro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 19 de fevereiro de 2019 às 06h00.
“Passou, pagou” é o meio de pagamento perfeito para compras de rotina, como colocar créditos de celular ou carregar cartões para transporte. Para a varejista online Evino, porém, oferecer a menor fricção possível também é a melhor opção para adquirir produtos requintados -- como seus vinhos premium.
O comércio eletrônico de vinhos inaugurou há menos de um ano sua solução de carteiras digitais, que permitem encomendar e direcionar a entrega das bebidas sem digitar nenhuma informação pessoal e financeira (basta cadastrá-las uma vez, ao montar a carteira). Hoje, a modalidade de pagamento representa de 7 a 10% dos pedidos da Evino e é a principal aposta da empresa para retomar a passos comedidos seu crescimento, após um conturbado 2018.
Com as carteiras digitais, os dados bancários e pessoais do usuário já ficam armazenados na hora de realizar uma compra. No lugar de coletar dados do cartão de crédito ou débito, o consumidor apenas abre o aplicativo da carteira digital em seu smartphone.
O mercado é enorme globalmente, valendo 100 bilhões de dólares no ano de 2017 e com crescimento anual esperado de 10% até 2024. Um estudo da empresa de pagamentos Worldpay projeta que as carteiras digitais sejam o meio de pagamento mais usado no comércio eletrônico de todo o mundo nos próximos cinco anos. A China seria o melhor exemplo do potencial das carteiras digitais: dois terços das transações no e-commerce passam por elas, assim como um terço das transações nos pontos de venda físicos.
Mesmo assim, a solução engatinha no Brasil. Apenas 13% dos gastos no comércio eletrônico usaram carteiras móveis em 2017. No ponto de venda, essa porcentagem cai para 3%. Ao adotar as carteiras digitais, a Evino pensou mais no futuro do que em uma necessidade atual de seus usuários. O negócio também quis aproveitar o fato de que metade de suas transações já ocorrem por meio do smartphone. “Pagar com carteiras digitais por aqui é um mercado nascente, há pouca oportunidade instalada. Acreditamos ser uma tendência que ocupará um espaço relevante, por simplificar a jornada do cliente”, afirma Marcos Leal, cofundador da Evino.
As carteiras digitais da Evino começaram em abril do ano passado, junto com o lançamento da carteira digital Apple Pay no Brasil. O negócio também aceita os concorrentes Google Pay e Samsung Pay. O pagamento é oferecido em parceria com a fintech Adyen, que faz a integração entre Evino e as carteiras, buscando reduzir a possibilidade de fraudes e cobranças indevidas.
Hoje, de 7 a 10% dos clientes da varejista online compram com carteiras digitais, o equivalente a 165 mil garrafas vendidas em 23 mil pedidos desde o começo do meio de pagamento. A Evino espera que a porcentagem cresça aos poucos, com mais bancos aderindo às soluções de carteiras digitais.
O momento para a Evino é de recuperação gradual de rentabilidade. Em 2017, a empresa faturou 265 milhões de reais, alta de 144% sobre o ano anterior. No ano seguinte, porém, o negócio sentiu os efeitos de importar 98% de seus produtos.
A produção mundial de vinhos no ano passado foi a menor dos últimos 60 anos, segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), e tanto o euro quanto o dólar se valorizaram frente ao real. A Evino enxugou promoções, estocou mais e renegociou contratos com fornecedores e operadores logísticos. O negócio não divulga o resultado do ano passado.
Para este ano, Leal não espera mais a antiga expansão de três dígitos. “A fase de hipercrescimento já passou”, afirma. A empresa não abre sua aposta de crescimento em números, mas em público: os compradores de vinhos pelas carteiras digitais -- e, de forma geral, pelos smartphones. Para Leal, nem varejistas online de vinhos e nem supermercados que apostam cada vez mais na bebida possuem protagonismo nas transações pelo mobile.
Os apreciadores de vinhos e de carteiras digitais têm o trunfo de gastarem mais do que os compradores por meios tradicionais. Os pedidos por carteiras digitais possuem um tíquete médio de 249,90 reais, contra o preço médio de 249,12 reais nos pedidos pelo desktop e o de 224,13 reais nas encomendas pelo site móvel da Evino.
As vendas de vinhos acima de 50 reais, que a empresa coloca na categoria premium, já haviam dobrado no ano passado. O plano é que elas ocupem cada vez mais espaço nas prateleiras virtuais da Evino, com a ajuda dos viciados em novas tecnologias, inclusive as que levam o vinho do online à mesa.