Luciana Reis, da Le Petit: empreendedora começou seu negócio cozinhando em casa (Le Petit/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 4 de junho de 2017 às 08h00.
Última atualização em 4 de junho de 2017 às 08h00.
São Paulo – Explorar suas paixões pode ser o começo de um negócio de sucesso. Foi assim com a empreendedora Luciana Reis: uma brincadeira na cozinha fez com que ela abrisse sua própria fábrica de sobremesas.
“Eu adoro reunir meus amigos e cozinhar para eles. Sempre fazia jantares, mas não sabia muito de sobremesas. Até que, em um desses jantares, peguei uma revista e lá tinha uma receita de petit gateau. Aprendi as instruções básicas, fiz algumas mudanças e servi a sobremesa. Recebi muitos elogios deles”, conta.
Assim foi o começo da Le Petit: uma marca de sobremesas cujo carro-chefe é o doce francês petit gateau, em 12 sabores diferentes: do sem glúten e do sem lactose ao de doce de leite e de goiabada.
Com 15 anos de empresa (dois deles informais, na cozinha de Reis), a marca cresceu e hoje já fabrica 16 mil sobremesas por dia – sendo 10 mil apenas petit gateaus.
Agora, a marca está focada em expandir as vendas para o varejo, suas unidades franqueadas e seus mercados internacionais – sendo Dubai o ponto de partida.
Os elogios dos amigos aos petit gateau de Reis se estenderam a outro dia, durante a ida a um bar da Zona Norte de São Paulo. Os colegas pediram petit gateaus e convenceram o dono do local de que o doce de Reis era melhor do que o servido.
“Então, fui convencida a começar a fornecer para o bar. Na época, eu conciliava o trabalho com a faculdade de Nutrição e meu emprego como vendedora em uma loja de shopping.”
Muitos que provavam o petit gateau pediam o contato de Reis. Assim, ela passou a fornecer para outros dois restaurantes do bairro. Também passou a ser estagiária em um hospital.
O ponto de virada aconteceu cerca de dois anos de vida “informal” da Le Petit: uma conhecida apresentou Reis a Arri Coser, empresário da Fogo De Chão.
“Ele provou o petit gateau, gostou e queria que eu fornecesse para a churrascaria dele. Esse foi o momento em que eu vi a necessidade de formalizar minha empresa”, conta Reis. Na época, ela tinha 22 anos de idade.
A Le Petit começou formalmente no ano de 2004 e teve como primeiro cliente formal a Fogo De Chão. Então, Reis decidiu atacar outras churrascarias: afinal, já sabia que seu produto tinha boa aceitação e que esse tipo de restaurante pedia bons volumes de compra.
“Fui batendo de porta em porta e cheguei à Associação de Churrascarias do Estado de São Paulo. Apresentei meu produto em uma reunião deles e aí realmente ganhamos corpo. A partir do networking, chegamos a frigoríficos como a Marfrig”, conta a empreendedora.
Reis fechou uma proposta de distribuição com a gigante: a Marfrig aproveitaria sua logística e distribuiria não só suas carnes nos bares, hotéis e restaurante para os quais fornecia, mas também as sobremesas da Le Petit – um tipo de serviço conhecido como “food service”.
Depois, a empreendedora também lançou uma linha de sobremesas usando a marca própria da Marfrig. “Eles toparam a ideia, desde que toda a criação da linha ficasse comigo, já que eles tinham o foco em carnes. Vendíamos essa linha tanto no varejo quanto no food service.”
Segundo Reis, o maior diferencial da Le Petit é levar um produto caseiro, artesanal em essência de receita, para uma escala industrial.
“Temos produtos naturais, sem conservantes, e os processos que garantem o sabor e a textura da sobremesa continuam manuais. Por exemplo, untar nossas formas com manteiga, triturar bolachas no lugar de comprar uma massa pronta e embalar individualmente, sentindo como está a maciez do petit gateau na hora”, conta a empreendedora.
