Pokémon GO: as empresas responsáveis pelo jogo não são as únicas faturando com o novo aplicativo (Gabriel Rossi/STF/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 18 de agosto de 2016 às 10h21.
São Paulo – Lançado há duas semanas no Brasil, o jogo Pokémon GO já se tornou uma febre por aqui. É a repetição de uma tendência já vista em outros países: o jogo foi o app mais baixado de diversas regiões do globo durante um bom tempo, gerando mais engajamento entre usuários do que serviços de renome e bem estabelecidos no mercado, como o Twitter.
Diferentemente do que se poderia imaginar, as empresas responsáveis pelo jogo – a desenvolvedora Niantic e a publicadora Nintendo – não são as únicas faturando com o aplicativo.
Já vimos diversos casos de empreendedores dos Estados Unidos que usaram o aplicativo em seus negócios para faturar. Agora, é a vez dos brasileiros: o Pokémon GO virou uma solução tanto para impulsionar o crescimento de negócios já existentes quanto para criar novas empresas, diante do desemprego.
Confira, a seguir, algumas histórias de empreendedores que faturaram com o sucesso do Pokémon GO – e se inspire para usar o aplicativo no seu próprio empreendimento!
A Esalflores é uma floricultura tradicional de Curitiba. Seu dono, Bruno Esperança, trabalha no ramo há dez anos.
Ele notou que poderia usar o Pokémon GO para seu negócio quando percebeu que o aplicativo havia conquistado brasileiros de todas as idades. “Meu irmão e meu filho são fissurados no jogo, sendo que um tem 28 e o outro tem 6 anos de idade”, conta Esperança. “É uma ferramenta que movimenta todo mundo. Por isso, pensamos em como potencializar isso para nossa própria loja.”
O empreendedor diz que o segredo não é usar o Pokémon GO em si, e sim ficar de olho naquilo que interessa o seu consumidor. “Já vi muitas floriculturas fecharem porque continuam fazendo o mesmo. Nós estamos sempre atentos para transformar novidades em possíveis ações para nosso negócio.”
Aproveitando o jogo, a floricultura fez uma ação de marketing, divulgada no Facebook e no Instagram que durou quatro dias. Os clientes que fossem até a Esalflores e mostrassem que capturaram um Pokémon que remetesse à natureza ganhariam uma planta de graça: o brinde era uma flor-da-fortuna (kalanchoe, vista nas fotos acima) ou uma suculenta (uma espécie de cacto mais delicado).
A promoção aconteceu na semana de lançamento do Pokémon GO no Brasil. No primeiro dia, o negócio disponibilizou 20 plantas para troca – mas o estoque acabou rápido. Durante os quatro dias de oferta, mais de 100 adultos e crianças fizeram a troca de pokémon por plantas. “Ampliamos a quantidade porque vimos que é um investimento que retorna um dia”, conta Esperança.
O objetivo não era gerar vendas no curto prazo: afinal, o brinde era gratuito. “Nosso grande objetivo foi conquistar um potencial cliente. Ou seja, fazer com que ele lembre da nossa marca quando precisar dar um presente no dia dos namorados, quando for casar ou quando plantar algo em casa. O cliente entra em nossa loja e pode explorar o que oferecemos – teve gente que levou os filhos e aproveitou para passear pela floricultura.”
Ao todo, o custo da ação foi cerca de 130 reais. “Foi uma oportunidade de fazer uma ação de baixo custo. Em um outdoor, gastaríamos bem mais, por exemplo.”
Agora, a Esalflores espera que o Pokémon GO libere mais recursos voltados para empresas que queiram fazer ações de marketing vinculadas ao jogo. Quando houver mais informações, a floricultura irá estudar mais investimentos.
O motorista autônomo Aluir Frizzira tirou a inspiração para seu negócio de um exemplo americano: quando o Pokémon GO chegou aos Estados Unidos, ele viu um usuário do Facebook escrevendo que ofereceria passeios de carro apenas para capturar pokémon.
“Quando o jogo chegou ao Brasil, eu postei algo parecido. Foi mais uma brincadeira”, explica Frizzira. “Duas horas depois, já recebi ligações de pessoas pedindo mais detalhes do serviço.”
Frizzira explica como funciona seu serviço: por 35 reais a hora, o cliente percorre ruas de Belo Horizonte, dentro do carro do empreendedor, e pega os monstrinhos durante o passeio. Há internet 4G liberada dentro do veículo, além de água, balas e ar condicionado.
“Calculei o preço com base no que o carro gasta de gasolina e em quanto o aplicativo gasta da franquia de dados de internet, além de colocar uma certa margem de lucro. Neste começo, o preço é mais em conta para chamar mais clientes”, explica.
Quando o passageiro mora em um bairro onde não há tantos pokémon disponíveis, Frizzira sugere uma rota mais proveitosa. “Eu sugiro um roteiro para aproveitar o máximo de tempo possível: com locais interessantes, que tenham muitos ginásios e pokéstops. Claro que a pessoa também pode selecionar a rota que ela quiser.”
