Vila Butantan: (Vila Butantan/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 2 de junho de 2017 às 06h00.
Última atualização em 2 de junho de 2017 às 15h22.
São Paulo – O bairro do Butantã, em São Paulo, possui há alguns meses uma nova proposta de cultura, gastronomia e estilo de vida. Inspirado em exemplos internacionais, o empreendimento Vila Butantan diz ter como objetivo “humanizar a cidade” e oferecer opções de lazer que vão além dos tradicionais shopping centers.
O projeto é capitaneado por duas figuras de peso: Luiz Galvão, ex-diretor do banco Bradesco, e Octavio Horta, que participou de redes gastronômicas como Ritz, América e Spot.
Oito meses após seu lançamento, a Vila Butantan já conta com mais de 60 estabelecimentos, entre food trucks e lojas, e recebe uma média de 50 mil visitantes por mês, a um ticket médio que vai de 30 a 50 reais. O empreendimento não cita números de faturamento, mas pretende duplicar seu número de visitantes até o fim deste ano.
Horta possui um grande histórico na área de empreendimentos de alimentação: ele está no ramo há 35 anos e foi sócio de diversos restaurantes. Há 10 anos, atua como consultor – e observou uma tendência que poderia originar um complexo não só gastronômico, mas também cultural e de estilo de vida.
“Estamos vendo um movimento quase mundial de ressignificação urbana. Há uma renovação dos locais da cidade, e isso precisa mesmo acontecer”, afirma.
“Antes, você ia para subúrbios buscando uma melhor qualidade de vida. Porém, foi um modelo que acabou não dando muito certo, por conta do grande tempo de deslocamento. Os jovens de hoje querem permanecer em São Paulo, mas procuram opções de lazer que não sejam só shopping: as cidades são a opção de vida de quase todo mundo, então temos de humanizá-las.”
A Vila Butantan é um investimento nessa ideia. Alguns projetos que inspiraram Horta foram o Box Park, de Londres, e o Restart, na Nova Zelândia. O empreendedor também citou as revitalizações dos bairros nova-iorquinos Bronx e Queens, além da repaginação que os shopping centers sofrem nos Estados Unidos – passando de templos comerciais a espaços de convivência.
Foi nesse momento, no ano de 2014, que a Odebrecht entrou em contato com o empreendedor e seu sócio. A ideia era revitalizar um espaço ao lado da empresa: onde até então existia apenas um espaço com food trucks, seria preciso criar um espaço interessante para o bairro e para os funcionários do local.
Porém, os desdobramentos da Operação Lava Jato fizeram com que a empresa não pudesse arcar com todo o investimento necessária. Então, Horta e Galvão buscaram investimento e tocaram o projeto com o apoio da Odebrecht, que cobra um valor abaixo da média do mercado pelo terreno.
A ideia era que a Vila Butantan ficasse ao lado do espaço com food trucks, em conjunto. Porém, o Butantan Food Park acabou fechando e a Vila acabou assumindo as duas partes do terreno – o parque de food trucks e o complexo de contêineres projetado por Horta e Galvão, chamado de “lifestyle center”.
A Vila Butantan foi inaugurada há oito meses, no fim de 2016. O projeto, de quatro mil metros quadrados, pediu um investimento de 12 milhões de reais.
Atualmente, o espaço de convivência a céu aberto possui 46 lojas em contêineres reciclados e com “tetos verdes”, além de 20 operações de food trucks.
Alguns empreendimentos são Amaro (roupas), Chilli Beans (óculos), Espaçolaser (depilação), MacOne (informática) e Puzzle Room (jogos de escape). Na parte de alimentação, há estabelecimentos como Los Mendozitos (vinho), Saj (comida árabe), The Bowl (lámen) e Vinil Burger (hambúrguer).
“É uma gastronomia com padrão alto, mas por valores acessíveis. Queríamos trazer algo de qualidade já percebida, mas por um preço bacana, melhor do que você veria em um restaurante de shopping center”, afirma Horta.
A Vila tem Wi-Fi gratuito, aceita a entrada de animais de estimação (um conceito chamado de “pet friendly”) e oferece aluguel de bicicletas – uma ciclovia passa na frente do complexo. O local também realiza eventos, como shows de música e outras apresentações culturais - inclusive voltadas ao público infantil.
Para estar na Vila, Horta conta que o perfil procurado é de um empreendedor ainda iniciante, mas com alguma experiência anterior em gestão. “Já tentamos receber empreendedor mais crus, mas não deu muito certo”, explica.
A negociação do valor a ser pago para estar na Vila Butantan varia de acordo com o negócio. É possível tanto cobrar um aluguel fixo quanto uma porcentagem em cima do faturamento obtido – ou, então, um misto das duas formas.
A média de aluguel mais condomínio é de oito mil reais, mas varia bastante de acordo com o empreendimento. Nos contêineres, as vendas funcionam em módulos 15 m²: é possível começar pequeno e ir expandindo aos poucos.
“Ressalto que é por volta de um terço do valor de uma loja tradicional. É um aluguel que eu acho competitivo no mercado, por ter fluxo e segurança garantidos”, defende. A Vila Butantan possui sua própria equipe de vigilância sanitária, que inspeciona os negócios instalados e dá advertências.
“Além disso, o tempo para abertura é bem menor. Em 20 dias, temos uma loja do tamanho do Vinil Burger pronta. Uma loja de shopping demoraria meses.”
O complexo atrai uma média de 50 mil visitantes por mês. Em dias de eventos, como foi o caso da atividade de Carnaval “Beatles para Crianças”, a Vila Butantan chegou a receber 8 mil visitantes no dia. O ticket médio vai de 30 a 50 reais.
São tendências que vão se instalando no público, especialmente entre 25 a 35 anos de idade. Hoje não há muitos locais diferentes para levar as crianças, e queríamos dar uma opção a mais. Uma loja da Prada, por exemplo, jamais caberia no nosso espaço aqui no Butantan.
A meta da Vila Butantan é chegar a 100 mil visitantes por mês. Para isso, irá atrair público para os dias menos frequentados, de segunda até quarta-feira, e o período menos frequentado, que é o noturno.
“Queremos o reconhecimento do local como um ponto de destino nesses dias, como já é na quinta, na sexta, no sábado e no domingo”, conta Horta. “Para isso, queremos incentivar mais os eventos: shows, stand ups de comédia e transmissões de partidas de futebol, por exemplo. Estamos sondado possíveis atividades.”
O empreendedor diz considerar expandir a proposta de “lifestyle center” para outros lugares, mas o projeto precisará ser personalizado para cada bairro e suas demandas.
“Se fizéssemos algo no bairro da Vila Olímpia, por exemplo, não seria a mesma coisa: restaurantes existem aos montes, e talvez seria algo mais puxado para a área cultural”, afirma.