As vendas funcionam por três principais canais. Primeiro, vendedores presenciais e de telemarketing contatam donos de bares, hotéis e restaurantes para experimentarem o service de food service da Le Petit. São compras recorrentes, semanais ou mensais, entregues a esses estabelecimentos, que vendem as sobremesas nos seus respectivos cardápios. Por exemplo, a churrascaria Barbacoa e o restaurante contemporâneo Josephine.
A Le Petit também atende médios e grandes varejos, como supermercados, vendendo suas sobremesas congeladas. Ao todo, são 13 pontos de venda em locais como Carrefour, Sonda, St. Marche e Walmart. O ticket médio gira em torno de 30 reais.
Por fim, a empresa também faz o serviço de marca própria para grandes empresas: ou seja, faz sobremesas com a marca de outro negócio, como ocorreu com a Marfrig anteriormente. Um exemplo é a marca Qualità, do Pão de Açúcar.
Além do petit gateau, carro-chefe da empresa, a Le Petit também faz brownies e tortas. Por dia, a Le Petit fabrica 10 mil petit gateaus e 6 mil outros doces, em apenas um turno de trabalho.
A expectativa para o futuro é triplicar a produção, chegando a 30 mil petit gateaus e estendendo o funcionamento da fábrica para três turnos.
A Le Petit enfrentou um grande desafio no ano de 2014: começou seu processo de franqueamento de quiosques especializados em petit gateaus. “Nós abrimos duas lojas próprias para teste e recebemos diversos pedidos para franquar”, conta Reis.
A marca franqueada chegou a ter 14 unidades. Hoje, possui nove. “Todo crescimento rápido é atribulado e, uma hora, tivemos de dar passos para trás. Tivemos de dar uma reformulada na Le Petit Express, diferente da Le Petit, que cresceu aos poucos.”
A marca reduziu o número de unidades, fez um novo estudo de viabilidade com dados da crise econômica atual e, agora, está finalizando a formatação de seu novo modelo de gestão das unidades franqueadas.
“Não tínhamos experiência com franquia, que é um ramo muito específico. Resolvemos parar, consertar a casa e fazer o negócio bem feito. Colocaremos também brownies e tortas, pois vimos que o monoproduto não seria o caminho ideal, por exemplo.”
Outro desafio é o de internacionalizar a marca. Também há três anos atrás, a Le Petit começou a participar de feiras de food service pelo mundo, testando a aprovação do produto e participantes de palestras sobre exportação
“Em termos de número de redes com que trabalhamos, já estamos saturados no Brasil. Queremos aumentar a quantidade vendida nelas e focar em novos mercados”, afirma Reis.
Neste ano, a Le Petit contratou uma trading especializa em exportar alimentos congelados. Foi aí que o plano funcionou de vez. “É um assunto difícil, porque você precisa entender a cultura e a legislação de cada país - mais complicado porque meu produto é delicado, feito com leite.”
A expectativa da empresa é chegar a 40 unidades da Le Petit Express até o final de 2018.
Recentemente, a Le Petit fechou um acordo com uma rede de cafeterias de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. No mês passado, as sobremesas da marca passaram a ser vendidas em 25 cafeterias da rede parceira. Nesta semana, a Le Petit também enviou sua primeira leva de produtos para testes com clientes no México.
O próximo alvo de expansão internacional da Le Petit são os Estados Unidos. “Temos a missão de entender como o mercado de food service funciona lá. Queremos ter uma equipe Le Petit para atuar localmente”, diz Reis. Negociações também estão em andamento no Japão.
“O petit gateau é um produto mundial e, agora percebemos, internacional. É um produto único, sem sazonalidade: possui apelo no verão, por conta do sorvete, e possui apelo no inverno, pelo fato de o bolinho ser quente. Enxergamos um enorme potencial.”
Le Petit Express
Investimento inicial: 95 a 100 mil reais
Prazo de retorno: 18 meses