Além de ser motorista autônomo, Frizzira também trabalha formatando computadores. Ele conta que fez dez passeios específicos do Pokémon GO nas duas semanas.
“Nesta crise, do jeito que tudo está, esse serviço ajudou bastante nessa última semana. Tenho pretensão de expandir. Quero tentar atender regiões maiores, falando com outros motoristas e pegando uma porcentagem do passeio, além de incluir refrigerantes e comidas durante a viagem.”
O curitibano Rogério Oliveira já pensava em abrir um negócio que tivesse relação com o Pokémon GO antes mesmo de ele ser lançado no Brasil. Ele acompanhava blogs sobre tecnologia e realidade aumentada, enquanto seu filho via canais no YouTube que falavam sobre o jogo.
“Quando chegasse ao Brasil, eu já sabia que as crianças ficariam malucas com o jogo e que os pais ou não teriam jeito ou não teriam paciência para lidar com isso. Vi que havia um negócio no meio dessa relação”, conta.
Oliveira é designer e, desde maio, procura recolocação no mercado. Enquanto isso, faz projetos alternativos. Quando o Pokémon GO chegou ao Brasil, ele criou o empreendimento que tinha na cabeça: o Pokémon GO Tour Curitiba, que leva crianças para procurar os monstrinhos com a supervisão de um adulto que entende do assunto.
Na noite do lançamento, Oliveira levou seu filho e alguns amigos para fazer um teste do jogo e do tour. No dia seguinte, já colocou um anúncio no Facebook sobre o serviço. “Desde então, meu telefone não parou de tocar”, conta.
A partir do momento em que um adulto liga para contratar o serviço, Oliveira monta turmas de até quatro crianças com base nas regiões onde elas moram. O tour inclui pegar as crianças e deixá-las em casa após o passeio.
“As crianças demandam muita atenção, porque ficam distraídas com o jogo – por isso não faço turmas maiores. Durante o trajeto, já combino algumas regras para manter a segurança”, conta o empreendedor.
Ele busca as crianças, confere se seus celulares funcionam e estão carregados e vai até algum parque. “Curitiba é uma cidade com muitos parques, que costumam ter muitos ginásios e pokéstops. Nessa idade, eles querem mais pegar Pokémon do que batalhar em ginásios. Então, nós vamos andando e aproveitamos para recarregar pokébolas nos pokéstops”. Depois do passeio, Oliveira deixa as crianças em casa.
Ao todo, o tour dura até três horas e as crianças costumam pegar de 30 a 40 monstrinhos nesse tempo, diz o empreendedor.
No começo, a ideia era passar o dia inteiro – porém, o jogo consome muita bateria dos smartphones. Por isso, os tours foram divididos em três horários por dia: das 9h às 11h; das 13h às 15h; e das 14h às 16h (considerando que uma hora é necessária para buscar as crianças em casas e deixá-las depois do passeio).
O custo do tour é de 50 reais por criança. “Eu considerei o custo da gasolina e da responsabilidade de vigiar as crianças. Depois disso, fui testando diferentes valores – antes, cobrava mais caro. Eu comparo meu serviço com deixar a criança brincando meia hora em um playground no shopping. Os pais pagam mais caro pelo tempo gasto, não têm uma monitoria tão particular e a criança fica com outras 50”, defende.
A projeção do Pokémon GO é sinal de algo ainda maior: o potencial do geomarketing para as empresas. Isso nada mais é do que ter um entendimento de geografia combinada com marketing, aprendendo a oferecer o melhor produto e o melhor preço de acordo com o local onde o consumidor se encontra.
É o que explica Abimael Cereda Júnior, diretor da Imagem, uma empresa especializada em inteligência geográfica. “O geomarketing existe há algum tempo, mas voltou à moda com o Pokémon GO. A Niantic, por exemplo, ganha muito além do que se arrecada no próprio Pokémon GO: por meio da nuvem, ela pode avaliar padrões de consumo e de deslocamento com uma base de dados incrível, oferecendo informações para desenvolvimento de negócios mais adequados.”
O geomarketing era algo para grandes empresas, mas atualmente já pode ser usado nas pequenas e médias. “A principal estratégia é associar sua marca a um pokéstop próximo ou a áreas conhecidas por terem os monstrinhos mais raros. Depende do setor do negócio, mas pode ir desde trabalhar seu posicionamento com anúncios até oferecer produtos e serviços baseados no jogo”, exemplifica Cereda. O posicionamento foi usado pela Esalflores; já a criação de novos itens foi a opção a de Aluir Frizzira e do Pokémon GO Tour Curitiba.
“Olhar o mapa e tomar decisões com base nisso e agregar valor à minha marca: instintivamente, isso é geomarketing”, diz o especialista. “As empresas precisam olhar o modelo Pokémon GO e pensar: ‘como eu posso criar novas formas de interações com meus consumidores? Como isso pode trazer expansão e lucratividade para meu negócio?’. É um mundo de oportunidades.”